Relato de caso descreve artrite crônica após infecção por SARS-CoV-2 em menina de 11 anos

Teresa Santos (colaborou Dra. Ilana Polistchuck)

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29 de julho de 2021

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Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) Universidade de São Paulo (USP) alertam para a possibilidade de a infecção pelo SARS-CoV-2 ser um possível gatilho de artrite idiopática infantojuvenil.

Em um artigo publicado no Brazilian Journal of Infectious Diseases, [1] o grupo relata o caso de uma menina de 11 anos de idade que apresentou síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P) após a covid-19 e que, na sequência, desenvolveu artrite crônica. A Dra. Luciana Martins de Carvalho, docente do serviço reumatologia pediátrica do Hospital das Clínicas (HC) da FMRP-USP e uma das autoras do artigo, falou ao Medscape sobre o caso.

A paciente foi atendida no serviço de emergência do HC-FMRP-USP em julho de 2020. O primeiro sintoma foi febre (quatro picos diários) responsiva a antitérmicos, acompanhada de prostração e conjuntivite bilateral não supurativa. Após três dias, a paciente desenvolveu mialgia e artralgia nos tornozelos, punhos e joelhos. Cinco dias depois, surgiu erupção eritematosa pruriginosa difusa, associada a piora da mialgia, e dificuldade de deambulação por conta da dor nos joelhos, o que motivou a busca por atendimento médico. A paciente não apresentou sinais e sintomas respiratórios ou gastrointestinais.

No momento da admissão hospitalar, a paciente tinha febre, taquicardia e hipertensão, mas seu estado geral era bom. Ela apresentou erupção maculopapular difusa sem descamação, hiperemia conjuntival não supurativa bilateral, hiperemia leve nas fossas tonsilares, sem aumento dos linfonodos, e dor à palpação nos tornozelos, punhos e cotovelos, sem inchaço.

A equipe médica então fez uma ampla investigação para várias doenças infecciosas por meio de testes por reação em cadeia da polimerase (PCR, sigla do inglês Polymerase Chain Reaction) para dengue, zika, chicungunha e coronavírus, e testes sorológicos para hepatites A, B e C, HIV, Epstein-Barr, citomegalovírus e toxoplasmose.

“Na epidemiologia atual, o SARS-CoV-2 deve ser incluído nas pesquisas etiológicas de possível causa viral. Mas sempre avaliamos a possibilidade de outras infecções virais como citomegalovírus, Epstein-barr e parvovírus”, explicou.

No caso em questão, a dos sintomas – e o resultado foi positivo. Mas, antes mesmo de obter esse resultado, devido à sorologia positiva para covid-19, a equipe iniciou tratamento para SIM-P com dose única de 2g/kg de imunoglobulina e 1g de ácido acetilsalicílico de 8/8 horas.

Em aproximadamente 48 horas a febre cedeu, pesquisa de outros vírus foi negativa, assim como o teste molecular para SARS-CoV-2. A equipe médica só conseguiu realizar a sorologia para covid-19 cinco semanas após o início do quadro. No entanto, três dias depois a paciente desenvolveu artrite grave nos tornozelos, joelhos, cotovelos, punhos e articulações falangeanas. Encaminhada para o serviço de reumatologia pediátrica, diante da persistência do quadro, os especialistas iniciaram corticosteroides (30 mg/dia). Após duas semanas, a artrite havia resolvido.

Cinco meses após o início dos sintomas, ela não apresentava mais sintomas de artrite, ainda permanecia com queixa de rigidez matinal, bem como taxa de sedimentação de eritrócitos elevada e discreta hipertrofia sinovial no ultrassom.

De acordo com a Dra. Luciana, a persistência das alterações foi o que motivou a descrição do caso: “Ainda estamos acompanhando a paciente para avaliar a possibilidade do desenvolvimento de artrite idiopática infantojuvenil, a artrite crônica mais comum na infância. A artrite idiopática infantojuvenil é descrita como desencadeada por infecções virais (gatilho), como o parvovírus, em indivíduos predispostos. Ainda não temos confirmação se o coronavírus pode induzir à artrite idiopática infantojuvenil. Se, no caso descrito, a associação do vírus foi um fato coincidente, um gatilho para artrite crônica em uma paciente predisposta ou um sintoma raro da SIM-P, só o tempo de acompanhamento das crianças que foram infectadas poderá dizer”, destacou.

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