COMENTÁRIO

Obesidade e gordofobia: conscientização e combate

Dr. Fabiano M. Serfaty

Notificação

15 de junho de 2022

O que é gordofobia?

A Academia Brasileira de Letras define a palavra gordofobia como: "Repúdio ou aversão preconceituosa a pessoas gordas, que ocorre nas esferas afetiva, social e profissional".

“A gordofobia é um neologismo criado para indicar o preconceito de pessoas que julgam o excesso de peso e a obesidade como um fator que mereça seu desprezo”, explica no site da ABL o Dr. Fábio Viegas, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Esta forma de preconceito traz muitas consequências negativas e sofrimento para as pessoas com obesidade e sobrepeso.

Por que existe gordofobia e quais são as possíveis origens deste tipo de preconceito no Brasil?

A obesidade, uma doença inflamatória crônica e multifatorial, é a principal epidemia global [não contagiosa] em vigor nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. As causas para a existência da gordofobia também são multifatoriais.

O Brasil é um país grande, de dimensões continentais, que tem muitas peculiaridades tanto positivas como negativas no contexto da obesidade.

Na maior parte do país, o clima é quente durante todo o ano, e a cultura de praia no Brasil tem como importante característica o culto à beleza e ao corpo. Estes fatores favorecem atitudes preconceituosas em relação a pessoas que não "se encaixam" no padrão estético local e contribuem para a gordofobia.

Obesidade e a gordofobia no Brasil

A luta contra a obesidade vem sendo prioritária para o governo federal, assim como por todas as esferas do poder no Brasil. E, de fato, o país superou rapidamente os outros países e está sendo pioneiro neste aspecto.

O combate à gordofobia, que vem sendo extensamente abordado pela mídia e é prevalente nas redes sociais, também precisa envolver toda a sociedade, e as políticas públicas são fundamentais para isso.

Em 04 de março, Dia Mundial da Obesidade, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) publicaram em conjunto o documento “Obesidade e a Gordofobia – Percepções 2022” com a campanha "Conhecimento, cuidado e respeito", que teve como objetivo auxiliar no combate à gordofobia em todos os sistemas de saúde brasileiros, tanto público quanto privado, tornando pública a importância de tratar a obesidade sem estigmatizar o paciente.

Hoje, o Brasil é pioneiro em relação às políticas públicas de combate à obesidade, que é uma doença crônica endêmica em países ricos e pobres. Recentemente, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) lançou o "Programa Saúde com Agente", que, segundo o site do Ministério, é “o maior programa de formação técnica na área da saúde no formato hibrido (metodologia na qual estudantes vivenciam o processo de aprendizagem por meio das modalidades presencial e a distância, de forma integrada) do País”.

Trata-se do maior projeto de treinamento em larga escala e capacitação de agentes de saúde comunitária para abordagem de pacientes com doenças crônicas, como a obesidade, antes que as complicações da doença se estabeleçam. Este projeto tem o objetivo de prevenir e tratar as endemias vigentes e futuras e foi elaborado e iniciado pela Dra. Mayra Pinheiro e hoje está sendo coordenado pelo Dr. Hélio Angotti Neto.

Os agentes de saúde comunitária vão a todos os lugares do país, onde muitos médicos e enfermeiros não conseguem chegar, auxiliando a população através de orientações e informações, como medidas simples como peso, altura, pressão arterial, cintura abdominal e glicose no sangue capilar, que podem ser o primeiro passo para melhorar a saúde.

No final de 2021, o Ministério da Saúde também lançou o primeiro Guia de Atividade Física para a População Brasileira. A publicação encoraja a prática regular de atividade física e mostra que manter uma vida ativa é essencial para saúde de todos. O site do governo descreve: “Dividido em oito capítulos, o Guia aborda a prática de atividade física em diversos contextos, grupos e ciclos de vida.”

O mais importante é que as medidas no Brasil estão sendo tomadas em âmbito nacional, sem separar ou discriminar o paciente com obesidade.

Outro exemplo interessante no Brasil, segundo a Agência Senado, em dezembro de 2019, a Comissão de Direitos Humanos aprovou o Projeto de Lei (PL) 4.804/2019, que reserva 3% dos assentos de transportes coletivos para pessoas com deficiência ou obesidade mórbida. A matéria explica que a lei garante que passageiros em ônibus, trens, metrôs, barcos e aviões tenham acesso ao benefício, se comprarem a passagem até 48 horas antes da partida.

É extremamente importante que a legislação estenda este tipo de direito aos pacientes com obesidade, pois isso aumenta o cuidado com esses pacientes e reduz o estigma em relação a obesidade. A melhor maneira de reduzir esse estigma é através da educação, com informações verdadeiras e de qualidade, algo que o Medscape trabalha duro diariamente para trazer ao nosso leitor.

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