SBEM lança cartilha sobre diversidade, equidade e inclusão na prática clínica

Equipe Medscape

13 de setembro de 2021

A abertura da primeira edição completamente virtual do Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (e-CBAEM 2021), realizado de 9 a 12 de setembro pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), foi marcada por uma conferência sobre a relevância da diversidade na medicina e o lançamento da Cartilha de Diversidade, Equidade e Inclusão da SBEM.

O documento foi elaborado por uma comissão criada no início de 2021 com o propósito de familiarizar os associados com as novas abordagens da SBEM. A iniciativa pioneira responde à uma demanda crescente dos profissionais de saúde para compreender de modo mais amplo o significado de termos como equidade, minorização, identidade de gênero, entre outros, e o impacto desses conceitos cada vez mais disseminados na sociedade, no relacionamento com colegas e na atenção à saúde dos pacientes.

“É muito importante que os profissionais da saúde se reciclem para entender do que as pessoas estão falando quando falam em diversidade e outros termos e como isso afeta o nosso dia a dia”, disse na inauguração do evento o Dr. Bruno Ferraz de Souza, que lidera a Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão da SBEM. Médico e pesquisador do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o Dr. Bruno é coeditor dos Archives of Endocrinoloy and Metabolism e está à frente do Departamento de Endocrinologia Básica da SBEM.

Em uma miniconferência, o médico destacou a importância dos estudos sobre o impacto da disparidade social nos desfechos em saúde. Ele disse que o treinamento médico no Brasil ainda contempla pouco esses aspectos, mas que a literatura em pesquisa vem trazendo dados cada vez mais eloquentes. Um trabalho feito na cidade do Rio de Janeiro com dados de três milhões de habitantes, por exemplo, mostrou que o envelhecimento leva negros a acumularem mais comorbidades do que pardos, e estes mais do que os brancos. Além disso, vários estudos correlacionam baixa escolaridade com maior incidência de doenças como diabetes, obesidade e hipertensão.

Na mesma direção, dados brasileiros evidenciam a necessidade de refletir sobre o acesso à saúde e o acolhimento às pessoas vulneráveis e pertencentes a populações minorizadas. De acordo com um trabalho baseado em um questionário on-line respondido por 1.200 mulheres adultas, entre elas, muitas lésbicas e bissexuais, 40% das participantes relataram dificuldade de expor a própria orientação sexual ao ginecologista, 40% referiram que sentiam preconceito por parte do especialista e a metade das participantes afirmaram acreditar que não receberam tratamento médico adequado. Outro estudo feito com cerca de seis mil adultos apontou que 2% da população brasileira se identificam como pessoa trans ou não binária, o que corresponde a cerca de três milhões de pessoas distribuídas homogeneamente em todas as regiões do país, incluindo as áreas rurais.

“Não temos políticas de saúde pública suficientes e essas pessoas estão, basicamente, desassistidas. Mas elas existem e precisam ser acolhidas”, afirmou o palestrante.

Outro aspecto da diversidade lembrado pelo conferencista é a representatividade na carreira clínica e acadêmica. Um levantamento apontou que 20% dos cirurgiões são mulheres, e que elas representam apenas 10% das lideranças em departamentos universitários.

“Tudo isso motivou a diretoria da SBEM a criar uma comissão nesta gestão para trazer os temas da diversidade, equidade e inclusão. Diversidade caracteriza tudo o que é diverso e plural. Equidade envolve prover acesso e oportunidades diferentes a pessoas que tenham barreiras ou oportunidades diferentes por serem minorizadas em geral. E, por fim, o objetivo desse trabalho todo é a inclusão, que talvez seja o passo mais difícil, que é prover acesso, oportunidades e desfechos iguais para todos.”

O presidente da SBEM, Dr. Cesar Luiz Boguszewski, elogiou a apresentação e o papel da comissão. “Foi uma miniconferência rápida, mas sem dúvida vai ser o marco de uma transição. Sinto uma imensa alegria por esses poucos minutos que eu considero históricos dentro da SBEM. Nós estávamos atrasados, cerca de 30 anos, em trazer para a discussão todos esses temas extremamente sensíveis, mas que devem ser abordados. Eu agradeço à essa comissão que tem trabalhado intensamente e produzido coisas fantásticas. Tenho certeza de que vamos colher muitos frutos desse trabalho nos próximos anos.”

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