Óleo de peixe traz benefícios para a prevenção da depressão?

Megan Brooks

Notificação

13 de janeiro de 2022

A suplementação alimentar com óleo de peixe não ajuda a prevenir a depressão ou a melhorar o humor, sugere nova pesquisa.

O estudo VITAL-DEP recrutou mais de 18.000 participantes. Entre os pacientes a partir de 50 anos de idade sem sinais ou sintomas depressivos clinicamente relevantes ao início do estudo, o uso prolongado de suplementos marinhos de ácido graxo ômega 3 (ômega 3) não reduziu o risco de depressão ou de sinais e sintomas depressivos clinicamente relevantes, nem fez diferença na qualidade do humor.

Na verdade, foi observado um pequeno aumento do risco de depressão ou de sinais e sintomas depressivos com os suplementos ômega 3.

"Embora um pequeno aumento do risco de depressão estivesse dentro da margem de significância estatística, não houve nenhum efeito benéfico ou prejudicial do ômega 3 no estado global do humor durante os cerca de cinco a sete anos de acompanhamento", disse ao Medscape a primeira autora do estudo, Dra. Olivia I. Okereke, médica do Massachusetts General Hospital e da Harvard Medical School, nos Estados Unidos.

"A mensagem do nosso estudo é que não há nenhum benefício efetivo do uso prolongado de suplementos diários de óleo de peixe com ômega 3 para prevenir a depressão ou melhorar o humor" disse Dra. Olivia.

Os resultados foram publicados on-line em 21 de dezembro no periódico Journal of the American Medical Association.

Avaliação do risco global da população

Por muitos anos, especialistas recomendaram suplementação de ômega 3 para reduzir a recidiva da depressão em alguns pacientes de alto risco, observou Dra. Olivia.

"Entretanto, não há nenhuma diretriz relacionada com o uso de suplementos de ômega 3 para prevenir a depressão na população geral. Por isso, fizemos este estudo para esclarecer a questão", disse a médica.

O estudo VITAL-DEP inscreveu 18.353 idosos (média de idade de 67,5 anos; 49% mulheres). Destes, 16.657 tinham risco de abertura de um quadro de depressão, definido como ausência de história de depressão; e 1.696 tinham risco de depressão recorrente, definida como história de depressão sem tratamento nos últimos dois anos.

Cerca de metade dos participantes foi aleatoriamente designada a receber ácidos graxos ômega 3 marinhos: 1 g/dia de óleo de peixe contendo 465 mg de ácido eicosapentaenoico (EPA) e 375 mg de ácido docosaexaenoico (DHA). A outra metade dos participantes foi designada a receber placebo. A intervenção durou uma média de 5,3 anos.

"Em virtude do grande tamanho da amostra e do acompanhamento prolongado, pudemos testar os efeitos do uso diário de suplementos de óleo de peixe ômega 3 para a prevenção universal da depressão na população adulta", disse Dra. Olivia.

Nenhum benefício significativo

Os resultados mostraram que o risco de depressão ou de sinais e sintomas depressivos clinicamente relevantes (total de casos incidentes e recorrentes) não diferiu significativamente entre os grupos.

O grupo do ômega 3 teve 651 casos de depressão ou de sinais e sintomas depressivos clinicamente relevantes (13,9 por 1.000 pessoa-anos) e o grupo de controle teve 583 casos de depressão ou de sinais e sintomas depressivos clinicamente relevantes (12,3 por 1.000 pessoa-anos). A razão de risco foi de 1,13 com intervalo de confiança (IC) de 95% de 1,01 a 1,26 (P = 0,03).

Não houve diferenças significativas entre os grupos em termos de pontuação longitudinal do humor. A diferença média de variação da pontuação do Patient Health Questionnaire com oito itens (PHQ-8) foi de 0,03 pontos (IC 95% de -0,01 a 0,07; P = 0,19).

"Pacientes, clínicos e outros médicos precisam entender que ainda existem muitas razões para algumas pessoas tomarem, sob orientação médica, suplementos de óleo de peixe com ômega 3", observou a Dra. Olivia.

"Esses suplementos têm sido cada vez mais considerados como benéficos para a prevenção das doenças cardíacas e para o tratamento de doenças inflamatórias, além de serem usados para tratar os transtornos depressivos em alguns pacientes de alto risco", disse a pesquisadora.

"Entretanto, os resultados do nosso estudo indicam que não há nenhuma razão para a suplementação diária de óleo de peixe com ômega 3 em idosos da população geral apenas para prevenir a depressão ou manter o humor positivo", acrescentou a autora.

A Dra. Olivia ressaltou, entretanto, que o estudo VITAL-DEP usou 1 g/dia de ácidos graxos ômega 3 e que pode haver um benefício maior ao tomar doses mais altas, como 4 g/dia.

Observações cautelosas

Convidado a comentar o estudo para o Medscape, o médico Dr. Kuan-Pin Su, Ph.D., chefe do Centro de Depressão do Hospital An-Nan na Faculdade de Medicina da Universidade da China, em Formosa, destacou algumas das limitações citadas pelos pesquisadores.

Primeiramente, a depressão ou os sinais e sintomas depressivos foram definidos a partir de uma escala de autoavaliação, que são "convenientes para o rastreamento de quadros de transtornos depressivos, mas a alta pontuação obtida na escala de autoavaliação não indica necessariamente a existência de psicopatologia depressiva", disse Dr. Kuan-Pin, que não participou da pesquisa.

O comentarista também destacou que o uso de 465 mg de EPA e 375 mg de DHA no VITAL-DEP "pode ser muito baixo" para ter algum impacto. Segundo as diretrizes clínicas da International Society for Nutritional Psychiatry Research, as doses recomendadas devem ser 1 g a 2 g de EPA por dia – puro ou em associação com DHA.

Por fim, o Dr. Kuan-Pin disse que é "muito importante também abordar o potencial de erro do tipo I, que torna as análises secundárias e de subgrupos menos confiáveis".

VITAL-DEP foi financiado por uma bolsa dos National Institute of Mental Health. Pronova Biopharma doou o óleo de peixe e seu respectivo placebo. Dra. Olivia I. Okereke informou receber royalties da empresa Springer Publishing. Dr. Kuan-Pin Su é membro fundador do comitê da International Society for Nutritional Psychiatry Research, diretor do conselho da International Society for the Study of Fatty Acids, e editor associado do periódico Brain, Behavior, and Immunity.

JAMA. Publicado on-line em 21 de dezembro de 2021. Texto completo

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