Hidroxicloroquina não ajuda a evitar hospitalização de pacientes com covid-19 leve a moderada, revela estudo

Equipe Medscape Professional Network

8 de abril de 2022

O uso de hidroxicloroquina não reduziu o risco de internação de pacientes adultos ambulatoriais com covid-19 em comparação com o placebo. Foi essa a conclusão do estudo Hydroxychloroquine versus placebo in the treatment of non-hospitalised patients with COVID-19 (COPE – Coalition V). O trabalho foi conduzido pela Coalizão Covid-19 Brasil, rede de pesquisa formada por Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Brazilian Research in Intensive Care Network (BRICNet).

O trabalho analisou a hidroxicloroquina em comparação ao placebo para avaliar sua capacidade de evitar a hospitalização de adultos com quadros leves ou moderados de covid-19 em até sete dias após o início dos sintomas, com pelo menos uma característica clínica (comorbidade). Os resultados desse estudo duplo-cego, randomizado e multicêntrico, que teve a participação de 56 centros de pesquisa, foram publicados no periódico científico The Lancet Regional Health - Americas no dia 31 de março. “Nossos achados não respaldam o uso de rotina de hidroxicloroquina para tratamento ambulatorial da covid-19”, escreveram os autores.

De 12 de maio de 2020 a 7 de julho de 2021, o estudo alocou 1.372 participantes aleatoriamente para receber hidroxicloroquina ou placebo. A dose avaliada foi de 400 mg de 12/12h no primeiro dia, seguida de 400 mg/dia durante o período total de sete dias. O objetivo principal foi avaliar as taxas de hospitalização por complicações da covid-19 em até 30 dias após o início do estudo. Os dados evidenciaram que não houve diferença significativa no risco de hospitalização entre os grupos de hidroxicloroquina e de placebo (44/689 [6,4%] e 57/683 [8,3%], razão de risco, RR, de 0,77 [intervalo de confiança, IC, de 95% 0,52 a 1,12], respectivamente, p = 0,16). Resultados semelhantes foram observados na análise por intenção de tratamento modificada (mITT), com 43/478 (9,0%) e 55/471 (11,7%) eventos (RR de 0,77 [IC 95% de 0,53 a 1,12], respectivamente, p = 0,17).

Para complementar e dar mais contexto aos dados, os pesquisadores fizeram também uma metanálise com os estudos previamente publicados sobre a hidroxicloroquina em pacientes com covid-19 não hospitalizados. De acordo com os pesquisadores, seis ensaios clínicos randomizados que avaliaram a hospitalização por complicações relacionadas à covid-19 não constataram diferença significativa nas taxas de hospitalização entre os grupos de hidroxicloroquina e de controle/placebo. “No entanto, o risco de viés significativo e o baixo poder estatístico dos estudos anteriores impediram conclusões definitivas. Portanto, a eficácia e a segurança da hidroxicloroquina ou cloroquina neste cenário clínico permanecem desconhecidas”, comentaram os pesquisadores.

O estudo da rede Coalizão Covid-19 Brasil – até onde se sabe, o maior ensaio clínico randomizado feito para avaliar o efeito da hidroxicloroquina até o momento – lança luz sobre essa questão. “Nosso estudo é a análise mais recente e abrangente do uso de hidroxicloroquina em pacientes ambulatoriais com covid-19, podendo embasar a prática clínica e as diretrizes internacionais. A hidroxicloroquina não reduziu a hospitalização por covid-19 nesse cenário. Além disso, não resultou em taxas mais altas de eventos adversos graves, como morte súbita, arritmias ventriculares ou retinopatia”, afirmaram os autores.

Outros dois estudos da Coalização Covid-19 Brasil estão em andamento e um terceiro têm início previsto para agosto. Uma das pesquisas em andamento avalia o impacto em longo prazo na qualidade de vida, após a alta hospitalar, de 529 pacientes que tiveram covid-19 e participaram dos demais estudos da rede; outro estudo investiga, em 650 pacientes, se a anticoagulação com rivaroxabana previne o agravamento da doença com necessidade de hospitalização em pacientes com formas leves ou moderadas da covid-19. A rede de pesquisa deve iniciar na primeira quinzena de agosto deste ano um estudo para avaliar se antirretrovirais isolados e/ou em combinações entre si (atazanavir, daclatasvir, daclatasvir associado a sofosbuvir) são eficazes para tratar casos moderados de covid-19 em pacientes hospitalizados.

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