Nota da editora: A série Casos Clínicos aborda doenças difíceis de diagnosticar, algumas das quais não são vistas com frequência pela maioria dos médicos, mas é importante poder reconhecer com precisão. Teste a sua capacidade diagnóstica e terapêutica com o caso deste paciente e as perguntas correspondentes.
Contexto
Um homem de 78 anos de idade é levado ao serviço de emergência pela sua família por incapacidade de falar ou engolir de início súbito. Três anos antes, o paciente teve um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico frontal esquerdo com hemiparesia direita e afasia motora, do qual havia se recuperado inteiramente.
A história clínica também revela infarto cerebelar esquerdo, infartos lacunares assintomáticos, hipertensão arterial sistêmica em estágio 3, fibrilação atrial, miocardiopatia isquêmica e dislipidemia. Atualmente, ele está em uso de ácido acetilsalicílico, ramipril, indapamida, dinitrato de isossorbida, digoxina e rosuvastatina. Nega tabagismo, uso de bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas.
Exame físico e propedêutica
Ao exame, o paciente apresenta temperatura corporal de 36,7 °C; pressão arterial de 170 × 87 mmHg; e pulso irregular com 92 batimentos por minuto (bpm). Ausculta pulmonar e exame do abdome inocentes.
O exame neurológico revela marcha ampla com pequenos passos, ataxia leve dos membros esquerdos, hiperreflexia à direita e sinal de Babinski à direita. Sensibilidade sem nada digno de nota. Na avaliação dos pares cranianos, apresenta perda bilateral de movimento voluntário dos músculos inervados pelos pares cranianos V, VII, IX, X e XII
O paciente está anártrico, incapaz de abrir a boca ou sorrir voluntariamente; consegue mover minimamente a língua, mas não faz protrusão. Sua boca está ligeiramente aberta. Apresenta sialorreia e disfagia importante. O reflexo massetérico está aumentado e o reflexo faríngeo, abolido. Os movimentos automáticos da face estão preservados. O paciente consegue abrir a boca e retrair a língua quando boceja. Os pares cranianos de I a IV e VI estão normais. O gosto, o reflexo córneo e os músculos trapézio e esternoclidomastóideo não têm nada digno de nota.
O paciente se comunica por escrito, com gramática preservada, e compreende a linguagem falada e escrita. Ele está emocionalmente composto, sem riso ou choro involuntários.
Os resultados dos exames laboratoriais, com hemograma completo; velocidade de hemossedimentação; provas de função hepática, renal e tireoidiana; e lipidograma, estão todos normais.
O eletrocardiograma revela fibrilação atrial, com frequência cardíaca de 96 bpm e alterações crônicas de miocardiopatia isquêmica. A ressonância magnética do crânio apresenta múltiplos infartos bilaterais nos lobos frontal, parietal e occipital, e atrofia cerebelar e cortical (Figuras 1 a 3).
Figura 1.
Figura 2.
Figura 3.
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Citar este artigo: Sialorreia e disfagia em um homem que não consegue falar - Medscape - 18 de julho de 2022.
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