Ótimo desfecho após uso de nivolumabe para tratar recidiva de linfoma durante a gestação

Megan Brooks

Notificação

26 de abril de 2022

Estados Unidos (Reuters Health) — Um caso de recidiva do linfoma de Hodgkin clássico durante a gestação teve um ótimo desfecho após tratamento com o inibidor do ponto de controle imunitário nivolumabe, no que se acredita ser o primeiro caso descrito na literatura.

“Para encurtar a história, a paciente se saiu incrivelmente bem. A gestação foi a termo, com parto na 38ª semana gestacional”, disse o Dr. Andrew M. Evens, médico do Rutgers Cancer Institute of New Jersey e do Robert Wood Johnson University Hospital, nos Estados Unidos.

Além disso, “ela recebeu um transplante de medula óssea cerca de três meses após o parto. Agora, quase um ano depois, tanto a mãe quanto o bebê estão ótimos”, disse ele à Reuters Health por telefone.

Dr. Andrew e colaboradores descreveram o caso no periódico American Journal of Hematology.

“Há relatos na literatura médica do uso de inibidores do ponto de controle imunitário em pacientes com câncer que engravidam por acidente, inclusive de pacientes inscritas em ensaios clínicos quando descobriram que estavam grávidas”, observaram os pesquisadores no artigo.

“No entanto, este é o primeiro caso conhecido de uma paciente com linfoma tratada com um inibidor do ponto de controle imunitário durante a gestação, e o único relato de administração desta terapia após a 33ª semana gestacional”, disseram eles.

O câncer como fator de complicação gestacional ocorre aproximadamente em 1 em cada 1.000 gestações, e o linfoma é um dos mais comuns.

A gestante, de 31 anos, mencionada por Dr. Andrew e colaboradores apresentou uma recidiva de um linfoma de Hodgkin clássico por volta da 13ª semana gestacional.

A paciente não respondeu a um esquema padrão de quimioterapia, e a doença continuou progredindo, representando risco de morte tanto para a gestante quanto para o feto.

“Sem dúvidas, representava um risco de vida. Precisamos interná-la de urgência para estabilizar seu quadro”, disse o Dr. Andrew à Reuters Health.

Após receber orientações sobre os possíveis riscos e benefícios do tratamento, inclusive em relação à falta de dados de segurança [associados ao uso dessa abordagem] durante a gestação, a paciente foi submetida a terapia com inibidor do ponto de controle imunitário com apenas um medicamento, devido ao histórico bem-estabelecido [desta estratégia] no linfoma de Hodgkin clássico.

Diante da escassez de dados para orientar o tratamento, Dr. Andrew e colaboradores firmaram uma rápida colaboração com o National Cancer Institute dos Estados Unidos para analisar a farmacocinética sérica, no cordão umbilical e na placenta da paciente, a fim de determinar o melhor esquema com nivolumabe.

A administração de dose única de nivolumabe (240 mg na 26ª semana gestacional) rapidamente melhorou os sintomas e achados laboratoriais da paciente. Foram realizados seis ciclos terapêuticos (78 dias), com administração de nivolumabe a cada duas semanas.

“A paciente tolerou bem o tratamento com nivolumabe, que resultou em remissão parcial [avaliada] por tomografia computadorizada e ressonância magnética após três doses do medicamento na 32ª semana gestacional”, relataram os pesquisadores.

A gestante recebeu a última dose de nivolumabe pré-natal na 37ª semana gestacional. Na 38ª semana gestacional e dois dias, o parto foi induzido e realizado por via vaginal, sem complicações. A avaliação pós-natal do recém-nascido foi normal. Não foi detectado nivolumabe quantificável no tecido placentário.

Um reestadiamento via tomografia por emissão de pósitrons duas semanas após o parto confirmou remissão metabólica completa.

Parcialmente por vontade da paciente, o transplante autólogo de células-tronco demorou dois meses para ser realizado. Ela ainda estava em remissão completa nove meses após o transplante.

“A decisão de iniciar a terapia antineoplásica durante a gestação é extremamente individual, envolvendo a colaboração e orientação de uma equipe multidisciplinar com cada paciente, avaliando os possíveis efeitos adversos da exposição fetal ao tratamento contra os potenciais benefícios para a paciente e o feto. A equipe multidisciplinar deve incluir hematologia-oncologia, medicina materno-fetal, neonatologia e outras subespecialidades relevantes”, disseram os autores no artigo.

O Dr. Andrew disse à Reuters Health que, desde a publicação deste caso, dois colegas o procuraram dizendo que estavam lidando com casos semelhantes, e que este caso lhes ajudou.

“Esperamos que a nossa publicação leve a mais pesquisas e aumente a atenção em relação a essa demanda, que é rara, mas muito pouco atendida”, disse.

FONTE: https://bit.ly/3xDoIh5

American Journal of Hematology; publicado on-line em 14 de março de 2022.

Siga o Medscape em português no Facebook, no Twitter e no YouTube

Comente

3090D553-9492-4563-8681-AD288FA52ACE
Comentários são moderados. Veja os nossos Termos de Uso

processing....