O crenezumabe, fármaco experimental destinado a prevenir ou retardar a doença de Alzheimer, pode não trazer benefício cognitivo para os pacientes com alto risco genético, sugere nova pesquisa.
Os resultados de topo de linha um ensaio clínico de fase 2 mostraram que o novo fármaco, um anticorpo monoclonal criado para neutralizar oligômeros neurotóxicos (uma forma de beta-amiloide), não foi estatisticamente superior ao placebo em termos de capacidade cognitiva ou função de memória episódica entre pessoas sem alterações cognitivas com a mutação genética para início precoce da doença de Alzheimer.
Os resultados negativos foram anunciados no dia 16 de junho pela Genentech junto com o Banner Alzheimer's Institute nos Estados Unidos.
Durante uma coletiva de imprensa, representantes da empresa e pesquisadores manifestaram decepção com os resultados iniciais, mas ressaltaram que várias análises ainda não foram concluídas.
"Este é o início da história, mas de forma alguma o seu fim", disse o médico Dr. Pierre N. Tariot, diretor do Banner Alzheimer's Institute e um dos líderes do estudo, na coletiva.
Ensaio clínico API ADAD
O ensaio clínico de fase 2, prospectivo, duplo-cego e com grupos paralelos da Alzheimer's Prevention Initiative (API) Autosomal Dominant Alzheimer's Disease (ADAD), recrutou 252 membros da maior família ampliada do mundo com doença de Alzheimer autossômica dominante na Colômbia. No total, 94% dos participantes concluíram o estudo.
Dois terços dos participantes eram portadores da mutação E280A da presenilina 1 (PSEN1), que praticamente garante que seus portadores terão Alzheimer com uma média de idade de 44 anos e demência com uma média de idade de 49 anos.
Os participantes do estudo foram randomizados para receber crenezumabe ou placebo durante um período de cinco a oito anos. A dose de crenezumabe foi aumentada em diferentes momentos durante o ensaio, à medida que o conhecimento sobre possíveis estratégias terapêuticas para tratar a doença de Alzheimer evoluía.
O Dr. Pierre observou que a dose máxima não foi administrada durante todo o período de tratamento. "As pessoas que ficaram mais tempo receberam a dose mais alta por cerca de dois anos", acrescentou o médico.
Os outros desfechos primários foram a incidência de modificação da capacidade cognitiva, medida pela pontuação cognitiva composta API-ADAD, ou da função da memória episódica, medida pelo Free and Cued Selective Reminding Test Cueing Index.
Os resultados mostraram que esses desfechos não foram estatisticamente significativos para aqueles que receberam o medicamento.
Além de uma série de medidas cognitivas, os pesquisadores também avaliaram a amiloide por tomografia computadorizada por emissão de pósitrons (PET, sigla do inglês positron-emission tomography) e, mais tarde, PET da proteína tau. Também foram examinados os resultados da ressonância magnética e do liquor.
Os pesquisadores encontraram pequenas diferenças numéricas favoráveis ao crenezumabe nos diferentes desfechos primários e múltiplos desfechos secundários e exploratórios, mas essas diferenças também não foram estatisticamente significativas.
Por fim, não foram identificados novos problemas de segurança com o crenezumabe durante o estudo.
Outras análises dos dados estão em andamento e os resultados adicionais do biomarcador liquórico e dos exames de imagem do cérebro serão apresentados na Alzheimer's Association International Conference (AAIC), que ocorrerá em 02 de agosto.
Embora o estudo não tenha sido positivo, demonstrou que os ensaios clínicos de prevenção são possíveis, mesmo em circunstâncias aquém do ideal, e gerou um grande número de dados úteis, observaram os pesquisadores.
"Houve algumas diferenças entre os pacientes tratados e não tratados, e ainda precisamos entender quais pacientes tinham mais probabilidade de apresentar essas diferenças", disse aos participantes da coletiva de imprensa a médica Dra. Rachelle Doody, Ph.D., chefe global de neurodegeneração na Roche e na Genentech.
"Precisamos entender os biomarcadores envolvidos e o que nos dizem sobre a doença e sobre o momento da intervenção", disse a Dra. Rachelle.
A prevenção "precisa ser uma de nossas abordagens terapêuticas direcionadas, mas provavelmente não a única", acrescentou.
Para além da amiloide?
Comentando os resultados negativos, o médico Dr. Howard Fillit, cofundador e diretor de ciência da Alzheimer's Drug Discovery Foundation, disse que o estudo demonstrou a necessidade ir além da amiloide e mais ainda na fisiologia do envelhecimento.
"Esta abordagem mais ampla, junto com os avanços de novos biomarcadores, está nos aproximando mais do dia em que os médicos conseguirão se concentrar nas principais causas da doença de Alzheimer de cada paciente e adaptar combinações de tratamentos farmacológicos, exercendo assim uma medicina de precisão", disse o Dr. Howard, que não participou da pesquisa.
A Genentech também está avaliando o potencial do gantenerumabe para a ADAD e para a prevenção de doença de Alzheimer esporádica e o tratamento da doença de Alzheimer precoce em ensaios clínicos já nos últimos estágios. Os resultados dos ensaios clínicos de fase 3 GRADUATE com o gantenerumabe para tratar a doença de Alzheimer na fase inicial são esperados até o final do ano.
O estudo foi apoiado pelo National Institute on Aging, contribuições para Banner Alzheimer's Foundation e Genentech.
Alzheimer's Association International Conference (AAIC) 2022. A ser apresentado em 02 de agosto de 2022.
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Citar este artigo: Alzheimer: fármaco experimental apresenta resultados decepcionantes - Medscape - 24 de junho de 2022.
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