O risco de morte por câncer primário é quase duas vezes maior para adolescentes e adultos jovens que sobreviveram a um tumor do que para seus pares sem história de câncer, mostra nova pesquisa.
“Esses achados ressaltam o crucial papel dos cuidados de alta qualidade após o tratamento oncológico para os sobreviventes, a fim de reduzir o risco de tumores subsequentes”, disse em um comunicado à imprensa a pesquisadora Dra. Hyuna Sung, Ph.D., da American Cancer Society. “Dada a idade mais jovem ao diagnóstico, as oportunidades de prevenção e detecção precoce de tumores subsequentes neste grupo de sobreviventes devem ser mais frequentes”, ela acrescentou.
O estudo foi publicado on-line em 04 de maio no periódico Journal of the National Cancer Institute.
Até o momento, poucos estudos avaliaram o risco de novas neoplasias primárias e morte para adolescentes e adultos jovens sobreviventes de câncer.
Na nova análise, Dra. Hyuna e colaboradores decidiram entender melhor esse risco. Os pesquisadores analisaram dados de 170.404 adolescentes e adultos jovens sobreviventes de câncer entre 15 e 39 anos de idade inscritos nos registros Surveillance, Epidemiology, and End Results (SEER) entre 1975 e 2013 que sobreviveram pelo menos cinco anos após o primeiro diagnóstico de câncer primário.
Durante um acompanhamento mediano de 14,6 anos, os autores identificaram 13.420 casos subsequentes de tumor primário e 5.008 mortes subsequentes por tumor primário, excluindo as mortes atribuídas ao sítio original do câncer.
Em comparação com a população geral, os adolescentes e adultos jovens sobreviventes tiveram incidência 25% maior e risco 84% maior de morte por câncer primário subsequente. O excesso absoluto de incidência e mortalidade por câncer primário subsequente foi de 10,8 e 9,2 por 10.000, respectivamente.
O aumento do risco de câncer primário subsequente foi estatisticamente significativo para 20 dos 29 tumores iniciais avaliados; mais visivelmente para sobreviventes de linfoma de Hodgkin e para homens com sarcoma de Kaposi. O risco de morte subsequente relacionada a câncer primário foi maior para 26 dos 29 tumores iniciais, particularmente entre os sobreviventes de câncer de intestino delgado, de olho e anal.
No total, os tumores primários subsequentes de mama, pulmão e colorretal representaram 36% de todos os casos e 39% de todas as mortes. O câncer de mama foi responsável pela maioria dos casos (18%), seguido de pulmão (11%), colorretal (7,6%) e próstata (7,1%), enquanto o câncer de pulmão foi a principal causa de morte (24%), seguido por mama (8,6%), colorretal (6,9%) e pancreático (6,8%).
“Nossos achados destacam a necessidade de expandir a ênfase na vigilância do câncer primário subsequente para adolescentes, adultos jovens e crianças sobreviventes de câncer e desenvolver estratégias de vigilância específicas para a idade e apropriadas ao risco”, concluíram a Dra. Hyuna e colaboradores.
Dados “sóbrios”, momento de agir
O achado de que a probabilidade de morte por câncer primário é quase duas vezes maior para adolescentes e adultos jovens sobreviventes do que para a população geral é uma “informação preocupante que merece reflexão”, as oncologistas Dra. Danielle Novetsky Friedman, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, e Dra. Tara Henderson, da University of Chicago, ambos nos Estados Unidos, escreveram em um editorial que acompanha o estudo.
As Dras. Danielle e Tara apontaram que vários fatores podem contribuir para o aumento do risco de tumores primários subsequentes, incluindo exposição a tratamentos anteriores, biologia tumoral distinta e características genômicas, bem como as singulares necessidades psicossociais e de saúde dos adolescentes e adultos jovens sobreviventes de câncer.
Compreender melhor os fundamentos mecanicistas desse aumento de risco “pode embasar novas abordagens para modificar os desfechos tardios nesta coorte”, acrescentaram as editorialistas.
A vigilância contínua também é essencial. Os tumores de mama, pulmão e colorretal – que representam mais de um terço de todos os tumores primários subsequentes e quase 40% das mortes relacionadas – são todos “potencialmente evitáveis por métodos de detecção precoce e/ou modificação de comportamentos e estilo de vida”.
De modo geral, a análise “solicita que os médicos e pesquisadores tomem uma atitude, demandando que pensem com cuidado e sejam criativos em relação aos próximos passos, a fim de corrigir esse problema”, escreveram as editorialistas.
O estudo foi financiado pela American Cancer Society e pelo the Medical College of Wisconsin Cancer Center. Um dos autores atua no Flatiron Health Equity Advisory Board. As Dras. Hyuna Sung, Danielle Novetsky Friedman e Tara Henderson informaram não ter conflitos de interesses.
J Natl Cancer Inst. 2022;djac091, djac093. Abstract , Editorial
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Imagem principal:Dreamstime
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Citar este artigo: Risco de morte por tumor primário é duas vezes maior para sobreviventes de câncer, diz estudo - Medscape - 19 de mai de 2022.
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