Covid-19: Ampla revisão avalia acurácia diagnóstica de sinais e sintomas

Dra. Sabrine Teixeira Grünewald, MSc

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7 de agosto de 2020

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Enquanto muitos pacientes com covid-19 são assintomáticos e outros apresentam sintomas leves, uma pequena parcela ─ especialmente os mais idosos ─ pode ter quadros graves, que requerem hospitalização, cuidados intensivos e podem levar ao óbito.

O método diagnóstico mais utilizado é o teste por reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR, sigla do inglês, Reverse Transcription Time Polymerase Chain Reaction) para SARS-CoV-2 (acrônimo do inglês, Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2), o vírus que causa a covid-19. Este teste apresenta alta sensibilidade e especificidade.

Entretanto, em alguns países esse exame não é disponibilizado para todos os pacientes com suspeita de covid-19 ou para as pessoas que tiveram contato com um paciente com infecção confirmada, sendo reservado, por exemplo, para pacientes hospitalizados. Assim, conhecer a sensibilidade e a especificidade de cada sinal e sintoma é importante para definir a probabilidade de um determinado paciente apresentar covid-19, bem como para definir questões relacionadas com o isolamento dos casos suspeitos.

Com o objetivo de avaliar a acurácia diagnóstica dos sinais e sintomas para determinar se um paciente que procura atendimento na atenção primária ou no pronto-socorro tem covid-19, a equipe da Cochrane realizou uma ampla revisão sistemática da literatura disponível até o momento.

Após uma busca inicial que gerou mais de 12.000 resultados, foram selecionados 16 estudos contendo 7.706 participantes no total. Vinte e sete sinais e sintomas foram identificados e em seguida agrupados em quatro categorias: sistêmicos, respiratórios, gastrointestinais e cardiovasculares.

Os resultados variaram muito entre os estudos, e a maioria dos sinais e sintomas apresentou baixa sensibilidade e especificidade; entretanto, várias limitações foram descritas pelos autores da Cochrane, o que pode dificultar a interpretação e a generalização dos achados obtidos.

Sinais e sintomas como tosse, dor de garganta, febre, mialgia ou artralgia, fadiga e cefaleia foram os únicos que alcançaram sensibilidade > 50%. Desses, febre, mialgia ou artralgia, fadiga e cefaleia também apresentaram sensibilidade > 90%. Assim, poderiam ser considerados como um alerta vermelho para covid-19, visto que a ocorrência destes sintomas aumenta substancialmente o risco de infecção por SARS-CoV-2.

Detalhes do estudo

Um achado curioso dessa revisão é que a maioria dos sinais e sintomas respiratórios avaliados, como tosse, dor de garganta ou expectoração, teve baixa sensibilidade. Além disso, em alguns dos estudos analisados, a presença de sintomas respiratórios diminuiu a probabilidade de covid-19. Os autores sugeriram que esse resultado contraintuitivo possa ter ocorrido em função do viés de seleção das amostras nos estudos.

Por outro lado, a presença de sinais e sintomas sistêmicos, como febre e fadiga, pareceu aumentar a probabilidade de diagnóstico de infecção pelo novo coronavírus.

Outra limitação importante foi o fato de nenhum estudo avaliado ter analisado o impacto da combinação entre sinais e sintomas diferentes. Os estudos se concentraram em sinais e sintomas isolados.

"Os sinais e sintomas isolados incluídos nessa revisão parecem ter propriedades diagnósticas muito pobres, embora isso deva ser interpretado no contexto do viés de seleção e da heterogeneidade entre estudos", escreveram os autores.

"Com base nos dados atualmente disponíveis, nem a ausência nem a presença de sinais e sintomas são acuradas o bastante para confirmar ou descartar a doença", destacaram.

Esse dado pode ser particularmente importante para países com menores índices de exames diagnósticos para covid-19. O Brasil, por exemplo, realizou até o momento pouco mais de 23 mil testes para cada 1 milhão de habitantes, número mais de seis vezes menor que os Estados Unidos. Esse número é ainda menor em países como Índia e México, que no momento enfrentam o pico da pandemia em seus territórios.

Outra limitação foi que os revisores tinham a intenção de avaliar os sinais e sintomas de pacientes que buscaram atendimento na atenção primária, mas os estudos selecionados não incluíam esse cenário de prática.

Os resultados da revisão também não são aplicáveis a crianças ou idosos especificamente, por conta das populações dos estudos que a originou.

Perspectivas e diretrizes para novos estudos

Os autores da Cochrane sugerem a necessidade de mais estudos sobre o tema, de preferência de natureza prospectiva. Eles também argumentaram que é importante evitar o viés de seleção na população incluída, uma vez que isso pode ter prejudicado a interpretação dos resultados.

Também faltam dados sobre sinais e sintomas mais específicos, como perda do olfato ou paladar, destacaram.

Além disso, eles defenderam que os estudos deveriam focar em combinações de sinais e sintomas, pois isso seria mais fiel ao que acontece no mundo real. "Os médicos baseiam seus diagnósticos em múltiplos sinais e sintomas, mas os estudos não refletiram esse aspecto da prática clínica", escreveram.

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