Nova terapia combinada para linfoma associado a implante mamário

Liam Davenport

Notificação

31 de janeiro de 2022

Embora o risco de desenvolver linfoma associado a um implante mamário seja “considerado baixo”, a doença é “grave e pode levar à morte”, de acordo com a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos. O tratamento imediato é a remoção cirúrgica do implante, que ocasionalmente é seguida de quimioterapia.

Novos dados mostram que as mulheres que desenvolvem linfoma anaplásico de grandes células associado ao implante mamário (BIA-ALCL, sigla do inglês para breast implant-associated anaplastic large-cell lymphoma) que necessitam de quimioterapia podem obter excelentes resultados com uma combinação de quimioterapia (ciclofosfamida, doxorrubicina e prednisona) com o anticorpo conjugado à droga brentuximabe vedotina.

As descobertas foram publicadas no final de 2021 no periódico Blood.

Os autores, liderados pelo Dr. Fabien Le Bras, médico do Hôpital Henri Mondor, na França, observam que, apesar do BIA-ALCL ter sido reconhecido recentemente como uma entidade provisória pela Organização Mundial da Saúde (OMS), sua patogênese ainda não foi totalmente elucidada, e um padrão de atendimento não foi estabelecido.

Os resultados do estudo ECHELON-2 estabeleceram a combinação de brentuximabe vedotina com ciclofosfamida, doxorrubicina e prednisona (BV-CHP, sigla do inglês para brentuximab vedotin, cyclophosphamide, hydroxydaunorubicin, prednisone) como um novo padrão de tratamento no linfoma periférico de células T CD30+.

Esse estudo incluiu 316 pacientes com ALCL, embora nenhum desses casos estivesse associado a implantes mamários. O investigador principal desse estudo, Dr. Steven Horwitz, médico do Memorial Sloan Kettering Center, nos Estados Unidos, disse ao Medscape que, embora o BIA-ALCL seja “incrivelmente raro”, causa “angústia” às pacientes, pois “muitas fizeram uma escolha que achavam segura para a reconstrução”.

Segundo ele, os dados mais recentes da França são “interessantes” e que a aplicação das descobertas do ECHELON-2 no ALCL associado a implantes mamários é “muito lógica”.

“Para as pessoas que precisam de terapia sistêmica”, parece, a partir dos resultados atuais, que o BV-CHP “é uma opção muito boa”, disse ele. A “dificuldade” na interpretação dos dados, entretanto, é que “talvez 80% das pessoas com BIA-ALCL não precisem de terapia sistêmica” e sejam “curadas com cirurgia, apenas (sem tratamentos adjuvantes ou neoadjuvantes)”.

O Dr. Steven pontuou que, embora as pacientes com doença infiltrativa tenham “alto risco de recorrência, muitas ainda são curadas com cirurgia sem necessidade de terapias combinadas”.

A principal questão pendente que ele coloca é quantas das pacientes que receberam BV-CHP “poderiam ter ficado bem exclusivamente com observação clínica”.

Detalhes dos novos dados

Para o estudo, Dr. Fabien Le Bras e colaboradores analisaram dados do registro da Lymphoma Study Association entre 2009 e 2021, e identificaram 85 pacientes com BIA-ALCL, incluindo 73 na França e 12 na Bélgica.

A maioria dessas pacientes (mediana de idade de 57 anos) apresentava linfoma unilateral (94,1%) e apenas algumas (5,9%) apresentavam doença bilateral. A equipe observa que 41,2% das mulheres receberam implantes mamários uma vez, 41,2% receberam duas vezes e 17,6% receberam três ou mais vezes.

Em 45,9% dos casos, o primeiro implante foi realizado após mastectomia para tratamento de câncer de mama.

Todas as pacientes tinham pelo menos um implante texturizado. Este tipo foi mais associado a casos de BIA-ALCL do que implantes lisos e, em 2019, a Allergan retirou do mercado todos os implantes mamários texturizados BioCell pelo mundo, devido ao risco de desenvolvimento da neoplasia, conforme relatado à época pelo Medscape.

No registro, a mediana de tempo desde o último implante até o diagnóstico de BIA-ALCL foi de sete anos. A apresentação mais comum foi o seroma, que ocorreu em 75,3% das pacientes, enquanto 21,2% apresentavam massa tumoral na mama, com ou sem seroma.

A doença em estádio I-II foi identificada em 76,5% das pacientes, e 21,2% dos casos foram classificados como estádio IV; doença infiltrativa estava presente em 24,7% das vezes.

A remoção do implante com capsulectomia total foi realizada em 77,6% da amostra observada; 29,4% das mulheres também receberam quimioterapia, com 11,8% recebendo BV-CHP.

Uma resposta completa foi alcançada em 84% das pacientes que receberam quimioterapia, enquanto 8% não responderam. Entre as que receberam BV-CHP, 80% obtiveram resposta completa.

Após um acompanhamento com mediana de 28,6 meses, 91,8% das pacientes estavam vivas e sem progressão da doença, o que também ocorreu após um acompanhamento com mediana de um ano em todas as que receberam BV-CHP.

Pacientes com doença infiltrativa tiveram uma sobrevida livre de progressão em dois anos significativamente pior do que aquelas com doença in situ/mista, com taxas de 73,8% versus 96,7%, e uma razão de risco (HR, do inglês, hazard ratio) para progressão de 5,3 (P = 0,0039).

Elas também tiveram pior sobrevida global em dois anos, com taxas de 78,7% versus 100%, e uma HR para morte de 8,5 (P = 0,0022).

Os autores observam que pacientes com doença infiltrativa tiveram resultados de sobrevida significativamente piores e podem se beneficiar mais com BV-CHP.

Nenhum financiamento para o estudo foi declarado. O Dr. Fabien informou relações com Novartis, Celgene, BMS, Takeda, Kite e Gilead. Outros autores declararam várias relações financeiras relevantes.

Blood. Publicado on-line em 09 de novembro de 2021. Abstract

Siga o Medscape em português no Facebook, no Twitter e no YouTube

Comente

3090D553-9492-4563-8681-AD288FA52ACE
Comentários são moderados. Veja os nossos Termos de Uso

processing....