COMENTÁRIO

A importante relação entre as doenças sistêmicas e a saúde oral

Dr. Fabiano M. Serfaty

Notificação

25 de abril de 2022

A periodontite é a principal doença inflamatória da mucosa oral, que afeta progressivamente a integridade dos tecidos de suporte dos dentes e está associada epidemiologicamente a várias doenças inflamatórias crônicas, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, câncer, artrite reumatoide, doença inflamatória intestinal (IBD), doença de Alzheimer e doença hepática gordurosa não alcoólica.[1]

Do ponto de vista médico e terapêutico, é imperativo entender a correlação entre periodontite e comorbidades. A periodontite é uma doença inflamatória crônica multifatorial que envolve disbiose microbiana e resposta imunológica. Acomete os tecidos de sustentação dos dentes, levando a perda óssea, e tem como principais fatores de risco o tabagismo e o diabetes.

O que é a doença periodontal?

As doenças periodontais são principalmente o resultado de infecção e inflamação da gengiva e dos ossos que envolvem e sustentam os dentes. Em seu estágio inicial, chamado gengivite, a gengiva pode ficar inchada e vermelha e pode sangrar. Em sua forma mais grave, chamada periodontite, a gengiva pode se afastar do dente, o osso pode ser perdido e os dentes podem apresentar mobilidade ou até cair. A doença periodontal ocorre principalmente em adultos. [2] De acordo com os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos, a doença periodontal e a cárie dentária são as duas maiores ameaças à saúde bucal, sendo a primeira mais comum em homens do que mulheres (56,4% vs. 38,4%), em pacientes que vivem abaixo da linha da pobreza (65,4%), em pacientes com menor escolaridade (66,9%) e principalmente em fumantes (64,2%). [2]

A periodontite é uma doença inflamatória crônica, que é mais comum em adultos e idosos, mas também pode ocorrer em adolescentes e crianças.

O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais no controle da doença. O tratamento do paciente deve ser realizado de maneira regular, para o melhor controle da periodontite e das doenças sistêmicas.

Doenças crônicas e periodontite

Vários estudos epidemiológicos sugerem uma associação entre periodontite e doença de Alzheimer. Um grande estudo de coorte retrospectivo recente associou marcadores clínicos de periodontite com a incidência e a mortalidade pela doença de Alzheimer. Um mecanismo plausível subjacente à ligação entre periodontite e doença de Alzheimer pode ser a infiltração do cérebro por patógenos periodontais, uma hipótese corroborada por evidências emergentes envolvendo a bactéria P. gingivalis em particular.[1]

A doença periodontal é comumente observada em pessoas com diabetes e é considerada uma complicação.[3] Curiosamente, a relação entre diabetes e doença periodontal é vista como bidirecional, o que significa que a hiperglicemia piora a doença oral, enquanto a periodontite afeta o controle glicêmico, além de existir associação entre a doença periodontal e o aumento do risco de complicações relacionadas ao diabetes.[3]

Uma revisão sistemática de 2018 demonstrou que a periodontite está associada a níveis mais altos de hemoglobina glicada (HbA1c) em pessoas sem diabetes e pessoas com diabetes tipo 2, a piora das complicações do diabetes em pessoas com diabetes tipo 2 e a uma maior prevalência de complicações em pessoas com diabetes tipo 1.[3] O mesmo estudo também demonstrou que a periodontite está associada a uma maior prevalência de pré-diabetes e que a periodontite grave tem uma associação estatística significativa com o aumento do risco de diabetes.[3]

Vários estudos também demonstraram a correlação entre a inflamação crônica proveniente da periodontite e o risco de evolução para câncer em órgãos como cavidade oral, região de cabeça e pescoço, esôfago, estômago, fígado, cólon, colo uterino, ovário, bexiga e pulmão. Sugere-se que a resposta inflamatória e os sinais de estimulação celular sejam um microambiente para a proliferação e diferenciação celular, demonstrando o papel da infecção periodontal no risco do desenvolvimento do câncer.[4] 

Tratamento periodontal como parte do tratamento médico

É fundamental, na prática clínica, que o médico aborde como parte do exame clínico a avaliação da saúde bucal, tendo em vista que ela tem um papel fundamental na saúde global do todos os pacientes. O controle e a prevenção da doença periodontal por meio do atendimento por odontologistas devem ser vistos e encarados como medida preventiva e terapêutica fundamental para a periodontite e várias comorbidades associadas. Devemos, neste contexto, focar no combate ao tabagismo, assim como priorizar o importante hábito da escovação dental com creme dental contendo flúor e do uso do fio e/ou fita dental diariamente, além da avaliação clínica regular pelo odontologista.

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