Um estudo brasileiro publicado no periódico Science[1] sugere que a infecção prévia pelo vírus da dengue pode proteger contra o vírus Zika.
O trabalho, que contou com a participação de muitos pesquisadores brasileiros, mostrou os resultados coletados em Pau da Lima, um bairro de Salvador, na Bahia, ao longo da epidemia de zika de 2015. O nordeste brasileiro é região endêmica de dengue há mais de 30 anos, e Pau da Lima foi uma das áreas mais afetadas pelo surto de zika em 2015.
Os pesquisadores observaram que a concentração de anticorpos para dengue tem relação direta com o possível efeito protetor contra o vírus Zika. Entende-se com isso que concentrações elevadas de anticorpos de dengue aumentariam a proteção contra infecções por Zika.
Para chegar a esses dados, os pesquisadores analisaram 642 pessoas com história de infecção prévia por dengue em Pau da Lima.
Pelo fato de os vírus serem muito semelhantes, a comprovação da infecção pelo Zika foi obtida por meio de um ensaio clínico que mediu a resposta da imunoglobulina G3 (IgG3) à proteína NS1 do vírus Zika (anti-ZIKV NS1 IgG3). Os achados do estudo sugeriram que cada duplicação da concentração de anticorpos contra dengue estaria ligada a uma redução de 9% no risco de infecção pelo vírus Zika. Para aumentar a acurácia dos resultados, os pesquisadores realizaram o teste PRNT (sigla do inglês, Plaque Reduction Neutralization Tests) como forma de confirmação da infecção por zika.
De acordo com um dos autores do estudo, o Dr. Ernesto Marques, médico do Departamento de Microbiologia e Doenças Infecciosas na University of Pittsburgh, nos Estados Unidos e do Instituto Aggeu Magalhães, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), como o estudo identificou que pessoas com poucos anticorpos contra dengue têm maior risco de se infectar por zika do que quem apresenta muitos anticorpos contra dengue, o objetivo agora é justamente avaliar se a imunização por meio da vacina contra dengue aumentaria suficientemente o número de anticorpos, a ponto de prevenir a infecção pelo vírus Zika.
"Isso não significa que iríamos substituir uma vacina específica contra zika, mas, enquanto ela não existe, poderíamos usar a contra dengue para produzir uma proteção contra a doença, mesmo que seja de curta duração", mas que possa proteger a mulher jovem contra a infecção durante a gestação, explicou o pesquisador. O principal problema provocado pela infecção é a síndrome da zika congênita.
Próximos passos
A primeira autora do estudo, Dra. Isabel Rodriguez-Barraquer, médica do Departamento de Medicina da University of California, ressalta que o estudo sugere que ter tido dengue confere alguma proteção contra a infecção pelo vírus Zika, dependendo da concentração de anticorpos. No entanto, serão necessários mais estudos para validar esses achados, e para entender quais aspectos da imunidade são protetores.
A Dra. Isabel contou que, no futuro, os pesquisadores pretendem investigar quais dos quatro sorotipos da dengue possivelmente protegem mais contra o vírus Zika, e qual deles pode, porventura, favorecer a infecção.
"Nosso estudo é importante porque foi a primeira caracterização do que aconteceu no epicentro do surto de zika no Brasil. Além disso, é importante porque há muito interesse em entender de que maneira vírus semelhantes como o da dengue e o Zika, interagem", esclareceu a pesquisadora.
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Citar este artigo: Infecção prévia pelo vírus da dengue pode gerar imunidade contra o Zika - Medscape - 21 de fevereiro de 2019.
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