15, 14, 10, 7, 5 dias... qual é o tempo de isolamento adequado?

Roxana Tabakman

Notificação

20 de janeiro de 2022

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"Independentemente das diretrizes de cada país, os médicos são e serão continuamente questionados por seus pacientes em relação ao tempo de isolamento. E não existe resposta certa ou errada, o médico precisa saber explicar sobre a perspectiva individual e a perspectiva de saúde pública", disse ao Medscape a Dra. Melissa Palmieri, pediatra especializada em infectologia pediátrica e vigilância em saúde, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) regional São Paulo e médica da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.

Em relação ao isolamento social, a Dra. Melissa assinalou que neste momento a população está pensando: "cinco dias e estou livre". Mas a médica alertou que, da perspectiva individual, "sem dúvida são 10 dias para não expor as outras pessoas".

Em uma carta de endereçada ao vice-presidente da região Sudeste do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Dr. Nésio Fernandes de Medeiros Júnior, o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Dr. Clóvis Arns da Cunha diz: "Recomendamos para os pacientes com COVID-19 sintomáticos, 7 (sete) dias de afastamento em isolamento respiratório domiciliar, desde que estejam sem febre nas últimas 24 horas e com melhora dos sintomas. Para os que se mantém sintomáticos no 7º dia, manter o isolamento por 10 dias." [1]

Segundo a Dra. Melissa, a recomendação adota uma "perspectiva pública, para não perder uma força de trabalho (...) Hoje, 30% dos profissionais da saúde estão contaminados pela variante Ômicron, e essa recomendação é para não haver disrupção dos serviços essenciais."

Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos reduziram ainda mais o período de isolamento recomendado para as pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 que não apresentam sintomas: cinco dias de isolamento, sem necessidade de teste de antígeno. A American Medical Association (AMA) criticou a medida dos CDC, afirmando que ela pode favorecer a disseminação do vírus, o que coloca as pessoas em risco e pode sobrecarregar ainda mais o sistema de saúde.

Parece confuso, não? E é. O fato é que ainda há poucas evidências robustas disponíveis para orientar as melhores práticas de isolamento.

Pesquisas no Japão, EUA e Reino Unido

Uma pesquisa realizada no Japão pelo National Institute of Infectious Diseases (NIID) e o Disease Control and Prevention Center do National Center for Global Health and Medicine (NCGM/DCC) do país sugere que o pico de carga viral infectante da Ômicron ocorre entre o terceiro e o sexto dias após o diagnóstico ou o início dos sintomas de infecção pelo SARS-CoV-2. O trabalho também indica que pacientes vacinados contra o vírus têm baixa probabilidade de transmissão 10 dias após o diagnóstico ou o início dos sintomas da doença. [2] O estudo avaliou 83 amostras respiratórias de 21 pacientes com covid-19: 19 vacinados e dois não vacinados, dos quais, quatro estavam assintomáticos e 17 apresentavam sintomas leves.

As amostras foram submetidas a quantificação e isolamento do vírus. A partir do sexto dia, a quantidade de RNA viral e de isolamento do vírus passou a diminuir gradualmente com o passar do tempo, apresentando uma queda acentuada após o 10º dia. Nenhum vírus infeccioso foi detectado nas amostras respiratórias dos participantes após o 10º dia. Com base neste estudo, no sétimo dia, em torno de 13% a 20% das pessoas ainda estariam transmitindo o vírus. No 10º dia, isso cai para 5%, resumiu a Dra. Melissa.

Uma limitação do trabalho em tela, que ainda não foi revisado por pares, é o pequeno tamanho da amostra. A Dra. Melissa acrescentou que, como ainda não foi divulgada a informação completa, os estudos ainda precisam esclarecer com relação a vacinado/não vacinado, e se os indivíduos eram adequadamente vacinados.

"Hoje sabemos que para Ômicron se precisa da terceira dose na maioria dos casos". Também não foi divulgado o tipo de vacina, uma informação importante para no futuro priorizar vacinas que ajudam a reduzir a carga viral.

"Realmente, para ter segurança é um problema ter um N pequeno, mas não devemos menosprezar esses dados. Há um outro trabalho do grupo de Harvard, que dá indícios parecidos."

A pesquisa dos EUA considerou a fração de testes com valor do limiar do ciclo (Ct, do inglês Cycle threshold) de PCR < 30 como parâmetro de potencial infectividade e positividade do teste de antígeno. Dos indivíduos infectados pela variante Ômicron do SARS-CoV-2, cuja infecção foi detectada até um dia após um teste negativo ou inconclusivo, 25,0% apresentaram Ct < 30 no sexto dia e 13,0% no sétimo dia após a detecção. Dos indivíduos infectados pela Ômicron, cuja infecção foi detectada mais de dois dias após um teste negativo ou inconclusivo, 33,3% apresentaram Ct < 30 no sexto dia e 22,2% no sétimo dia após a detecção.[3]

"Os resultados desta pesquisa também ainda precisam ser revisados por pares, mas o importante é que vários pesquisadores no mundo estão se juntando para obter uma resposta".

No final de 2021, a UK Health Security Agency (UKHSA) examinou estratégias para equilibrar os danos sociais da transmissão de doenças e o dano individual de ser isolado, mantendo o efeito protetor do isolamento. Em um trabalho de modelagem, também publicado em um servidor de pré-impressão, os pesquisadores da agência demostraram que a realização de testes rápidos de antígeno a partir do sexto dia, com a exigência de dois testes negativos consecutivos feitos em um intervalo de 24 horas, 79% poderiam ser liberadas do isolamento sem riscos no sétimo dia e 6% precisariam permanecer isoladas até o 10º dia.

"Note que é fundamental para este regime que as pessoas não saiam do isolamento precocemente, sem os dois testes rápidos de antígeno negativos, pois há um risco significativo de que elas ainda estejam transmitindo o vírus. Na ausência de testes disponíveis, 5% dos indivíduos infectados seriam liberados com 10 dias de isolamento simples e 1% com 14 dias". [4]

A Ômicron não seria tão diferente da Delta

No Brasil, como no resto do mundo, a variante Ômicron já predomina em relação a sua antecessora. "Muitos estudos têm observado que as duas têm suas similaridades, e isso nos deixa muito tranquilos no sentido de que, independentemente de ser Ômicron ou Delta, temos de atuar da mesma forma."

A pesquisa realizada pela Harvard University mencionada anteriormente avaliou 10.324 amostras coletadas entre julho de 2021 e janeiro de 2022 pelo programa de saúde ocupacional da National Basketball Association (NBA) dos EUA, o que permitiu comparar 97 casos de infecção pela variante Ômicron versus 107 pela variante Delta.

Em média, o tempo de infecção pela Ômicron foi de 9,87 dias (intervalo de confiança, IC, de 95%, de 8,83 a 10,9) e o de infecção pela Delta foi de 10,9 dias (IC de 95%, de 9,41 a 12,4). O pico de RNA viral baseado nos valores de Ct do PCR foi menor para infecções pela Ômicron (Ct: 23,3; IC de 95%, de 22,4 a 24,3) do que pela Delta (Ct: 20,5, IC de 95%, de 19,2 a 21,8). A fase de clearance foi menor para infecções pela Ômicron (5,35 dias; IC de 95%, de 4,78 a 6,00) do que pela Delta (6,23 dias; IC de 95%, de 5,43 a 7,17).

Os autores afirmaram que não está claro se essas pequenas diferenças são características intrínsecas da variante Ômicron ou se podem ser atribuídas à imunidade da população dos EUA, agora amplamente vacinada. [3]

Por enquanto, os dados disponíveis para pautar a elaboração de políticas de isolamento são preliminares e só foram divulgados em servidores de pré-impressão.

"Estamos em um momento, no Brasil e no mundo, de escassez de testes e de insumos para testagem. Precisamos de subsídios para as melhores práticas de isolamento. Na pandemia não existem respostas fáceis, mas já existem dados para fundamentar a tomada de decisões", concluiu a Dra. Melissa.

A Dra. Melissa Palmieri informou não ter conflitos de interesses.

Roxana Tabakman é bióloga, jornalista freelancer e escritora residente em São Paulo, Brasil. Autora dos livros A saúde na Mídia, Medicina para Jornalistas, Jornalismo para médicos (em português) e Biovigilados (em espanhol). A acompanhe no Twitter: @roxanatabakman.

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