AHA 2021: os melhores estudos em resumo

Dr. Bruno Valdigem

Notificação

13 de novembro de 2021

ATUALIZADO em 15 de novembro às 12:54, horário local de Boston.

Olá, sou o Dr. Bruno Valdigem, advisor de cardiologia do Medscape em português. Este conteúdo tem como objetivo apresentar um resumo dos estudos que mais me chamaram a atenção nas Sessões Científicas de 2021 da American Heart Association (AHA).

Para quem está acompanhando meus resumos pela primeira vez, gostaria de informar que este texto será atualizado ao longo do evento, em respeito à política de embargos da AHA. Boa leitura!

 

ASCEND

Cerca de 15 mil pacientes foram randomizados entre uso de ácido acetilsalicílico (AAS) 100 mg ou placebo em busca de potencial redução de casos de demência vascular no estudo Effects Of Aspirin On Dementia And Cognitive Impairment In The ASCEND Trial. Os pacientes deveriam ter mais de 40 anos de idade, diabetes e ausência de doença cardiovascular. Seguimento médio foi de 7,4 anos no estudo, mais 1,8 ano após o estudo, com 99% do acompanhamento completo e com acesso a registros hospitalares.

A idade média foi de 63 anos, 63% eram homens, 94% tinham diabetes tipo 2 há 7 anos (em média), e IMC médio de 31 kg/m2. Os desfechos primários foram relacionados a demência, confusão mental, déficit cognitivo novo e quadros semelhantes. Testes cognitivos eram realizados ao final do seguimento. Não houve diferença entre os grupos em relação a demência ao final do seguimento.

Para lembrar: A dose de 100 mg ao dia de AAS não reduziu incidência de demência em pacientes diabéticos após os 40 anos de idade.

 

AXIOMATIC-TKR

Milvexiana é um inibidor do fator XIa administrado por via oral e com metabolização hepática. O estudo Milvexian for Prevention of Venous Thromboembolism after Elective Knee Arthroplasty comparou enoxaparina com milvexiana no pós-operatório de prótese de joelho. A pesquisa do medicamento está em fase 2 e comparou enoxaparina 40 mg uma vez ao dia com várias doses de milvexiana – 25, 50, 100, 200 mg duas doses diárias, e 25 ou 200 mg uma dose diária.

Os pacientes tinham em torno de 68 anos de idade, clearance de creatinina de cerca de 90 ml/min, e 70% eram mulheres. O risco de sangramento foi semelhante ao uso de enoxaparina, com benefício mais evidente nas doses maiores que 25 mg em duas doses diárias, ou maior que 50 mg em uma dose diária.

Para lembrar: Milvexiana parece uma alternativa segura à enoxaparina, com resultados em relação a eficácia variando de acordo com a dose utilizada (estudo fase 2).

 

PREPARE IT-2

Pacientes diagnosticados com infecção por SARS-CoV-2 com mais de 40 anos de idade (2052 participantes, divididos em dois grupos), com menos de sete dias de sintomas, e sem indicação de internação foram randomizados entre receber etil icosapente (8 g ao dia por três dias e 4 g ao dia até o final de 28 dias) ou placebo.

No Icosapent Ethyl Versus Placebo In Outpatients With Covid-19: The Main Results Of PREPARE-IT 2 não houve diferença entre o grupo tratamento ou controle no desfecho primário (internação por covid-19 ou mortalidade em 28 dias) ou nos desfechos secundários.

Para lembrar: Não houve diferença entre utilização de etil icosapente ou placebo no tratamento de pacientes com covid-19 ambulatorial.

 

Oral PCSK9

O estudo The Clinical Safety, Pharmacokinetics, and LDL-Cholesterol Lowering Efficacy of MK-0616, an Oral PCSK9 Inhibitor é um estudo de fase 1 que testou o MK-0616, um novo inibidor de PCSK9 administrado por via oral, em 60 homens com idade média de 38 anos com dose única entre 10 mg e 300 mg. Seis pacientes interromperam o medicamento (três deles por rash maculopapular, dor torácica e um ferimento com concussão que justificou interrupção do tratamento, 2 por violação de protocolo e 1 por opção).

Sobre a farmacocinética: Alimentação 30 minutos antes reduziu absorção em 50%-60%. A redução de PCSK9 livre foi semelhante com várias doses, iniciada na primeira hora após administração e retornando ao basal em torno de 96 h. Outra parte do protocolo foi a administração de múltiplas doses, agora com 27 homens e 13 mulheres, idade média de 57,7 anos, uma dose diária por 14 dias. Houve redução do LDLc em torno de 65% do inicial, com seu nadir no 15 dia.  

Um estudo de segurança, fase 1, com poucos pacientes, sem eventos adversos graves. Aguardemos os estudos subsequentes em populações maiores e mais heterogêneas.

Para lembrar: MK -0616 é um inibidor de PCSK9 oral no qual os testes em fase 1 com 40-60 pacientes demonstraram segurança e eficácia na redução do LDLc em um período de administração de até 14 dias.

 

EMPEROR-Preserved

Após críticas aos resultados do estudo Empagliflozin in Heart Failure With A Preserved Ejection Fraction ≥ 50% (EMPEROR-Preserved), relacionadas a uma população mista (também composta de pacientes com fração de ejeção moderadamente reduzida), são apresentados os resultados apenas dos pacientes com fração de ejeção igual ou acima de 50% – estes pacientes representaram 4005 do total de 5987 pacientes do estudo. Os participantes foram expostos a administração de empaglifozina ou placebo e acompanhados, em média, por 26 meses.

Neste estudo, a idade média dos pacientes foi de 72,8 anos, 50% eram mulheres, 48% eram diabéticos, 81% tinham classe funcional II, e 28% eram isquêmicos. Houve redução de 17% no desfecho primário composto por morte cardiovascular ou hospitalização por insuficiência cardíaca (P = 0,024), redução do risco de hospitalização em 22% (P = 0,013) e redução da deterioração da função renal (P = 0,0001). O benefício foi principalmente medido pela redução do primeiro evento de descompensação por IC após início do tratamento.

Para lembrar: Empaglifozina em dose de 10 mg ao dia em portadores de IC com fração de ejeção igual ou superior a 50% reduziu o desfecho composto por morte cardiovascular e eventos relacionados a IC, principalmente por redução do primeiro evento de IC após o início do tratamento.  

 

CHIEF-HF

O estudo Canagliflozin: Impact on Symptoms, Physical Limitations and Quality of Life in Heart Failure analisou o questionário de Kansas City para cardiomiopatia (KQQC), em busca de resultados de administração de canagliflozina 100 mg ao dia ou placebo por curta duração em sintomas de portadores de insuficiência cardíaca (IC).

O estudo foi realizado durante a pandemia, portanto, parte do mérito dele é ter sido completamente virtual. Os 448 pacientes randomizados (de um total de 1333 pré-selecionados) foram divididos entre canagliflozina 100 mg ao dia ou placebo. A idade média foi de 65 anos, 14% eram negros, 45% eram mulheres, 59% tinham insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada.

O acompanhamento foi curto, mas atingido ao final de três meses em 98% dos participantes. Os pacientes foram abordados com 2, 4, 6 e 12 semanas. A administração de canagliflozina na dose de 100 mg ao dia melhorou sintomas em portadores de insuficiência cardíaca, benefício observado com suas semanas, e sustentado por três meses. A amostragem foi reduzida e o estudo interrompido prematuramente pela indústria.

Para lembrar: Canagliflozina pode ter melhorado qualidade de vida, em curto prazo, para portadores de insuficiência cardíaca.

 

EMPULSE

O Empagliflozin in patients hospitalized for acute heart failure tenta preencher o nicho de administração de empagliflozina antes da alta hospitalar em pacientes com descompensação aguda ou insuficiência cardíaca nova. Com uma população de 530 pacientes, a idade média era de 70 anos, um terço de mulheres, 45% de diabéticos, uma FEVE média de 31% (dois terços abaixo de 40%), e dois terços com IC descompensada. Os participantes foram randomizados para receber empagliflozina 10 mg ou placebo quando atingissem critérios de estabilidade clínica por seis horas. Eles foram acompanhados por 90 dias.

O desfecho primário foi composto por morte, número de descompensações por IC, tempo até a primeira descompensação e mudança na qualidade de vida (utilizando o questionário KCCS-TSS). Houve redução do desfecho composto com uso de empagliflozina (IC de 95%, de 1,09 a 1,68; P = 0,0054). Também houve redução de peso: 1,5 kg em média (que pode ou não estar relacionada à congestão). Não aconteceram eventos adversos significativos que justificassem interrupção da empagliflozina.

Para lembrar: Iniciar empagliflozina imediatamente após compensação clínica do paciente se mostrou seguro e eficaz na redução do desfecho composto por morte e descompensação de IC em 90 dias.  

 

DREAM HF

O Randomized Trial Of Targeted Transendocardial Delivery Of Mesenchymal Precursor Cells In High-risk Chronic Heart Failure Patients With Reduced Ejection Fraction foi um estudo multicêntrico que avaliou 565 pacientes com FEVE < 40%, CF II/III com pelo menos um critério de gravidade (uma internação ou uma consulta não planejada com introdução de diuréticos, uso de inotrópicos há mais de um mês, e BNP elevado) randomizando-os entre injeção de células mesenquimais por cateter nas áreas de miocárdio viável (15 a 20 injeções em áreas consideradas viáveis) ou procedimento sham. Os dois grupos foram seguidos por uma média de 30 meses.

A idade média dos pacientes foi de 62 anos, 57% tinham cardiopatia isquêmica, 80% eram hipertensos e 43% eram diabéticos. A FEVE média era de 28%, e 90% estavam em uso de diuréticos. O desfecho primário não resultou em redução de eventos recorrentes de descompensação de IC. Houve redução de IAM não fatal e de AVC não fatal em 65 % no seguimento, com redução de mortalidade cardíaca limítrofe nos pacientes portadores de IC classe funcional II. Houve benefício significativo em pacientes com interleucina 6 ou PCR elevadas (“inflamados”), mas não nos pacientes com PCR normal.

Para lembrar: Terapia com injeção de células mesenquimais no miocárdio de pacientes com insuficiência cardíaca pode levar a redução de eventos, em especial em portadores de marcadores inflamatórios elevados.

 

REVeAL-HF

O Risk EValuation and Its Impact on ClinicAL Decision Making and Outcomes in Heart Failure estudou mais o médico que cuida do paciente do que o próprio paciente. A hipótese foi: o tratamento do portador de insuficiência cardíaca vai mudar se o médico receber o input do risco estimado do paciente internado sob seus cuidados? Um algoritmo avisava de forma randomizada o risco de morte em um ano do paciente em uma escala visual. Esse aviso categorizava o paciente desde risco muito baixo (mortalidade anual < 5%) até risco muito alto (mortalidade anual acima de 50%). Foram 1562 pacientes em cada braço, com idade média de 77 anos, FEVE média de 55% (28% dos pacientes com FEVE menor que 40%), e fibrilação atrial em metade dos casos.

Não houve diferença na mortalidade ao final de um ano, nova internação hospitalar ou desfecho composto entre os grupos. Os pacientes com risco aferido como alto e muito alto pelo programa geralmente eram considerados mais graves pelo médico. Não houve influência do alerta na indicação de cardiodesfibrilador implantável, assistência ventricular ou suporte paliativo.

Para lembrar: Alertas eletrônicos sobre o risco de mortalidade em um ano não impactaram o tratamento dos pacientes portadores de insuficiência cardíaca.

 

I Stop AFib

Os gatilhos de fibrilação atrial declarados pelos pacientes nem sempre correspondem a eventos detectados. E a resposta a esses gatilhos varia (abstinência de cafeína, por exemplo, pode ter efeito duvidoso na presença de arritmias atriais).

Os pacientes do estudo The Individualized Studies of Triggers of Paroxysmal Atrial Fibrillation escolheram os gatilhos mais frequentes para seus episódios de fibrilação atrial. Receberam um dispositivo de registro eletrocardiográfico conectado ao celular e foram divididos entre uma estratégia que alternava exposição ao gatilho por seis semanas, seguido por quatro semanas evitando o gatilho até o final de um ano (grupo 1). Na presença de mais de um gatilho, eles eram modificados na escolha do paciente (por exemplo, primeiras 6 semanas álcool, 4 semanas de abstinência, depois 6 semanas de café etc.). O grupo 2 permaneceu em observação apenas por 10 semanas seguidas pela mesma estratégia até o final de um ano. Após as primeiras 10 semanas a pesquisa de gatilhos era opcional, ou seja, nem todos os pacientes fizeram.

A ideia era saber se a identificação do gatilho iria ajudar no controle dos sintomas e da doença, e se os gatilhos realmente eram reais deflagradores e poderiam ser controlados após o reconhecimento.

Ainda que os participantes tenham relatado 40% menos eventos nas semanas de abstinência (RR de 0,6; IC de 95%, de 0,43 a 0,8; P < 0,0001), apenas os eventos desencadeados por consumo de álcool tiveram benefício com a estratégia de abstinência (RR de 1,77; IC de 95%, de 1,20 a 2,69).

Para lembrar: Álcool foi o gatilho de fibrilação atrial mais identificado no estudo, e também aquele que melhor respondeu à abstinência.

 

CRAVE

O Coffee And Real-time Atrial And Ventricular Ectopy Trial é um estudo pragmático sobre os efeitos do café em glicemia, duração do sono, e arritmias atriais e ventriculares. Foram incluídas pessoas sem história de fibrilação atrial ou insuficiência cardíaca, sem cardiodesfibriladores ou marca-passos, e que não estavam em uso de antiarrítmicos. Para participar, os sujeitos precisavam já ter o hábito de tomar café regularmente e aceitar ficar dois dias sem fazê-lo.

Ao todo, foram 3443 participantes em 50 estados dos EUA. A idade média foi de 38 anos, IMC médio de 24, metade do grupo era composta por mulheres, metade também eram brancos, 30% relataram beber uma xícara por dia e 21% de 6 a 7 xícaras por mês. O desfecho primário foi contagem diária de extrassístoles atriais e ventriculares. Os secundários foram taquicardias supraventriculares, taquicardia ventricular, contagem de passos, duração do sono e glicemia.

Algumas observações curiosas: nos dias em que os participantes consumiram café eles caminharam, em média, 1058 passos a mais por dia. Cada copo de café esteve associado a 587 passos a mais. Os dias com café estiveram associados a meia hora de sono a menos. Cada copo de café esteve associado a 18 minutos a menos de sono. Houve um potencial aumento de extrassístoles ventriculares no dia assinalado para uso de café, mas apenas nos que tomaram dois ou mais copos.

Para lembrar: O consumo de café esteve associado a mais passos durante o dia, redução de meia hora de sono (em média), e mais extrassistolia ventricular.

 

GIRAF

No Dabigatran Versus Warfarin On Cognitive Outcomes In Nonvalvular Atrial Fibrillation o Dr. Bruno Caramelli apresenta este estudo comparando uso de dabigatrana ou varfarina em idosos acima de 70 anos de idade com fibrilação atrial e CHADSVASC igual ou maior que 1. Os 200 pacientes foram igualmente divididos e acompanhados por dois anos em busca de alterações cognitivas. A idade média dos participantes foi de 75 anos, 60% eram homens, o Chads2Vasc2 médio era de 4, e o HASBLED médio, de 1.

O estudo utilizou os testes de avaliação cognitiva de Montreal, e o Mini-Mental, entre outros, para avaliação neuropsicológica. O estudo prezou pela simplicidade: os exames foram realizados no início e após dois anos. O período de tempo dentro da faixa terapêutica do INR foi de 69,8% (TTR). Não houve diferença entre as duas estratégias na população do estudo. Isso tem impacto significativo em estratégias populacionais, considerando custo da medicação ao paciente.

Para lembrar: Dabigatrana ou varfarina foram similares em relação a proteção cognitiva de idosos com fibrilação atrial (quando acompanhados por 2 anos).

 

PALACS

A fibrilação atrial de pós-operatório de cirurgia cardíaca pode ser causada pela inflamação cirúrgica, e traz consigo aumento de tempo de unidade de terapia intensiva (UTI) e, possivelmente, aumento de morbidade. Parece haver relação entre presença de derrame pericárdico no pós-operatório e aumento de incidência de fibrilação atrial. Pericardiotomia posterior (um pequeno corte no pericárdio realizado durante a cirurgia) pode servir para “escoar” desse derrame, e talvez reduza incidência de fibrilação atrial.

No Posterior left pericardiotomy for the prevention of postoperative atrial fibrillation after cardiac surgery: an adaptive, single-centre, single-blind randomized controlled trial, 420 pacientes que seriam submetidos a cirurgia cardíaca para revascularização do miocárdio, valvular aórtica ou de aorta ascendente (excluídos cirurgia em válvula mitral ou tricúspide) foram randomizados entre pericardiotomia ou não. Idade média dos pacientes era de 61 anos, 25% eram mulheres, 70% eram hipertensos, diâmetro médio do átrio esquerdo de 40 mm, CHADSVASC médio de 2.

Quando os grupos foram comparados, 18% dos pacientes que sofreram pericardiotomia apresentaram fibrilação atrial comparados a 32% do grupo controle (RR de 0,55; IC de 95%, de 0,39 a 0,78; P < 0,001). O estudo foi pequeno, sem pacientes nos quais a incidência de fibrilação atrial já é aumentada (portadores de doença mitral e tricúspide). Mas sugere benefício da estratégia, sem aumento significativo de tempo cirúrgico ou complicações.

Para lembrar: Pericardiotomia esquerda posterior reduziu a incidência de fibrilação atrial em pós-operatório de cirurgia cardíaca.

 

AMAZE

Ablação de fibrilação atrial em portadores de FA persistente tem resultados subótimos, principalmente devido a focos indutores de arritmia oriundos de fora das veias pulmonares. Assim, o apêndice atrial se tornou um novo alvo nesses pacientes. A ablação do apêndice atrial (isolamento do apêndice) é trabalhosa, com risco incremental e potencialmente mais trombogênica, em especial em pacientes que não usam anticoagulação. O estudo Outcomes Of Adjunctive Left Atrial Appendage Ligation Utilizing The LARIAT Compared To Pulmonary Vein Antral Isolation Alone randomizou pacientes para isolamento de veias pulmonares apenas (ablação padrão de fibrilação atrial, 200 pacientes) ou Isolamento de veias combinado com a ligadura do apêndice usando o dispositivo LARIAT (um “laço” metálico que amarra o óstio do apêndice por fora do coração). Os pacientes tinham em média 66 anos de idade, IMC de 31 kg/m2, FA entre 7 dias e 6 meses em 79%, e volume atrial médio de 137 ml. Ao final do seguimento de 2 anos não houve diferença entre as duas estratégias.

Para lembrar: Ligadura do apêndice atrial esquerdo (utilizando LARIAT) associada a ablação de FA não foi superior a ablação apenas nos pacientes com FA persistente.

 

CRHCP (VILLAGE BP)

 Village doctors ou barefoot doctors (em tradução literal, médicos do vilarejo ou médicos descalços) são trabalhadores rurais treinados em cuidados de saúde rudimentares que fazem o atendimento em regiões remotas da China. A política dos VD foi institucionalizada na década de 1930 e se mantém presente até hoje. O China Rural Hypertension Control Project avaliou homens e mulheres com mais de 40 anos de idade e hipertensão não tratada – pressão arterial sistólica (PAS) igual ou maior que 140 mmHg ou pressão arterial diastólica (PAD) maior ou igual a 90mmHg – ou tratada sem atingir a meta (PAS maior ou igual a 130 mmHg ou PAD maior ou igual a 80 mmHg). Os 326 vilarejos participantes foram divididos em dois grupos: cuidados usuais ou tratamento por VD treinados seguindo protocolo preestabelecido. Cada grupo foi composto por cerca de 17 mil pacientes.

A idade média dos pacientes foi de 63 anos, 61% eram mulheres, 34% tinham nível de educação superior ao primário, PAS média de 157 mmHg, PAD média de 88 mmHg. O risco cardiovascular em 10 anos foi 14%, em média.

Após um ano e meio de seguimento a proporção de pacientes que atingiram as metas de controle foi de 57% no grupo intervenção e 19,9% no grupo controle (P = 0,001). O achado reabre o mesmo debate do estudo da barbearia, publicado alguns anos atrás. O tratamento eficaz vem tanto da acessibilidade quanto da capacitação do profissional de saúde.

Para lembrar: A intervenção realizada por médicos em vilarejos na China foi mais eficaz do que o tratamento usual.

 

A Remotely Delivered Hypertension and Lipid Program In 10,000 Patients Across a Diverse Health Care Network 

Este estudo de Alexander Blood et al acompanhou 10 mil pacientes inseridos no programa pilotado pelo Mass General Brigham Health System iniciado em janeiro de 2018. O programa consistia em uma rede de “navegadores de pacientes” (não médicos, que seriam o primeiro ponto de contato por telefone ou meios digitais), farmacêuticos, que modificariam as doses das medicações seguindo parâmetros preestabelecidos (com suporte médico, se necessário) e um software dedicado a facilitar comunicação e suporte.

Mulheres compuseram 55% do grupo,12% dos pacientes tinham mais de 75 anos, 22% eram diabéticos, 23% com risco cardiovascular alto. Um braço era focado no controle de LDLc e outro no controle de hipertensão arterial.

O braço de dislipidemia continha 6887 pacientes e o de hipertensão era composto por 3367 pacientes. A dose da medicação atingiu a dose-alvo e as metas em cerca de 40% dos pacientes. Outros 40% saíram do programa, não conseguiram manter o contato programado ou tiveram de ser encaminhados ao médico (o encaminhamento foi feito em 298 pacientes do braço de dislipidemia e 234 pacientes do braço de hipertensão).

Houve redução adequada de LDLc e níveis pressóricos em pacientes de risco elevado. A pressão arterial se tornou controlada em 92% dos pacientes que cumpriram todo o seguimento. O nível de colesterol LDL atingiu as metas terapêuticas em 94% dos pacientes que cumpriram o programa. A redução média do LDLc foi de 45mg/dL na população total contra 70mg/dL no grupo que permaneceu no programa. A redução de colesterol esteve associada primariamente a elevação de medicações.

Para lembrar: Um programa de orientação e acesso de pacientes a ajuste de medicações de forma digital permitiu controle de metas pressóricas e de LDLc.

 

AVATAR

O Aortic Valve ReplAcemenT versus Conservative Treatment in Asymptomatic SeveRe Aortic Stenosis é um estudo multicêntrico randomizado desenhado para avaliar qual o momento de intervir na estenose aórtica grave assintomática. Participaram 157 pacientes com idade média de 67 anos, 60% homens, todos com fração de ejeção preservada, área valvar média indexada de 0,37 cm2/m2, gradiente médio de 52 ml/m2. O STS escore foi de 2,2, em média.

Pacientes com fração de ejeção inferior a 50% em repouso foram excluídos, bem como aqueles que necessitavam de cirurgia valvar combinada ou teste ergométrico positivo. Pacientes com Vmax> 5,5m/s também foram excluídos (estenose muito crítica).

Os participantes foram randomizados entre cirurgia precoce (que apresentou mortalidade cirúrgica de 1,4%) ou seguimento clínico – o tempo de seguimento foi de 32 meses. O número absoluto de eventos (morte, insuficiência cardíaca, IAM e AVC) foi de 9 no grupo cirúrgico e 16 no grupo tratamento conservador.

O desfecho primário composto favoreceu o grupo cirúrgico (HR de 0,46, IC de 95%, de 0,23 a 0,9; P = 0,021), bem como o desfecho secundário, composto apenas por morte e hospitalização – apesar de resultados com tendência favorável à cirurgia, mas não significativos, quando analisados morte ou hospitalização isoladamente.

Para lembrar: Cirurgia precoce em portadores de estenose aórtica grave assintomática foi benéfica na redução de desfecho composto por morte, AVC, IAM e hospitalização por insuficiência cardíaca.

 

CTCR-MVS

Entitulado Evaluating the Benefit of Concomitant Tricuspid Repair During Mitral Valve Surgery, este trabalho tenta responder se pacientes que presentam insuficiância tricúspide moderada ou leve com dilatação de anel valvar e serão submetidos a cirurgia valvar mitral devem sofrer plastia de válvula tricúspide simultânea. Trata-se de um estudo multicêntrico que randomizou 401 pacientes entre cirurgia mitral isolada ou mitral+Tri, e os seguirá por cinco anos. Aqui foram apresentados os resultados do final do segundo ano de seguimento.  

Os pacientes tinham em média 67 anos, três quartos eram do sexo masculino, 44% tinham fibrilação atrial, fração de ejeção média de 64%. Insuficiência mitral grave presente em 92%, sendo que cerca de um terço em classe funcional III/IV. Metade sofreu algum procedimento concomitante (11% revascularização do miocárdio, 26% cirurgia de MAZE, 27% fechamento de apêndice atrial esquerdo).

O desfecho primário (morte, nova operação ou progressão ecocardiográfica da insuficiência tricúspide) foi atingido em 10,2% do grupo submetido a cirurgia mitral em comparação com 3,9% do grupo mitral+Tri (RR de 0,37; IC de 95%, de 0,16 a 0,86; P = 0,02). Essa diferença foi causada pela maior progressão da insuficiência tricúspide sem diferença em relação a necessidade de nova operação, morte ou eventos cardiovasculares maiores.

Para lembrar: Ao final de dois anos não houve diferença em necessidade de nova operação, morte ou desfechos cardiovasculares maiores. O grupo procedimento combinado apresentou menor piora de insuficiência tricúspide.

 

RAPID-CABG

O Randomized Study of Early vs. Delayed Coronary Artery Bypass Surgery among Patients with Acute Coronary Syndromes Treated with Ticagrelor randomizou 140 pacientes candidatos a revascularização cirúrgica do miocárdio após síndrome coronariana aguda (SCA) entre interrupção precoce do uso de ticagrelor (2 a 3 dias) com interrupção prolongada (5 a 7 dias). A idade média dos pacientes foi de 64 anos, 81% eram homens, o IMC médio era de 29, 43% eram diabéticos, e cerca de 70% eram hipertensos. A indicação foi SCA sem supradesnível de ST em cerca de 90% dos pacientes, que em 93% dos casos apresentavam doença multiarterial. O número médio de enxertos foi de 3, quase sempre mamária interna esquerda associada a outro enxerto arterial, seguido por veia safena.

O desfecho primário foi sangramento maior (UDBP 3 ou 4, ou seja, retardo para fechamento do esterno por sangramento ou drenagem pelo tubo maior que 1000 ml em 12h). Não houve diferença significativa em relação a sangramento entre os dois grupos. O grupo que fez maior período sem ticagrelor teve maior duração da internação.

Para lembrar: Não houve diferença em relação a sangramento nos pacientes que suspenderam ticagrelor 2 a 3 dias antes quando comparados a 5 a 7 dias antes da cirurgia de revascularização do miocárdio.

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