3. Nove semanas versus um ano de trastuzumabe adjuvante no tratamento do câncer de mama localizado HER2-positivo
A redução no tempo de duração dos tratamentos oncológicos é um tema em destaque na atualidade. Essa estratégia, além de diminuir a toxicidade, também auxilia na contenção de custos. Estima-se que a utilização de trastuzumabe por nove semanas reduziria em seis vezes o valor do tratamento, em comparação com os tradicionais 12 meses de adjuvância. Essa se torna uma alternativa particularmente interessante, principalmente para países de baixo poder econômico, onde o acesso ainda é um problema.
O estudo de fase III SOLD foi conduzido em 65 centros distribuídos por sete países, com o objetivo de avaliar essa conduta. Foram recrutadas 2176 pacientes com câncer de mama localizado HER2-positivo (HER2+), que foram randomizadas 1:1 para receber, no braço experimental, nove semanas de trastuzumabe adjuvante (n=1085) ou 12 meses da medicação (n=1089), no braço controle. O esqueleto quimioterápico utilizado em ambos grupos foi composto por três ciclos de docetaxel + trastuzumabe, seguidos de três ciclos de FEC. No braço de nove semanas, trastuzumabe foi utilizado apenas em concomitância com docetaxel por três ciclos a cada 21 dias. Ao passo que no braço controle, além das três aplicações associadas ao taxane, o agente anti-HER2 foi administrado também a cada três semanas por 14 ciclos adicionais, após o término do FEC.
As características demográficas de ambos grupos foram bem balanceadas. A mediana de idade foi de 56 anos, 33% das inscritas estavam na pré-menopausa, 92% tinham neoplasia ductal invasora, 66% eram RE positivo e 45% expressavam também RP. Dentre as participantes, 60% eram axila negativa, 30% tinham entre um e três linfonodos acometidos, e 10% tinham mais de três gânglios positivos para neoplasia. Cinquenta e seis porcento dos tumores tinham 2 centímetros ou menos, e 41% tinham de 2,1 a 5,0 cm de diâmetro. Em apenas 3% dos casos o tamanho tumoral superou os 5 cm.
O trabalho falhou em demonstrar a não-inferioridade de nove semanas de trastuzumabe adjuvante em comparação com um ano, no tratamento de tumores HER2-positivo. A taxa de sobrevida livre de doença foi de 90,5% nas participantes que receberam 12 meses de terapia, e de88,0% para o grupo tratado com nove semanas (HR de 1,39; IC de 90%, 1,12 - 1,72). Em termos de sobrevida global, 95,9% do grupo controle e 94,7% do grupo experimental estavam vivos em cinco anos. (HR de 1,36; IC de 90%, 0,98 - 1,89). A taxa de pacientes livres de recorrência à distância também foi maior com o uso prolongado de trastuzumabe: 94,2% comparado com 93,2% (HR de 1,24; IC de 90%, 0,93 - 1,65).
No que diz respeito à segurança, houve menos toxicidade cardíaca no grupo que usou o regime mais curto. Foram 22 casos (2,02%) de eventos cardíacos protocolados no braço de nove semanas versus 42 casos (3,85%) no grupo de um ano, com significado estatístico (P = 0,012). Além disso, os índices de insuficiência cardíaca também foram maiores no grupo mais exposto a trastuzumabe: 1,93% contra 3,03% (P = 0,046).
Para lembrar: Segundo o autor, a partir desses dados torna-se possível aconselhar os pacientes que nove semanas de terapia adjuvante com trastuzumabe é melhor do que não usar o bloqueio HER2 nesse cenário. E que o regime mais curto pode proporcionar resultados semelhantes aos observados com os 12 meses tradicionais de tratamento, porém com menor toxicidade cardíaca. Entretanto, até o presente momento, o tratamento standard para o câncer de mama HER2-positivo ainda deve contemplar 12 meses de trastuzumabe. |
Referência:
Joensuu H, Fraser J, Wildiers H, et al. A randomized phase III study of adjuvant trastuzumab for a duration of 9 weeks versus 1 year, combined with adjuvant taxane-anthracycline chemotherapy, for early HER2-positive breast cancer. The Synergism Or Long Duration (SOLD) trial. Presented at: 2017 San Antonio Breast Cancer Symposium; December 5-9, 2017; San Antonio, TX. Resumo GS3-04.
Citar este artigo: Clube de Revista: os destaques do San Antonio Breast Cancer Symposium de 2017 - Medscape - 10 de janeiro de 2018.
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