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A maioria das médicas e médicos brasileiros acredita que haverá novas variantes, espera o aumento de casos e óbitos, e acredita na necessidade de acelerar a vacinação e na promoção do uso correto das máscaras como o caminho mais seguro para reduzir o impacto da pandemia e a sobrecarga sobre os profissionais da saúde.
É o que revela o mais recente levantamento que avaliou o impacto da covid-19 sobre os profissionais da medicina. A pesquisa Percepção dos médicos sobre o atual momento da pandemia de Covid-19 foi realizada por uma parceria entre a Associação Paulista de Medicina (APM) e a Associação Médica Brasileira (AMB), e coletou dados de 3.517 profissionais da medicina em todo o país por meio de um questionário on-line entre os dias 21 e 31 de janeiro.
De acordo com os dados obtidos, 5% das médicas e médicos que participaram da pesquisa estavam em isolamento, sem atender pacientes, quando responderam ao questionário, e 87,3% dos respondentes relatam que eles ou outros médicos do ambiente de trabalho foram acometidos pela doença nos últimos dois meses. Na pesquisa feita em 2021, cerca de 23,4% responderam que haviam sido infectados. Cerca de 52,5% trabalham na linha de frente em instituições públicas e privadas que atendem pacientes com covid-19, enquanto 20,2% dos respondentes informaram atuar no sistema público de saúde.
Em relação à realidade vivenciada no último trimestre de 2021, 96,1% dos médicos e médicas que atendem pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 observam tendência de alta nos casos. Quanto aos óbitos, 40,5% dos profissionais que atendem pacientes por covid-19 observam tendência de crescimento do número de vidas perdidas para a doença.
Quanto à ocupação dos leitos de terapia intensiva, 81,4% consideram menor do que nos momentos mais críticos de 2021, enquanto 10,5% acham que está igual. Apenas 3% afirmam que já existe superlotação e comprometimento da qualidade da assistência.
O clima no ambiente de trabalho está pesado. Em questão de múltipla escolha, a maioria dos médicos vê sintomas de esgotamento (51,1%), apreensão (51,6%) e ansiedade (42,7%) nos colegas.
As respostas dos médicos sobre seus pares indicam que 62,4% respondentes têm sintomas de estresse ou observaram o problema em colegas, enquanto 64,2% têm ou identificam sensação de sobrecarga. As mudanças bruscas de humor, em si ou nos outros, foram apontadas por 29,3% dos participantes. Uma realidade que não é nova em absoluto. Segundo pesquisa realizada pelo Medscape, e publicada em dezembro de 2020, o burnout já se fazia presente entre os profissionais de saúde, sendo aqueles com idade entre 25 e 39 anos os campeões do burnout (síndrome do esgotamento profissional), problema reconhecidamente agravado pela pandemia. À época, o levantamento mostrou ainda que um em cada dez médicos pensava em abandonar a medicina para sempre por conta da gravidade dos sintomas de burnout experimentados.
Na pesquisa AMB/APM, a falta de médicos é motivo de preocupação para 44,8%. Na pesquisa anterior, feita no início de 2021, este índice era de 32,5%.
“Está muito difícil recompor os quadros, buscar novas contratações de profissionais para ocuparem as vagas deixadas pela pandemia. Então a única maneira efetiva de diminuir a sobrecarga é acelerar as medidas de prevenção e incentivar a vacinação por meio de medidas de prevenção com campanhas bem conduzidas, sem falas desencontradas ou fake news”, disse o Dr. César Fernandes, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB) durante entrevista coletiva realizada na quinta-feira (3), sobre a pesquisa.
De fato, as campanhas de informação e educação em saúde precisam melhorar muito. A percepção dos médicos neste momento da pandemia é que 7 em cada 10 brasileiros não estão usando máscaras corretamente. As médicas e médicos também comentaram os principais aspectos da pandemia em que o governo está falhando. Um deles é a realização de testes. O estrago das fake news no combate ao vírus e na adesão ao esquema vacinal também foi citado pelos participantes.
O cenário não parece promissor. Mais de 70% têm visto sequelas nos pacientes após a covid-19. A mais comum é a dor de cabeça incessante, com fadiga e dores no corpo. Já 50,1% dos respondentes consideram que há agravamento de doenças não relacionadas à covid-19 em pacientes que deixaram de buscar atendimento com medo da infecção.
Mais da metade dos respondentes (51%) considera ruim ou péssima a postura e as condutas do Ministério da Saúde na gestão da pandemia. Outros 21% acham que é regular. Entre ruim e regular, 72% estão descontentes. Já 25% classificam como boa ou ótima. Quanto às secretarias estaduais de saúde, a aprovação é de 52,6%. Em âmbito municipal, 54,3% aprovam a gestão.
“Eu entendo que seja muito lógica essa percepção. O que se espera do MS? Primeiro, que nos ofereça informações. Mas temos o apagão de dados, e isso já faz tempo. Temos falta de testes sistemáticos e compilação e análise dos resultados desses testes. Portanto, do ponto de vista estratégia de informação, deixa muito a desejar”, disse o Dr. José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Associação Paulista de Medicina.
Na visão dos respondentes, as melhores referências para o atendimento dos médicos vêm sendo dadas pelas sociedades de especialidades e associações médicas (65,1%). Outros 29% se baseiam nos protocolos dos serviços onde atendem. Só 14,6% disseram que têm o Ministério da Saúde como referência para o tratamento da covid-19.
“Passados dois anos da pandemia, o Ministério da Saúde não é capaz de nos oferecer recomendações consistentes. Há um desencontro dentro do Ministério da Saúde absolutamente grotesco. Nós não podemos discutir se é para vacinar um segmento da população quando já se demonstrou claramente a segurança e a eficácia das vacinas”, disse o Dr. José Gomes do Amaral.
Cerca de 88,5% esperam o surgimento de outras variantes. Alguns creem que será com menor letalidade (57,1%), outros esperam algo pior e que poderá matar mais gente (10,5%). Apenas 11,5% acreditam que a Ômicron tenha sido a última variante de preocupação do novo coronavírus.
A valorização profissional no contexto da pandemia se mostrou uma demanda crescente entre os participantes da pesquisa. Cerca de 84% dos médicos acham que o papel dos médicos de maneira geral não tem sido reconhecido por gestores, governos e fontes pagadoras, e tampouco acreditam que isso ocorrerá algum dia. Outros 144% creem que isso ainda poderá vir a acontecer. De modo geral, 69,3% dos profissionais da medicina não nutrem esperanças de que os gestores venham a tratar a área da saúde de forma prioritária.
Os homens representaram 58,4% dos respondentes, enquanto 41,6% foram mulheres. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Segundo a pesquisa Demografia Médica no Brasil, de 2020, a região Sudeste concentra 53,2% dos médicos e médicas do país, seguida pelas regiões Nordeste (18,4%), Sul (15,3%) Centro-Oeste (8,5%) e Norte (4,6%).
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Citar este artigo: O impacto da variante Ômicron sobre os profissionais da medicina: pesquisa - Medscape - 4 de fevereiro de 2022.