Gestantes com covid-19 podem ter maior risco de pré-eclâmpsia e apresentar quadros mais graves

Teresa Santos (colaborou Dra. Ilana Polistchuck)

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30 de novembro de 2021

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Estudo brasileiro indica que prevalência de pré-eclâmpsia é maior em gestantes com infecção pelo SARS-CoV-2 do que na população geral. De acordo com os resultados, o quadro clínico das pacientes infectadas também foi mais grave e a taxa de indução do parto por deterioração do quadro materno, mais elevada.

Os pesquisadores avaliaram uma série de casos de gestantes com infecção por SARS-CoV-2 grave atendidas no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O Dr. José Geraldo Lopes Ramos, médico e professor titular de Ginecologia e Obstetrícia da UFRGS, falou ao Medscape sobre o trabalho, que foi publicado em setembro no periódico Pregnancy Hypertension. [1]

Os autores avaliaram 54 gestantes sintomáticas diagnosticadas com covid-19. Destas, nove desenvolveram pré-eclâmpsia. Todas as participantes foram acompanhadas desde a admissão até a alta hospitalar. 

Segundo o Dr. José Geraldo, a prevalência de pré-eclâmpsia observada entre as pacientes com covid-19 atendidas no HCPA foi maior do que a verificada entre gestantes sem covid-19. Embora o achado esteja de acordo com o que foi mostrado em alguns trabalhos publicados no início da pandemia, o médico pontuou que determinar se a infecção pelo SARS-CoV-2 de fato aumenta o risco de pré-eclâmpsia, ainda é tarefa difícil. O problema, segundo ele, é que os parâmetros utilizados para o diagnóstico de pré-eclâmpsia (p. ex., hipertensão e proteinúria) também estão tocados na infecção pelo vírus. O médico explicou que muitas pacientes que apresentam quadros mais graves na infecção pelo SARS-CoV-2 também têm risco elevado de pré-eclâmpsia.

Ao comparar as pacientes que desenvolveram pré-eclâmpsia com as que não apresentaram o quadro, Dr. José Geraldo e colegas observaram que as mulheres com distúrbio hipertensivo tinham índice de massa corporal (IMC) mais elevado (41,3 ± 7,8 kg/m2 versus 31,6 + 6,2 kg/m2), assim como níveis maiores de D-dímero (3,47 ± 0,89 versus 1,97 ± 1,18).

De acordo com o pesquisador, obesidade e doenças tromboembólicas são mais prevalentes tanto em pacientes com pré-eclâmpsia como com infecção pelo SARS-CoV-2. Ao avaliar pacientes que evoluíram para óbito por covid-19 no Brasil, os autores verificaram que 29% tinham obesidade e 21% tinham hipertensão arterial. “Provavelmente gestantes e puérperas com obesidade ou com alterações da coagulação medidas pelo aumento do D-dímero têm mais probabilidade de morte”, afirmou.

Outro resultado observado pelo grupo diz respeito à interrupção do parto. Enquanto 75% das mulheres no grupo com pré-eclâmpsia deram à luz em decorrência da deterioração de seu estado clínico, no grupo que não apresentou pré-eclâmpsia essa taxa ficou em 23,3%.

“Um dos pontos críticos do atendimento de gestantes nas unidades intensivas tem sido quando indicar interrupção da gestação por causa materna nas gestantes com pré-eclâmpsia associada. A gravidade do quadro clínico de pré-eclâmpsia indica a indução do parto para terminar com o quadro de pré-eclâmpsia. A interrupção da gestação devido à sobrecarga materna acaba piorando o quadro clínico geral da paciente. Quando tivemos a experiência com a H1N1, em 2009, ficamos com o conceito de que a interrupção da gestação melhora o quadro clínico respiratório da gestante. E isso realmente acontecia. No SARS-CoV-2, verificamos que a interrupção piora o quadro e que as gestantes que conseguem manter a gestação evoluem melhor”, disse o Dr. José Geraldo.

Segundo o médico, ainda não existe consenso sobre quais estratégias seriam melhores para reduzir o risco de pré-eclâmpsia em pacientes com covid-19. Ele explicou que, para gestantes com infecção pelo SARS-CoV-2, recomenda-se o uso de oximetria para guiar a necessidade de internação precoce.

“Uma saturação de oxigênio < 95% ou PaO2/FiO2 < 300 já indica quadro grave, necessitando de estratégias mais invasivas e de suporte avançado de oxigênio mais precoce”, alertou.

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