Seria possível detectar o câncer de pulmão com um 'bafômetro'?

Walter Alexander

Notificação

30 de junho de 2022

Um estudo publicado em maio no periódico The Lancet eClinicalMedicine relata que a análise de ar expirado (como é feito por “bafômetros”) está cada vez mais próxima de se tornar uma ferramenta de rastreamento de câncer de pulmão.

A ferramenta foi utilizada com sucesso para identificar, em 84 pacientes, 16 compostos orgânicos voláteis (COVs) cancerígenos relacionados ao câncer de pulmão, tais como aldeídos, hidrocarbonetos, cetonas, ácidos carboxílicos e furanos, sendo que alguns deles são utilizados na produção de itens domésticos comuns, como móveis, carpetes e pisos de madeira.

"Espera-se que o teste seja primeiramente destinado ao rastreamento primário do câncer de pulmão, não ao diagnóstico definitivo", segundo autores do estudo, liderados pelo médico Dr. Peiyu Wang, Ph.D., professor catedrático de medicina social e saúde da Universidade de Pequim, na China.

Embora o diagnóstico e o tratamento precoces sejam fundamentais para aumentar a sobrevida no câncer de pulmão, a detecção oportuna da doença é desafiadora devido à ausência de manifestações clínicas e biomarcadores específicos. Fazer o rastreamento com tomografias anuais é caro e leva à exposição à radiação, escreveram o Dr. Peiyu e colaboradores.

A análise de ar expirado é considerada um método promissor para detecção e rastreamento de câncer de pulmão. Ela está em estudo há vários anos e, em 2014, pesquisadores belgas publicaram uma revisão no periódico Cancer Epidemiology Biomarkers and Prevention documentando o uso de COVs como biomarcadores precoces diagnósticos ou prognósticos para o mesotelioma.

Os biomarcadores respiratórios para o câncer de pulmão identificados em vários estudos foram altamente heterogêneos devido aos diferentes métodos de coleta de amostras, condições dos pacientes, ambientes de testagem e métodos de análise. Dessa forma, atualmente não existe um teste de análise de ar expirado para o rastreamento de câncer de pulmão, disse o Dr. Peiyu em uma entrevista.

Em termos do seu potencial como uma ferramenta de rastreamento do câncer de pulmão, "os médicos poderiam realizar esse teste em pessoas com alto risco de câncer de pulmão, como idosos fumantes ou pessoas com sinais e sintomas suspeitos. Ele também poderia ser realizado em populações jovens com necessidades subjetivas ou objetivas de rastreamento do câncer de pulmão. Como a proporção de adenocarcinoma pulmonar em mulheres jovens não fumantes está aumentando, o teste poderia ser um bom método para o rastreamento do câncer de pulmão nessa população", disse o Dr. Peiyu.

Após o ajuste por idade, sexo, tabagismo e comorbidades, os pesquisadores encontraram níveis elevados de 16 COVs em pacientes com câncer de pulmão. Um modelo diagnóstico incluindo os 16 COVs apresentou área sob a curva de 0,952, sensibilidade de 89,2%, especificidade de 89,1% e precisão de 89,1% no diagnóstico de câncer de pulmão. Um modelo que incluiu os oito principais COVs apresentou área sob a curva de 0,931, sensibilidade de 86,0%, especificidade de 87,2% e precisão de 86,9%.

Após selecionar 28 COVs por meio de uma revisão da literatura, o Dr. Peiyu e colaboradores realizaram um estudo prospectivo de 1.º de setembro a 31 de dezembro de 2020, utilizando espectrometria de massa por tempo de voo de ionização de fótons de alta pressão para avaliar o desempenho dessas substâncias no diagnóstico de câncer de pulmão. O estudo de validação interna incluiu 157 pacientes com câncer de pulmão (média de idade de 57,0 anos, 54,1% mulheres) e 368 voluntários (média de idade de 44,5 anos, 31,3% mulheres).

"A validação externa confirmou o bom desempenho desses biomarcadores na detecção de câncer de pulmão", afirmaram os pesquisadores. Eles acrescentaram que isso ajudou a resolver a heterogeneidade entre os estudos publicados, estabelecendo tanto o conjunto de 16 COVs quanto o de 8 COVs para o rastreamento de câncer de pulmão.

Os autores afirmaram que existe uma grande lacuna entre a pesquisa sobre a análise de ar expirado e as práticas clínicas na detecção e rastreamento do câncer de pulmão. Embora os 16 COVs validados, principalmente aldeídos e hidrocarbonetos, tenham mostrado potencial para o uso em uma estratégia de rastreamento do câncer de pulmão, são necessários mais estudos científicos para analisar os mecanismos subjacentes dos COVs identificados no câncer de pulmão.

O Dr. Peiyu Wang informou não ter conflitos de interesses.

Este conteúdo foi originalmente publicado em MDedge.com — Medscape Professional Network.

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