Grave problema em tempos de covid-19, baixa sensibilidade de oxímetros na pele escura precisa ser corrigida

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6 de junho de 2022

Estados Unidos (Reuters Health) – Novo estudo confirma que oxímetros de pulso têm maior probabilidade de não detectar baixos níveis de oxigênio em pessoas asiáticas, negras e hispânicas com covid-19, em comparação com indivíduos brancos não hispânicos.

O subdiagnóstico de hipoxemia pode levar à demora ou ausência de reconhecimento de elegibilidade para tratamentos entre pacientes com covid-19 negros e hispânicos, contribuindo para a possibilidade de mau prognóstico, relatou a equipe que realizou o estudo publicado no periódico JAMA Internal Medicine.

O escrutínio científico acerca de inconsistências na aferição da oximetria aumentou nos últimos dois anos. É sabido que um problema de design dos oxímetros de pulso modernos aumenta a probabilidade de hipoxemia oculta em pacientes de pele escura.

Para aprofundar a investigação, Dr. Asraf Fawzy, médico da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, e colegas, revisaram dados de pacientes com covid-19 provenientes de cinco hospitais.

Os autores analisaram registros simultâneos de saturação arterial de oxigênio (SaO2) e oximetria de pulso (SpO2) de 1.216 pacientes (63 asiáticos, 478 negros, 215 hispânicos e 460 brancos não hispânicos).

A equipe identificou hipoxemia oculta (ou seja, SaO2 ≤ 88% apesar de SpO2 entre 92% e 96%) em 19 pacientes asiáticos (30%), 136 negros (29%) e 64 não negros/não hispânicos (30%), em comparação com 79 pacientes brancos (17%).

Em comparação com pacientes brancos, a SpO2 superestimou a SaO2 em uma média de 1,7% em pacientes asiáticos, 1,2% em negros e 1,1% em não negros/não hispânicos.

Em uma análise à parte, de 6.673 pacientes, os autores mostraram que a superestimação prevista dos níveis de SaO2 pela SpO2 foi associada a uma “falha sistemática em identificar pacientes com covid-19 negros e hispânicos elegíveis para tratamento, e a uma importante demora na identificação do limiar recomendado pelas diretrizes para o início do tratamento.”

“A associação da subdetecção de hipoxemia oculta à demora no [início do] tratamento não pode ser dissociada dos vários níveis de injustiças e persistentes disparidades por trás dos piores desfechos de pacientes com covid-19 que pertencem a grupos minoritários em termos raciais e étnicos”, disseram os autores do editorial que acompanha o estudo.

“A negligência histórica a pacientes de grupos minoritários raciais e étnicos e a baixa preocupação com seus desfechos de saúde podem explicar parcialmente por que esse fenômeno (a diferença na precisão da oximetria de pulso), reconhecido há mais de 30 anos, ainda não foi corrigido”, escreveram Dra. Valeria Valbuena, médica da University of Michigan, nos EUA, e coautores.

“Apesar de o problema de aferição dos aparelhos ser real e puramente óptico, a decisão de não fazer nada a respeito em relação a um aparelho com defeito é humana, e ela pode e deve ser corrigida”, acrescentaram eles.

Os editorialistas também disseram que a nova geração de oxímetros deve ser projetada e testada para um desempenho equivalente em diferentes tons de pele. E pontuaram que os problemas de design do oxímetro de pulso foram corrigidos em alguns aparelhos, mas esses dispositivos não foram produzidos ou distribuídos em massa.

“Sistemas hospitalares, médicos e entidades reguladoras precisam pressionar por escrutínio regulatório e equidade de design por meio da restrição das opções de compra a [somente] aparelhos cujo desempenho seja equivalente para pacientes de todos os tons de pele”, disseram os editorialistas.

“Enquanto isso, uma estratégia clínica para evitar o subtratamento da hipoxemia em pacientes de pele escura, infelizmente, seria reduzir o limiar de suspeita de doença e realizar mais gasometrias arteriais”, acrescentaram eles.

O estudo não teve financiamento comercial e os autores informaram não ter conflitos de interesses relevantes.

JAMA Internal Medicine. Publicado em 31 de maio de 2022. Texto completo

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