A abertura de pontos cirúrgicos (deiscência) e o surgimento de fístulas estão entre as intercorrências que mais preocupam as equipes de saúde durante o pós-operatório. Até recentemente, a técnica mais usada para limpar essas feridas na parede do trato gastrointestinal era a terapia endoscópica a vácuo. Criada por um grupo de endoscopistas na Alemanha, a técnica envolve a colocação, por endoscopia, de esponjas de poliuretano ligadas a um tubo para sucção perto das feridas, e várias sessões endoscópicas para trocá-las.
Há cerca de um ano, essa técnica foi adaptada por um grupo de especialistas afiliados ao Serviço de Endoscopia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. “A partir de uma sugestão do Dr. Marcelo Simas de Lima, a terapia endoscópica a vácuo passou por algumas modificações, como a dispensação da esponja. Isso foi atingido com o uso de um dreno duplo (um tubo dentro de outro tubo), permitindo que o vácuo fosse deixado por mais tempo sem necessidade de troca – e trouxe um grande ganho”, disse ao Medscape o Dr. Fauze Maluf-Filho, que coordena uma das equipes do serviço de endoscopia e trabalhou com o Dr. Simas na implementação da nova técnica.
“Somando as nossas casuísticas, hoje contamos cerca de 100 casos. Tivemos excelentes resultados, principalmente em casos graves que precisariam ser reoperados.”
Na terapia endoscópica a vácuo convencional, o especialista insere, por endoscopia, um dreno no tubo digestivo para remover a coleção que se formou no local ou na cavidade abdominal em função da deiscência.
“O dreno é ligado a uma bomba de aspiração contínua de alta pressão que ajuda na cicatrização e no combate à infecção”, explicou o Dr. Fauze. “O líquido secretado pela ferida enche a esponja, que precisa ser trocada de tempos em tempos”, descreveu o especialista. “Na verdade, é tudo muito parecido com a endoscopia diagnóstica. Você faz o diagnóstico de onde está o ponto de não cicatrização e posiciona o tubo com o auxílio do fio guia, e radioscopia para fazer a aspiração contínua desse lugar que não cicatrizou direito.”
Em abril, o grupo publicou na revista científica Endoscopy o estudo “Tube-in-tube endoscopic vacuum therapy for the closure of upper gastrointestinal fistulas, leaks, and perforations”. [1] O trabalho observacional e retrospectivo avaliou dados de 30 pacientes consecutivos. “Os resultados foram muito promissores. Tivemos sucesso em 80% a 85% dos casos, e mais rapidamente, ao cabo de, em média, três semanas. A terapia endoscópica a vácuo convencional demora entre seis e oito semanas, com sucesso em cerca de 40% a 50% dos casos. Além disso, o procedimento a vácuo tem sido muito eficiente para evitar reoperações”, afirmou o especialista.
A taxa de complicações na anastomose varia bastante. “Em pacientes com doenças agudas graves, certamente pode chegar a 15% dos casos. Mas entre aqueles que não estão em situação tão grave, os problemas ficam em torno de 1% a 2%”, disse o médico. Segundo o Dr. Fauze, seria razoável estimar que 5% das cirurgias apresentem deiscências de anastomose. O volume dessas intervenções é ainda mais significativo, porque inclui as intervenções para tratamento do câncer e as cirurgias bariátricas, cada vez mais numerosas. “A técnica a vácuo tem sido empregada com resultados muito bons nas cirurgias de pacientes com obesidade”, assegurou o especialista.
Na BP, onde o procedimento revisto foi estudado e testado, a adesão à terapia endoscópica a vácuo adaptada é cada vez maior. “Posso dizer que a adaptação que sugerimos já é um novo padrão utilizado por muitos grupos mundo afora. Os cirurgiões viram a utilidade e são os nossos grandes incentivadores. Quando percebem que uma anastomose não está cicatrizando bem, somos logo chamados para realizar a terapia a vácuo nos pacientes”, disse o Dr. Fauze.
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Citar este artigo: Adaptação de terapia a vácuo acelera recuperação de deiscência e fístulas - Medscape - 30 de junho de 2022.
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