Nota da editora: A série Casos Clínicos aborda doenças difíceis de diagnosticar, algumas das quais não são vistas com frequência pela maioria dos médicos, mas é importante poder reconhecer com precisão. Teste a sua capacidade diagnóstica e terapêutica com o caso deste paciente e as perguntas correspondentes.
Contexto
Com alteração intermitente do estado mental, agitação e alucinação ocorrendo há um mês, um homem de 72 anos é levado ao consultório de neurologia por sua família. O paciente refere insônia, alucinações visuais não ameaçadoras (na maioria das vezes vê pessoas) e raras alucinações auditivas. Sua esposa comenta: "Alguns dias ele parece até outra pessoa, e no dia seguinte ele está bem."
Sete meses antes, o paciente foi diagnosticado com doença de Parkinson e iniciou uma associação de carbidopa e levodopa; entretanto, teve pouca resposta aos medicamentos.
A história patológica pregressa do paciente revela infartos lacunares assintomáticos, hipertensão arterial sistêmica de estágio 2, hipotensão ortostática, miocardiopatia isquêmica, cirurgia de revascularização miocárdica e dislipidemia. Não tem história de transtorno psiquiátrico. Os seus medicamentos atuais são carbidopa/levodopa, clopidogrel, ramipril, metoprolol, espironolactona, furosemida, dinitrato de isossorbida e sinvastatina. Nega tabagismo, uso de bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas.
Exame físico e propedêutica
Ao exame físico, o paciente parece bem. Temperatura corporal de 36,8 ºC, pressão arterial de 130 × 77 mmHg e pulso regular, com 68 batimentos por minuto. O exame pulmonar, cardiovascular e abdominal é normal. O exame neurológico mostra que o paciente está alerta, orientado auto e alopsiquicamente, e desorientado temporalmente. O paciente demonstra certa dificuldade de encontrar palavras para se expressar e tem a memória de curto prazo prejudicada (Miniexame de Estado Mental: 25 de 30 pontos), bem como a concentração comprometida, evidenciada pela perda da linha de pensamento no meio da frase. Apresenta afeto embotado e dificuldades com a função executiva e as tarefas visoespaciais.
Embora pisque os olhos com menos frequência, os achados do exame dos pares cranianos não revelam nada digno de nota. O exame motor revela discreta rigidez cervical nos dois braços, junto com bradicinesia nos toques dos dedos, na abertura e fechamento das mãos, nos movimentos de pronação e supinação dos membros superiores e nos toques na região calcânea. As avaliações de sensação, coordenação e reflexos não são dignas de nota. O exame da marcha mostra postura levemente recurvada, diminuição do comprimento da passada e instabilidade postural.
Os exames laboratoriais, com hemograma completo, vitamina B12, folato, velocidade de hemossedimentação e provas de função hepática, tireoidiana e renal são normais. O colesterol está alto (248 mg/dL; referência < 200 mg/dL), mas a lipoproteína de alta densidade, a lipoproteína de baixa densidade e os triglicerídeos estão normais. As sorologia para Treponema pallidum (sífilis) e vírus da imunodeficiência humana (VIH) são negativas. A tomografia computadorizada (TC) de crânio revela infartos lacunares dispersos e discreta atrofia cortical sem dilatação ventricular.
Figura 1.
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Citar este artigo: Alucinações visuais e auditivas em paciente com doença de Parkinson - Medscape - 18 de abril de 2022.
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