COMENTÁRIO

Medicamentos que podem interferir na vida sexual das pacientes

Dra. Maria Gabriela Baumgarten Kuster Uyeda

Notificação

8 de março de 2021

Sempre que prescrevemos uma medicação para os nossos pacientes estamos pensando em seu bem-estar e longevidade, mas nem sempre consideramos que alguns efeitos colaterais (p. ex.: alteração do padrão de sono e de humor, impacto na vida sexual, entre outros) podem comprometer a qualidade de vida deles.

Dentre os efeitos colaterais associados a alguns medicamentos, temos a perda de libido em mulheres, que, na maioria das vezes, acreditam ser decorrente de algum outro motivo e nem mesmo correlacionam com o fármaco em uso.

Devido ao pudor e à falta de informação, muitas mulheres acabam nunca procurando atendimento médico para melhorar o quadro e ainda se culpam pela ausência de libido. Além disso, muitos médicos evitam tocar no assunto por desconhecimento, receio de assédio ou por acharem que não têm abertura para falar sobre o tema.

O conhecimento a respeito da influência dos medicamentos na função sexual feminina ainda é muito escasso, mas sabemos que algumas medicações causam essa interferência – e são mais comuns do que imaginamos.

Acima de tudo, isso precisa ser conversado com a paciente. Assim, fica mais fácil assegurar a adaptação à medicação, o controle dos efeitos colaterais, a manutenção da qualidade de vida e a adesão ao tratamento.

Antidepressivos

Sabemos que transtornos psiquiátricos como depressão ou ansiedade, bem como conflitos, fadiga e estresse são fatores de risco de disfunção sexual. O tratamento melhora a qualidade de vida, reduzindo ou resolvendo os sinais e sintomas, porém, as estratégias terapêuticas mais utilizadas para tratar esses quadros podem causar diminuição da libido e retardo no orgasmo.

Mas nem tudo está perdido. Existem alternativas como redução (vagarosa e cuidadosa) da dose (desde que o efeito antidepressivo seja preservado); troca de medicamento; acréscimo de bupropiona ao esquema de monoterapia sendo realizado; e, em caso de retardo no orgasmo e desde que a paciente não tenha contraindicações, pode ser acrescentado um inibidor da 5-fosfodiesterase (também conhecido como sildenafila e afins) ao esquema terapêutico – sim, mulheres também podem!

Antipsicóticos

Os antipsicóticos estão associados a disfunção sexual tanto em homens como em mulheres. Esses medicamentos inibem a produção de dopamina, que atua como um neuromodulador central da função sexual, causando comprometendo a libido, a lubrificação e o orgasmo.

Além disso, os antipsicóticos podem aumentar os níveis de prolactina, que causa supressão gonadal, afetando a função sexual.

Uma das opções é a troca para antipsicóticos de segunda geração que reduzem bastante os sinais e sintomas. A falta de lubrificação é relativamente fácil de ser contornada por meio do uso de cremes e géis vaginais.

Anti-hipertensivos

Não sabemos exatamente se a disfunção sexual é causada pela própria hipertensão ou pelo uso de anti-hipertensivos, mas o fato é que estudos mostram que mulheres hipertensas têm mais disfunção sexual do que mulheres não hipertensas. Esses mesmos estudos indicam que a prevalência da disfunção não difere entre tratadas versus não tratadas.

Apesar de ainda não sabermos os mecanismos exatos, devemos estar cientes de que esta pode ser uma queixa dessas pacientes. Além disso, o uso de espironolactona pode reduzir a libido e comprometer a lubrificação, e os beta bloqueadores alteram bastante a função sexual tanto dos homens como das mulheres.

Anticoncepcionais

Qual ginecologista nunca ouviu uma paciente se queixar de redução da libido após iniciar o uso de contraceptivo? Fisiologicamente, os contraceptivos reduzem os níveis de testosterona ovariana por meio da supressão da secreção do hormônio luteinizante (LH) e o estrogênio contido nesses medicamentos pode aumentar os níveis de SHBG (responsável pela ligação e transporte dos hormônios sexuais), resultando na diminuição das concentrações de testosterona livre. Porém, não existem evidências "A" de que as alterações da função sexual diante do uso de contraceptivos sejam causadas pela diminuição da atividade androgênica.

O uso de contraceptivos pode reduzir a libido ou não, varia em cada mulher e cada estilo de vida, podendo ocorrer disfunção sexual caso as pacientes tenham: relacionamento amoroso de longa duração, responsabilidades com os filhos e família, ansiedade, estresse e fadiga. E pode aumentar a libido em mulheres que acreditam ter a atividade sexual facilitada pela confiança de poder estar sexualmente ativa sem engravidar.

Podemos sempre trocar o tipo ou a via de contracepção, além de prover orientações para melhorar a libido e a qualidade de vida da mulher.

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