Síndrome da covid-19 pós-aguda é associada a risco de doença hepática gordurosa não alcoólica

Jim Kling

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9 de fevereiro de 2022

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A síndrome da covid-19 pós-aguda, um estado inflamatório contínuo após a resolução da infecção pelo SARS-CoV-2, está associada a aumento do risco de doença hepática gordurosa associada a disfunção metabólica, também conhecida como doença hepática gordurosa não alcoólica, de acordo com uma análise de pacientes internados em uma clínica no Canadá publicada no periódico Open Forum Infectious Diseases.

A doença hepática gordurosa não alcoólica é considerada um indicador geral de saúde e, por sua vez, está ligada a aumento do risco de complicações cardiovasculares e mortalidade. Pode ser um transtorno multissistêmico com diversas causas subjacentes.

A síndrome da covid-19 pós-aguda caracteriza-se por sintomas que afetam vários sistemas orgânicos, com acometimento neurocognitivo, autônomo, gastrointestinal, respiratório, musculoesquelético, psicológico, sensorial e dermatológico. Estima-se que de 50% a 80% dos pacientes com covid-19 apresentem um ou mais grupos de sintomas até três meses após a alta hospitalar.

Mas os problemas hepáticos também ocorrem na fase aguda, disse o Dr. Paul Martin, que foi convidado a comentar o estudo. "Até cerca de metade dos pacientes podem apresentar marcadores hepáticos elevados durante a doença aguda, mas parece haver um subconjunto de pacientes no qual essa alteração persiste. E há alguns relatos na literatura de pacientes que evoluíram com lesões de vias biliares intra-hepáticas tardias, aparentemente como consequência da covid-19. Este artigo sugere que podem haver alguns distúrbios metabólicos associados à infecção por covid-19, que, por sua vez, pode acentuar ou possivelmente causar a doença hepática gordurosa”, disse o Dr. Paul, que é médico, chefe de saúde digestiva e doenças hepáticas e professor de medicina na University of Miami, nos EUA.

“Isso destaca a importância da vacinação contra a covid-19 e das medidas de prevenção adequadas, pois a infecção pode ter todos os tipos de consequências, sem falar na doença respiratória”, afirmou ele.

Os pesquisadores identificaram retrospectivamente 235 pacientes hospitalizados com covid-19 entre julho de 2020 e abril de 2021. No total, 69% eram homens e a idade mediana era de 61 anos; 19,2% foram submetidos a ventilação mecânica e a média de permanência hospitalar foi de 11,7 dias. Foram observados sintomas de síndrome da covid-19 pós-aguda em mediana 143 dias após o início da covid-19; 77,5% apresentaram sintomas de pelo menos um sistema: 34,9% neurocognitivos, 53,2% respiratórios, 26,4% musculoesqueléticos, 29,4% psicológicos, 25,1% dermatológicos e 17,5% sensoriais.

Na consulta de acompanhamento para a verificação da presença de sintomas de síndrome da covid-19 pós-aguda, todos os pacientes foram submetidos a um exame de detecção de doença hepática gordurosa não alcoólica – definida como presença de esteatose hepática + excesso de peso/obesidade ou diabetes tipo 2. A esteatose hepática foi determinada a partir do parâmetro de atenuação controlada utilizando elastografia transitória. A análise excluiu pacientes com hábito de consumo significativo de bebidas alcoólicas ou com diagnóstico de hepatite B ou C. Todos os pacientes com esteatose hepática também tinham doença hepática gordurosa não alcoólica, e isso correspondeu a 55,3% da população do estudo.

O hospital conseguiu obter resultados do índice de esteatose hepática para 103 de 235 pacientes. Destes, 50,0% tinham doença hepática gordurosa não alcoólica no momento da admissão hospitalar por covid-19 aguda, e 48,1% apresentavam a complicação no momento da alta, com base neste critério.

Na consulta de acompanhamento da síndrome da covid-19 pós-aguda, 71,3% dos pacientes foram diagnosticados com doença hepática não alcoólica. Não houve diferença estatisticamente significativa em relação ao uso de corticosteroides ou tocilizumabe durante a hospitalização de pacientes com ou sem doença hepática gordurosa não alcoólica. E o uso de remdesivir foi insignificante na população de pacientes.

Como a prevalência de doença hepática gordurosa não alcoólica na população em estudo foi duas vezes maior do que na população em geral, os autores sugeriram que a doença possa ser um novo fenótipo de apresentação da síndrome da covid-19 pós-aguda, que pode levar a complicações metabólicas e cardiovasculares em longo prazo. Uma possível explicação é a perda de massa corporal magra durante a hospitalização por covid-19 seguida do acúmulo de gordura hepática durante a recuperação.

Outras infecções também mostraram uma associação com o aumento da incidência de doença hepática gordurosa não alcoólica, incluindo vírus da imunodeficiência humanaHeliobacter pylorihepatites virais. Os autores receiam que a infecção por covid-19 possa exacerbar as doenças subjacentes a um estado mais grave da doença hepática gordurosa não alcoólica.

O estudo foi limitado pelo pequeno tamanho da amostra, acompanhamento limitado e falta de um grupo de controle. Sua natureza retrospectiva o deixa vulnerável a vieses.

“A história natural da doença hepática gordurosa não alcoólica no contexto da síndrome da covid-19 pós-aguda ainda é desconhecida, e é necessário um acompanhamento criterioso desses pacientes para entender as implicações clínicas desta síndrome no contexto de covid-19 prolongada”, escreveram os autores. “Nós especulamos que a doença hepática gordurosa não alcoólica possa ser considerada como um fenótipo independente de síndrome da covid-19 pós-aguda, afetando potencialmente a saúde metabólica e cardiovascular destes pacientes”.

Um autor informou vínculo financeiro com diversas empresas farmacêuticas. Os outros autores informaram não ter conflitos de interesses. O Dr. Paul informou não ter conflitos de interesses.

Este conteúdo foi originalmente publicado em MDedge.com – Medscape Professional Network.

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