COMENTÁRIO

Teleconsulta da enfermagem: o que mudou desde a regulamentação em 2020?

Nélio Borrozzino

23 de junho de 2022

Colaboração Editorial

Medscape &

Em 2020, frente ao cenário provocado pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) publicou a Resolução COFEN nº 0634/2020, que autoriza e normatiza a teleconsulta de enfermagem como um instrumento para fortalecer o combate à pandemia. Passados dois anos, o presente texto busca discutir os benefícios do atendimento de enfermagem a distância nesse período, bem como os impactos dessa abordagem em um futuro próximo.

A pandemia do novo coronavírus exigiu uma série de adaptações às pessoas e instituições no mundo inteiro. Os profissionais de saúde foram diretamente impactados por todas essas mudanças – os enfermeiros, especificamente, tiveram e continuam tendo um papel fundamental no cenário da saúde brasileira e, frente a um desastre biológico, precisaram também se adaptar para entregar saúde aos pacientes de diferentes maneiras.

Nesse contexto, os enfermeiros desempenham, na atenção primária à saúde, a função de:

  • identificar casos suspeitos de covid-19, incluindo a necessidade de isolamento social, restrição domiciliar e distanciamento social;

  • orientar e prescrever cuidados domiciliares;

  • acompanhar sinais e sintomas e identificar sua gravidade; e

  • integrar o trabalho da equipe multidisciplinar de saúde, entre outras funções.

Com o avanço das medidas restritivas, assim como muitos profissionais, uma parcela dos enfermeiros migrou para o trabalho remoto, a fim de continuar a auxiliar o sistema de saúde enquanto buscavam controlar a pandemia. Em um cenário onde os casos começaram a se tornar estáveis, a profissão também percebeu que a modalidade poderia traspassar o período da pandemia para perpetuar um atendimento de saúde mais amplo, não necessariamente estando apenas fisicamente com o paciente, mas utilizando as metodologias do trabalho remoto para trazer saúde à população.

Muito embora o COFEN tenha publicado essa regulamentação em 2020, os enfermeiros já realizavam atendimentos remotos – via telefone, principalmente – antes da pandemia. A tele-enfermagem, assim chamada pelos profissionais, já não é estranha desde meados dos anos 2000: em programas do Ministério da Saúde para análises populacionais, além de realizarem a coleta de dados populacionais, enfermeiros instruem os pacientes e dão sugestões de mudanças de hábitos para uma vida mais saudável. Além disso, também contribuem para que os pacientes tenham mais conhecimento sobre a própria condição de saúde, refletindo em canais de dúvidas e explicações técnicas sobre a dicotomia da saúde e doença.

Diferentemente da consulta médica, a consulta de enfermagem não foca em diagnosticar e tratar enfermidades, mas em visualizar as condições de cuidado para que o paciente tenha uma vida mais estável. Assim, o enfermeiro continua a utilizar a metodologia presencial por meio do atendimento remoto, realizando diagnósticos situacionais de enfermagem a respeito do paciente, planejando os resultados de suas ações e as intervenções necessárias para que o resultado proposto seja atingido.

Nesse processo de cuidado, é importante que, além da tecnologia para realizar o atendimento (por vídeo, telefone, etc.), o profissional possua um sistema para registro das informações de saúde do paciente. Aqui, deve-se ter um cuidado especial, pois essas informações são consideradas dados sensíveis e, segundo a legislação vigente (como a Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD), precisam estar em um sistema que garanta a segurança da informação sobre seu acesso, compartilhamento e armazenamento.

A constante evolução dos computadores, smartphones, redes sociais, aplicativos e da internet de forma geral, tornou as barreiras que coibiam a execução de atendimento em saúde a distância mais amenas. Desse modo, a prática da teleconsulta, tanto em enfermagem quanto em medicina, já não causa estranheza para os pacientes, que vêm aderindo às novas práticas, mesmo que agora vivam um contexto diferente da fase aguda da pandemia.

A tecnologia tem facilitado a prática profissional de enfermagem no Brasil, porém, em relação ao processo de comunicação interpessoal, podem existir barreiras que já não são o acesso por meio da tecnologia, e sim a falta de sinais de comunicação verbais e não verbais que só são possíveis em consultas presenciais. Há, nesse ponto, a necessidade de os profissionais ampliarem seus conhecimentos sobre formas efetivas de se comunicar e compreender sinais que o paciente apresenta, mesmo que a distância.

Além disso, é necessário que sejam realizados novos estudos científicos para uma análise mais aprofundada sobre o tema, visto que, nos últimos três anos, houve um avanço incomparável com as últimas décadas do atendimento de enfermagem por teleconsulta. A consulta de enfermagem nessa metodologia de atendimento não é novidade para os profissionais, entretanto, com a pandemia, houve um importante avanço de documentações, ferramentas e regulamentações no setor, tornando-a ainda mais aparente e coerente à sociedade.

Nélio Borrozzino é enfermeiro, mestre em gerontologia social pela PUC-SP e Clinical Product Manager da Prontmed.

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