Médicos demitem-se em bloco de hospitais portugueses

Giuliana Miranda

19 de novembro de 2021

Lisboa — As últimas semanas em Portugal foram marcadas por demissões coletivas de médicos de grandes hospitais públicos. Os profissionais alegam más condições de trabalho e falta de condições para atendimento dos pacientes.

Na última semana de outubro, nove dos 16 chefes de equipa no serviço de urgência do Hospital de Braga demitiram-se, argumentando falta de condições de trabalho. O número reduzido de médicos no serviço foi um dos pontos apresentados.

Dias antes, fora a vez de 87 médicos do Hospital de Setúbal, que indicaram problemas semelhantes. Ainda no mês passado, oito médicos do setor de psiquiatria do hospital de São João, no Porto, também apresentaram demissões simultâneas. 

No maior hospital de Portugal, o Santa Maria, em Lisboa, médicos também ameaçam uma demissão coletiva. Os 10 chefes de equipa das urgências de cirurgia-geral enviaram uma carta à administração em que pedem uma resolução à falta de recursos humanos para viabilização das escalas do serviço. Os profissionais avisam que, caso a situação não se resolva até 22 de novembro, irão se demitir.

Os chefes de equipa do Santa Maria afirmam que as condições de trabalho degradaram-se nos últimos anos, sendo particularmente afetadas há pouco tempo, quando assistentes hospitalares passaram a se recusar a fazer mais horas extras do que aquelas obrigatórias na lei.

Em nota, o conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, do qual o Santa Maria faz parte, disse ter "total abertura e empenho na melhoria das questões identificadas". Já há reuniões marcadas entre as partes.

O antigo problema da falta de profissionais e de acúmulo de horas extraordinárias no Serviço Nacional de Saúde (SNS) ficou ainda mais grave com a pandemia da covid-19. A afluência de pacientes a hospitais, centros de saúde e serviços de urgência já voltou aos níveis de antes da crise sanitária.

Em 2021, o número de horas extras e de férias não gozadas disparou.

Segundo reportagem do Jornal de Notícias, entre janeiro e setembro de 2021, os profissionais de saúde do SNS fizeram quase 17 milhões de horas extraordinárias: um aumento de mais de 6 milhões de horas extras em relação ao mesmo período de 2019.

Médicos e enfermeiros chegaram a convocar greves gerais para o começo de novembro para chamar a atenção para as más condições de trabalho. As paralisações, no entanto, acabaram suspensas após a confirmação da dissolução do Parlamento e a convocação de eleições antecipadas para 30 de janeiro.

As ordens profissionais e os sindicatos também têm reiterado os alertas sobre a deterioração das condições de trabalho.

Em comunicado divulgado no dia 11 de novembro, o bastonário da Ordem dos Médicos de Portugal, Dr. Miguel Guimarães, mostrou-se solidário aos chefes de equipa do Hospital de Santa Maria e abordou a questão das horas extraordinárias.

“Os hospitais vão sempre resistindo ao cumprimento de determinado tipo de regras e de situações e vão tentando arranjar subterfúgios ou para pagar menos, ou para não pagar, ou para, de alguma forma, tentar que as pessoas façam cada vez mais horas extraordinárias até aos limites totalmente inaceitáveis”, disse.

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