Casos e mortes por covid-19 disparam em Portugal, que já tem hospitais próximos do limite

Giuliana Miranda

Notificação

27 de janeiro de 2021

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Apontado como exemplo positivo nos primeiros meses da pandemia, Portugal vive, desde os primeiros dias de 2021, um cenário de aumento generalizado do número de casos, internações e mortes por covid-19.

Na última semana, Portugal foi o país do mundo com mais novos casos diários por milhão de habitantes. Uma média diária de 1.083,6, de acordo com dados coletados pela Johns Hopkins University.

O número de mortes por milhão de habitantes também levou o país ao topo do ranking mundial, com 18,2 óbitos, ligeiramente à frente do Reino Unido, que registou 18,1 mortes.

"É evidente que nós estamos no pior período da pandemia. Desde a mortalidade ao número de internamentos e de novos casos. Não há nenhum indicador que não esteja, nestes últimos dias, nas suas piores condições", avalia o Dr. Ricardo Mexia, epidemiologista e presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública.

Especialistas do país, que tem uma população de cerca de 10,1 milhões de pessoas, consideram que a flexibilização das regras de distanciamento social para o período de Natal contribuiu para o agravamento dos números da pandemia.

Ao contrário de vários outros países europeus, Portugal não teve restrições de deslocações internas e nem limitações à quantidade máxima de pessoas permitidas nas confraternizações natalinas.

Em seu mais recente relatório, o Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC) afirma que o aumento dos casos de covid-19 no país "foi atribuído principalmente ao relaxamento das medidas" nas festividades de fim de ano, mas também, de uma maneira menos extensa, à difusão da variante britânica em algumas regiões do país. [1]

Um levantamento feito pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) indicava que a variante britânica do SARS-CoV-2 está em disseminação rápida pelo país.

Na segunda semana de janeiro, ela já era responsável por 13% dos casos, com previsão de se tornar, em breve, dominante.

"As estimativas apontam para que, daqui a três semanas, esta variante possa representar cerca de 60% de todos os casos covid-19 em Portugal", disseram os pesquisadores.

Sobrecarregados, os hospitais públicos portugueses estão próximos do limite. Para conseguir ampliar a rede de atendimento para pacientes com SARS-CoV-2, as unidades de Lisboa, que já vinham adiando cuidados não urgentes, agora também já precisam interromper até cirurgias prioritárias, desde que o cancelamento "não coloque o utente em risco de vida ou grave prejuízo".

Até cirurgias oncológicas foram afetadas, o que provoca uma espécie de efeito dominó com consequências em várias esferas dos cuidados de saúde no país.

Após bater mais um recorde diários de mortes por covid-19 no domingo (24), com 275 óbitos, Portugal registou, na segunda-feira (25), a maior quantidade de pessoas internadas com a doença.

Em declarações à imprensa após o anúncio, a ministra da Saúde, Marta Temido, confirmou que o esforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é "real, evidente e preocupante".

Em algumas regiões, incluindo a capital, Lisboa, as autoridades voltaram a abrir hospitais de campanha. Mais do que leitos, no entanto, existe agora a dificuldade de preencher as novas vagas com recursos humanos.

"O que se está a passar é que ainda temos um sistema de saúde com possibilidade de expansão, ainda que diminuta. Nomeadamente na medicina intensiva, mas que é muito condicionada aos recursos humanos. Nós temos dificuldades de ter enfermeiros e médicos para tratar os doentes. Temos ventiladores, com imaginação conseguimos achar os espaços, mas temos dificuldades neste momento de achar os recursos humanos", avalia o Dr. João Gouveia, presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos.

"As pessoas já estão a fazer o trabalho de duas ou três. Não conseguem agora fazer o de quatro ou cinco", completa o Dr. Ricardo Mexia.

Como forma de tentar conter o avanço da pandemia, o governo português iniciou, em 15 de janeiro, um novo confinamento geral no país. As aulas presenciais em escolas e universidades, que inicialmente haviam sido mantidas, acabaram por ser suspensas uma semana depois.

Mesmo assim, os casos continuam elevados. Até 25 de janeiro, o país somava 643.113 casos confirmados, além de 10.721 mortes por covid-19.

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