COMENTÁRIO

Deiscência de cúpula vaginal, uma complicação da histerectomia

Dra. Maria Gabriela Baumgarten Kuster Uyeda

Notificação

22 de julho de 2022

A histerectomia é uma das cirurgias mais realizadas no mundo. São mais de 5 mil histerectomias por ano somente nos Estados Unidos. Setenta e quatro por cento são por doenças benignas.

São várias as indicações de histerectomia, sendo as mais comuns: leiomiomas, sangramento uterino anormal, prolapso uterino, dor pélvica (endometriose, adenomiose), doença maligna ou pré-maligna.

As principais complicações registradas em um estudo populacional australiano de quase 80 mil histerectomias (por indicações benignas) foram as seguintes: hemorragia - 2,4%, distúrbios geniturinários (p. ex., lesão renal ou ureteral) - 1,9%, infecção do trato urinário - 1,6% e outras infecções (incluindo deiscência) - 1,6%.

Por ser pouco documentada, a deiscência é uma complicação que pode ser subestimada. Os três maiores estudos revelam baixa incidência de casos após a histerectomia, variando 0,19 a 0,31%.

Embora alguns casos de deiscência do manguito vaginal ocorram espontaneamente, os fatores de risco de deiscência, que parecem ser fatores independentes, são: tática cirúrgica (robótica > laparoscópica > abdominal > vaginal), tabagismo e baixo índice de massa corporal.

Também existem alguns fatores de risco propostos que ainda não foram comprovados, como: infecção, fatores que causam má cicatrização (radioterapia pélvica, hematoma, desnutrição, anemia, diabetes, imunodepressão, doenças do tecido conjuntivo), pressão excessiva no local da sutura vaginal (relação sexual vaginal, condições que aumentam a pressão intra-abdominal [p. ex., constipação e tosse crônicas]).

Por outro lado, alguns elementos NÃO são fatores de risco, mas muitos cirurgiões não sabem: eletrocirurgia e uso de diferentes fontes de energia versus colpotomia com bisturi frio ou tesoura, diferentes materiais de sutura, fechamento de manguito vaginal em uma versus duas camadas ou uso da técnica de fechamento contínuo versus suturas interrompidas para fechamento do manguito.

Todos avaliados como fatores de risco de deiscência sem resultados conclusivos, mas a maioria dos estudos é retrospectivo e de baixa qualidade.

Os sintomas mais comuns associados à deiscência vaginal são dor pélvica ou abdominal (60% a 100%), sangramento vaginal (23,5% a 90%), secreção vaginal ou jorro de líquido (55%), e pressão/sensação de massa vaginal (30%).

As pacientes podem apresentar deiscência da cúpula de três dias até 30 anos após a cirurgia. Em pacientes na pré-menopausa, a deiscência tende a ocorrer precocemente no pós-operatório (dois dias a cinco meses). Em pacientes na pós-menopausa, a ruptura do manguito vaginal pode ocorrer meses a anos após a cirurgia. O diagnóstico é baseado na anamnese e no exame físico.

O manejo dos casos varia de acordo com a existência ou não de evisceração, mas todas as pacientes devem receber antibioticoterapia combinada de amplo espectro por 24 horas, pois a deiscência expõe a cavidade peritoneal a bactérias vaginais, com risco de peritonite e sepse.

Caso a deiscência não apresente evisceração, o manejo poderá ser cirúrgico ou expectante, caso a deiscência seja pequena (isto é, < 1 cm de separação).

No caso de evisceração torna-se uma emergência cirúrgica. O intestino deve ser avaliado antes de devolução para cavidade abdominal (ressecção ou reparo intestinal, se necessário, daí executa-se via abdominal).

Para o fechamento cirúrgico, o ideal é proceder com uma técnica minimamente invasiva (laparoscópica ou vaginal), preferencialmente por via vaginal.

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