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Com mais de 57% da população com a vacinação contra a covid-19 completa e com 70% tendo recebido a primeira dose, Portugal avança agora para a imunização de adolescentes. As regras do país e as indicações da vacina para os jovens, no entanto, ainda dividem especialistas e autoridades.
Em 03 de agosto, Portugal liberou o agendamento da vacinação para maiores de 16 anos, mas restringiu a imunização da faixa etária entre 12 e 15 anos a quem tem comorbidades que aumentem o risco de quadros graves da doença.
A decisão é amparada por um parecer técnico da Direção-Geral da Saúde (DGS), apresentado em 30 de julho.
Na ocasião, a diretora-geral da Saúde, Dra. Graça Freitas, afirmou que a covid-19 costuma ser branda entre os mais jovens, e pontuou que, apesar de a European Medicines Agency (EMA) ter emitido um alerta preconizando a vacinação desta faixa etária (12 a 15 anos) na União Europeia, ainda não houve tempo suficiente para saber se existiram complicações com a inoculação de jovens e crianças.
"A doença, nestas idades, é ligeira. Também nestas idades, as crianças que apresentam comorbilidades têm um risco mais grave. Estima-se que existam 410 mil pessoas no grupo etário entre os 12 e os 15 anos. Nestas, muitas já têm imunidade conferida pela infecção", afirmou a líder da DGS em coletiva de imprensa.
A diretora-geral da Saúde afirmou ainda que, caso haja indicação médica, "deve ser dada a possibilidade de acesso à vacinação" a qualquer um entre os 12 aos 15 anos, respeitando o calendário do programa de imunização. As orientações da entidade causaram divergências entre os especialistas e motivaram críticas da Ordem dos Médicos (OM) de Portugal.
Em nota, a OM afirmou que lamenta a decisão da Direção-Geral da Saúde sobre a vacinação de adolescentes entre 12 e 15 anos, uma vez que "cria desigualdades e contribui para a entropia no processo de vacinação".
"A norma começa por limitar o acesso à vacina contra a covid-19, nestas faixas etárias, a adolescentes com comorbilidades, justificando-se que para um eventual alargamento será necessária mais evidência científica. Contudo, a mesma norma, mais à frente, considera que, desde que haja indicação médica, qualquer adolescente poderá ter acesso à vacina. Ou seja, já não interessa a evidência científica", diz o texto.
"Esta decisão da Direção-Geral da Saúde contraria a tese de que ainda não há evidência suficiente e cria desigualdades entre as famílias que conseguirão ter acesso a essa mesma prescrição e as que não terão, sobretudo numa altura em que o acesso à saúde tem estado muito condicionado e em que todos os recursos deveriam ser focados na recuperação de doentes e não em mais um procedimento burocrático", completa o documento.
Em consultórios privados e nos centros de saúde, médicos têm relatado o contato crescente de pais interessados na imunização dos filhos adolescentes antes do começo do novo ano letivo, no início de setembro.
No dia 04 de agosto, a DGS publicou a lista de doenças prioritárias para a vacinação entre os 12 e os 15 anos. [1] Diabetes, insuficiência renal crónica, vários tipos de doenças cardiovasculares e cancro estão entre as patologias referenciadas. Jovens transplantados ou à espera de transplante e imunossuprimidos também estão na lista de prioridades.
Vacinação acelera
Para tentar diminuir o impacto da disseminação da variante Delta (que já é responsável por 95% dos casos no país), Portugal investiu pesado na aceleração da vacinação.
O "sprint" dos últimos 60 dias fez Portugal ultrapassar outros países europeus, como a França e a Alemanha, no percentual de população vacinada, segundo dados do ECDC.
Segundo os responsáveis pela força-tarefa de vacnação, a imunização enfrenta baixa resistêcia entre a população: apenas 2,5% das pessoas contactadas pelo sistema de vacinação disseram não ao convite para a vacinação.
A adesão tem sido grande, inclusive entre os mais jovens, e há fila de espera para conseguir agendar a aplicação do imunizante na faixa etária a partir dos 16 anos.
A boa cobertura vacinal fez com que o país começasse a revogar algumas das medidas restritivas impostas após o aumento dos casos da variante Delta.
O governo acabou com o toque de recolher (entre 23 h e 5 h), que estava em vigor em boa parte do país, e ampliou o horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais.
A continuação do alívio das medidas anticovid está condicionada ao sucesso das metas de vacinação.
A previsão oficial é que 85% dos portugueses estejam vacinados até outubro, o que permitiria que o país praticamente acabe com as restrições.
Assim como outros países da União Europeia, Portugal também tem progressivamente ampliado a exigência do certificado digital europeu. O documento, que atesta a vacinação completa, um teste recente com resultado negativo para a covid-19 ou a recuperadação da doença há menos de seis meses, deve ser apresentado para fazer o check-in em hotéis e outros alojamentos turísticos. Também vem sendo exigido aos fins de semana e feriados em restaurantes para frequentar os espaços internos. Em breve, as pessoas também devem ter o acesso a ginásios esportivos e atividades culturais e esportivas condicionado ao certificado.
Giuliana Miranda é jornalista e mestre em divulgação científica, com mais de 10 anos de experiência na cobertura de ciência e saúde. Colabora regularmente com o Medscape e a Folha de S.Paulo a partir de Portugal, onde também preside a Associação da Imprensa Estrangeira (AIEP). Acompanhe o trabalho dela no Twitter: @giumiranda
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Citar este artigo: Imunização de crianças e adolescentes em Portugal começa em meio a dúvidas - Medscape - 10 de agosto de 2021.
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