Associação complexa entre microbioma intestinal e resposta à imunoterapia no melanoma avançado

Sharon Worcester

Notificação

23 de março de 2022

Uma metanálise em larga escala verificou que o microbioma intestinal influencia a resposta dos pacientes com melanoma avançado à terapia com inibidores do ponto de controle imunológico, mas a relação parece ser mais complexa do que se pensava anteriormente.

No geral, os pesquisadores identificaram um painel de espécies, como Roseburia spp. e Akkermansia muciniphila, associado a respostas à terapia com inibidores do ponto de controle imunológico. No entanto, nenhuma espécie foi um "biomarcador totalmente consistente" em todos os estudos, explicaram os autores.

Essa “análise de aprendizado de máquina confirmou a associação entre o microbioma intestinal e as taxas de resposta global e a sobrevida livre de progressão da doença com inibidores do ponto de controle imunológico, mas também revelou reprodutibilidade limitada de assinaturas de microbiomas entre as coortes”, relataram a Dra. Karla A. Lee, Ph.D., pesquisadora clínica no King's College London, no Reino Unido, e colaboradores. Os resultados sugerem que "o microbioma seja preditivo de resposta em algumas coortes, mas não em todas".

Os achados foram publicados on-line em 28 de fevereiro no periódico Nature Medicine.

Apesar dos avanços recentes em terapias-alvo para o melanoma, menos da metade dos pacientes que recebem um inibidor do ponto de controle imunológico como agente único apresentam resposta, e aqueles que recebem terapia combinada geralmente sofrem de graves problemas relacionados à toxicidade medicamentosa. Por essa razão, identificar pacientes com maior probabilidade de responder a um inibidor do ponto de controle imunológico como agente único tornou-se uma prioridade.

Estudos anteriores identificaram o microbioma intestinal como “um potencial biomarcador de resposta, bem como um alvo terapêutico” no melanoma e outros tipos de câncer, mas “existe pouco consenso sobre quais características do microbioma estão associadas às respostas ao tratamento em humanos”, explicaram os autores.

Para elucidar ainda mais a relação entre microbioma intestinal e imunoterapia, os pesquisadores realizaram o sequenciamento metagenômico de amostras de fezes coletadas de 165 pacientes virgens de tratamento com inibidores do ponto de controle imunológico com melanoma cutâneo irressecável em estágio III ou IV, provenientes de cinco coortes observacionais dos Países Baixos, do Reino Unido e da Espanha. Esses dados foram integrados com 147 amostras de conjuntos de dados disponíveis publicamente.

Em primeiro lugar, os autores destacaram a variabilidade nos achados entre esses estudos observacionais. Por exemplo, foram analisadas amostras de fezes de um estudo observacional de pacientes com melanoma do Reino Unido (PRIMM-UK) e constatou-se uma diferença pequena, mas estatisticamente significativa, na composição do microbioma intestinal de respondedores à imunoterapia versus não respondedores (P = 0,05), mas não se identificou tal associação em um estudo paralelo nos Países Baixos (PRIMM-NL, P = 0,61).

Os pesquisadores também exploraram biomarcadores de resposta em diferentes coortes e observaram vários destaques. Em ensaios usando taxas de resposta global como desfecho, duas espécies de Roseburia não cultivadas (CAG:182 e CAG:471) foram associadas a respostas a inibidores do ponto de controle imunológico. Para pacientes com dados de sobrevida livre de progressão da doença disponíveis, as espécies Phascolarctobacterium succinatutens e Lactobacillus vaginalis estavam "elevadas em respondedores" em sete conjuntos de dados e foram significativas em três das oito abordagens de metanálise. As espécies A. muciniphila e Dorea formicigenerans também foram associadas a taxas de resposta global e sobrevida livre de progressão da doença aos 12 meses em várias metanálises.

No entanto, "nenhuma bactéria foi um biomarcador de resposta totalmente consistente em todos os conjuntos de dados", escreveram os autores.

Ainda assim, os achados podem ter implicações importantes para mais de 50% dos pacientes com melanoma avançado que não respondem à terapia com inibidor do ponto de controle imunológico como agente único.

“Nosso estudo mostra que estudar o microbioma é importante para melhorar e personalizar as imunoterapias para o melanoma”, disse o coautor do estudo Dr. Nicola Segata, Ph.D., pesquisador chefe do Laboratório de Metagenômica Computacional da Università degli Studi di Trento, na Itália, em um comunicado de imprensa. “No entanto, também sugere que, devido à variabilidade do microbioma intestinal de pessoa para pessoa, estudos ainda maiores devem ser realizados para entender as características microbianas intestinais específicas com maior probabilidade de levar a uma resposta positiva à imunoterapia”.

O coautor Dr. Tim Spector, Ph.D., chefe do Departamento de Pesquisa de Gêmeos e Epidemiologia Genética do King's College London, no Reino Unido, acrescentou que "o objetivo final é identificar quais características específicas do microbioma estão influenciando diretamente os benefícios clínicos da imunoterapia para explorá-las em novas abordagens personalizadas para favorecer a imunoterapia contra o câncer".

Enquanto isso, disse ele, "este estudo destaca o impacto potencial de uma boa alimentação e da saúde intestinal nas chances de sobrevida de pacientes tratados com imunoterapia".

O estudo foi coordenado pelo King's College London, Departamento CIBIO da Università degli Studi di Trento e Istituto Europeo di Oncologia, na Itália, e pela Rijksuniversiteit Groningen, nos Países Baixos, e foi financiado pela Seerave Foundation. Os Drs. Karla, Nicola e Tim informaram não ter conflitos de interesses.

Nature Med. Publicado on-line em 28 de fevereiro de 2022. Texto completo

Sharon Worcester é uma premiada jornalista especializada em medicina, da equipe do MDedge News, parte da Medscape Professional Network.

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