Diferença entre idade cerebral de um paciente com acidente vascular cerebral (AVC) e sua idade cronológica pode ajudar médicos a prever quais pacientes têm maior probabilidade de piores desfechos, segundo novo estudo.
Pacientes pós-AVC com idade cerebral relativa mais alta, conforme mensurada por exame de ressonância magnética, apresentaram desfechos funcionais após AVC isquêmico significativamente piores do que pacientes com idade cerebral relativa mais baixa.
Apesar de serem necessários mais estudos, os pesquisadores dizem que o uso de um software de radiômica de código aberto para extrair as características da ressonância magnética poderia permitir aos médicos direcionar melhor a terapia pós-AVC.

Dr. Martin Bretzner
"Pacientes com cérebro mais velho tiveram menos probabilidade de atingir bons desfechos funcionais após o AVC", disse ao Medscape o médico Dr. Martin Bretzner, pesquisador associado em neurologia na Harvard Medical School, nos Estados Unidos, e neurorradiologista intervencionista no Centre Hospitalier Universitaire de Lille, na França. "Talvez nós pudéssemos utilizar a idade cerebral relativa para selecionar em quais pacientes ser mais agressivos ou mais cuidadosos com o tratamento."
Os achados foram apresentados em 5 de maio na Reunião Anual da European Stroke Organisation Conference (ESOC) 2022 em Lyon, na França.
Identificando a diferença na idade cerebral
A diferença entre a idade cronológica de uma pessoa e sua idade cerebral foi descrita em estudos anteriores como um biomarcador do risco de demência, esquizofrenia, doença de Alzheimer e outras doenças.
O Dr. Martin e colaboradores queriam saber se essa diferença na idade cerebral também poderia ser um preditor de desfechos após um AVC.
"O tempo passa na mesma velocidade para todos, mas todos nós envelhecemos de forma diferente, sendo que algumas pessoas envelhecem mais rápido do que outras", disse o Dr. Martin. "A idade cerebral relativa é apenas uma forma de aplicar esse conceito à neurociência, aos exames de neuroimagem e aos pacientes pós-AVC nesse estudo."
Os pesquisadores utilizaram um programa de radiômica de código aberto para analisar imagens de ressonância magnética nas sequências T2 e FLAIR capturadas no período de 24 a 48 horas após um AVC em 4.163 pacientes (média de idade de 62,8 anos). Com base nessas imagens cerebrais, estimaram a idade cerebral de cada paciente e, então, compararam a idade cerebral relativa com a idade cronológica real do paciente.
Na maioria dos pacientes a idade cerebral relativa foi maior ou menor do que a idade real, com pouquíssimos casos nos quais a idade cronológica e a idade cerebral foram exatamente iguais. Então, os pesquisadores mensuraram a prevalência de fatores de risco de AVC, como diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica e história de AVC, para avaliar se havia diferenças em pacientes com idade cerebral mais alta.
A história de AVC foi o fator clínico que mais afetou a idade cerebral relativa (P < 0,001), seguido por diabetes (P = 0,003), hipertensão (P = 0,021) e tabagismo (P = 0,024).
Quando os pesquisadores analisaram os pacientes com os piores desfechos funcionais pós-AVC, constaram que aqueles com idade cerebral relativa mais alta tiveram desfechos muito piores do que aqueles com idade cerebral mais baixa. De fato, a idade cerebral relativa foi o determinante mais significativo em desfechos ruins (razão de chances ajustada [RCa] de 0,76; P < 0,001), seguida por idade, AVC prévio e pontuação da National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS).
"Quando se está tentando prever desfechos pós-AVC, geralmente apenas a idade e a pontuação da NIHSS são tidas como fatores, e o resto é ignorado", disse o Dr. Martin. "Porém, nós vimos que a idade cerebral relativa era um fator forte o suficiente para ser tão preditivo de desfechos no AVC quanto a idade e a NIHSS."
Ainda são necessárias mais pesquisas
Comentando o estudo para o Medscape, o médico Dr. Lee Schwamm, presidente voluntário do American Stroke Association Advisory Committee e chefe de Neurologia Vascular no Massachusetts General Hospital, nos Estados Unidos, disse que o estudo oferece possibilidades intrigantes para os cuidados com o paciente, porém ainda restam muitas dúvidas.
"O que é mais útil na minha opinião é o método ser confiável e quantificável, sendo assim, pode ser utilizado para caracterizar o risco cumulativo para pacientes de qualquer idade", disse o Dr. Lee.
"Será importante entender o quanto de trabalho manual é necessário para mensurar a idade cerebral relativa e se isso pode ser automatizado e informado como um elemento padrão na interpretação de imagens cerebrais", complementou. "Até que esse método seja pelo menos semiautomatizado e tenha alta reprodutibilidade, baixas taxas de erro e alta confiabilidade entre avaliadores, irá permanecer como uma ferramenta predominantemente de pesquisa."
O estudo foi financiado pela Fondation I-SITE Université Lille Nord-Europe (ULNE), pelo hospital Mass General Brigham, pela Société Française de Neuroradiologie, pela Société Française de Radiologie e pela Fondation Thérèse et René Planiol. O Dr. Martin Bretzner e o Dr. Lee Schwamm informaram não ter conflitos de interesses.
Reunião Anual da European Stroke Organisation Conference (ESOC) 2022: Abstract 312. Apresentado em 5 de maio de 2022.
Siga o Medscape em português no Facebook, no Twitter e no YouTube.
Créditos
Imagem principal: Dreamstime
Medscape Notícias Médicas © 2022 WebMD, LLC
Citar este artigo: Diferença na 'idade cerebral' prevê desfechos pós-AVC - Medscape - 12 de mai de 2022.
Comente