Cirurgia bariátrica pode reduzir risco de câncer e de morte pela doença

Megan Brooks

Notificação

15 de junho de 2022

Novo estudo traz mais evidências de que a significativa perda ponderal associada à cirurgia bariátrica oferece proteção prolongada contra o câncer.

O estudo constatou que os riscos de câncer e de morte pela doença foram, respectivamente, 32% e 48% menores para os adultos com obesidade que fizeram a cirurgia bariátrica do que para os que não passaram pelo procedimento.

"A magnitude do benefício foi muito grande, e proporcional à dose; com uma perda ponderal mais expressiva associada a maior redução do risco de câncer", disse ao Medscape o médico e primeiro pesquisador do estudo, Dr. Ali Aminian, diretor do Bariatric & Metabolic Institute da Cleveland Clinic, nos Estados Unidos.

O estudo foi publicado on-line em 03 de junho no periódico Journal of the American Medical Association e apresentado na 82ª edição das sessões científicas da American Diabetes Association (ADA).

Melhores evidências até hoje

"Sabemos que a obesidade está fortemente relacionada com diferentes tipos de câncer, mas não sabíamos se perder uma quantidade importante de peso poderia diminuir significativamente o risco de câncer", explicou Dr. Ali.

O estudo SPLENDID foi feito com 30.318 adultos com obesidade (mediana de idade: 46 anos; 77% mulheres; mediana do índice de massa corporal de 45 kg/m2). 

Os 5.053 pacientes que fizeram derivação gástrica em Y de Roux (66%) ou gastrectomia vertical (34%) foram pareados (1:5) a 25.265 pacientes que não fizeram cirurgia bariátrica (grupo de controle não cirúrgico).

Em 10 anos, os pacientes que fizeram cirurgia bariátrica tinham perdido 27,5 kg, em comparação a apenas 2,7 kg dos controles pareados que não fizeram a cirurgia, uma diferença de 19,2%.

Durante uma mediana de acompanhamento de 6,1 anos, 96 pacientes do grupo da cirurgia bariátrica e 780 pacientes do grupo de controle não cirúrgico evoluíram com câncer associado à obesidade (incidência de 3,0 versus 4,6 eventos por 1.000 pessoa-anos).

Em 10 anos, a incidência acumulada de câncer associado à obesidade foi significativamente menor no grupo da cirurgia bariátrica (2,9% vs. 4,9%; diferença de risco absoluto: 2,0%; intervalo de confiança [IC] de 95% de 1,2% a 2,7%; razão de risco ajustada [RRa] de 0,68; IC 95% de 0,53 a 0,87; P = 0,002).

A maioria dos tipos de câncer foi menos comum no grupo da cirurgia bariátrica, no entanto, não foi possível realizar uma análise abrangente dos impactos da cirurgia bariátrica em cada tipo de câncer.

Nos modelos de Cox totalmente ajustados, a associação entre a cirurgia bariátrica e cada tipo de câncer só foi significativa para o câncer de endométrio (RRa de 0,47; IC 95% de 0,27 a 0,83). 

Para os outros tipos de câncer, houve uma "tendência ou sinal de redução do risco após a cirurgia", disse o Dr. Ali.

O médico observou que o câncer de endométrio tem a associação mais forte com a obesidade, e os pacientes que procuram cirurgia bariátrica são tipicamente mulheres obesas de meia-idade.

"Então, não foi surpresa que tivéssemos mais casos de câncer do endométrio do que outros tipos de câncer", disse o pesquisador.

O estudo SPLENDID também mostrou uma redução significativa da mortalidade relacionada com o câncer em 10 anos com a cirurgia bariátrica, o que não ocorreu no grupo de controle (0,8% vs. 1,4%; RRa: 0,52; IC 95% de 0,31 a 0,88; P = 0,01).

Os benefícios da cirurgia bariátrica foram evidentes em mulheres e homens, nos pacientes mais jovens e mais velhos, e nos pacientes negros e brancos, tendo sido observados de forma semelhante tanto após a derivação gástrica quanto após a gastrectomia vertical.

A fim de obter o efeito de proteção contra o câncer, os pacientes necessitam perder pelo menos 20% a 25% de seu peso inicial, o que é quase impossível apenas com uma dieta, disse Dr. Ali.

A obesidade vem "logo depois do tabaco" como causa evitável de câncer nos Estados Unidos, afirmou em comunicado o médico e autor sênior Dr. Steven Nissen, diretor acadêmico do Heart, Vascular e Thoracic Institute da Cleveland Clinic, nos EUA.

"Este estudo fornece as melhores evidências possíveis em relação ao valor da perda de peso intencional para a redução do risco de câncer e de morte pela doença", disse Dr. Steven.

Ainda restam perguntas

No editorial que acompanha o estudo, a médica Dra. Anita P. Courcoulas, do University of Pittsburgh Medical Center, nos EUA, diz que os próximos estudos devem analisar potenciais influências na associação entre a cirurgia bariátrica e a redução do risco de câncer, com um olhar voltado para individualizar o tratamento e descobrir quem irá se beneficiar mais.

"É provável que a redução do risco de câncer após a cirurgia bariátrica varie de acordo com sexo, idade, raça e etnia, tipo de abordagem cirúrgica, consumo de bebidas alcoólicas ou tabaco, local do câncer, diabetes, índice de massa corporal, entre outros fatores", salientou Dra. Anita.

"Além disso, é preciso entender os mecanismos biológicos específicos do efeito responsável pela mudança observada no risco de câncer, pois esses mecanismos não foram claramente investigados e elucidados em humanos", disse a editorialista.

"Se essa associação for validada, estenderá os benefícios da cirurgia bariátrica a outra importante área da saúde e prevenção em longo prazo. Essa informação adicional poderá então ser mais um guia para que tipo de paciente a cirurgia bariátrica é mais benéfica", concluiu Dra. Anita.

O estudo não teve financiamento comercial. O Dr. Ali Aminian informou receber subsídios e honorários por palestras da empresa Medtronic. Dr. Steven Nissen informou receber subsídios das empresas Novartis, Eli Lilly, AbbVie, Silence Therapeutics, AstraZeneca, Esperion Therapeutics, Amgen e Bristol Myers Squibb. A lista completa de conflitos de interesses dos autores está no artigo original. Dra. Anita P. Courcoulas informou não ter conflitos de interesses.

JAMA. Publicado on-line em 03 de junho de 2022. Texto completo, Editorial

American Heart Association (ADA) 2021 Scientific Sessions. Apresentado em 03 de junho de 2022.

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