COMENTÁRIO

Clube de Revista: os destaques do San Antonio Breast Cancer Symposium de 2017

Dr. Bruno Lemos Ferrari

Notificação

10 de janeiro de 2018

Colaboração Editorial

Medscape &

Neste artigo

Dr. Bruno Lemos Ferrari

Veja os estudos mais importantes do último San Antonio Breast Cancer Symposium, resumidos e comentados pelo Dr. Bruno Lemos Ferrari, presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas e oncologista clínico da Oncocentro Belo Horizonte.

1. Terapia estendida com inibidores de aromatase por mais dois anos parece ser equivalente a cinco anos no câncer de mama RH+ localizado

Recentemente, uma série de importantes estudos consolidaram o uso estendido da hormonioterapia no tratamento do câncer de mama receptor hormonal positivo (RH+) localizado. A partir desses dados, a manipulação endócrina por cinco anos adicionais, totalizando 10 anos de terapia adjuvante, tornou-se o padrão-ouro em grande parte dos centros de referência.

No entanto, pesquisadores do Austria Breast and Colorectal Cancer Study Group anunciaram que esse tempo pode ser reduzido para dois anos, sem prejuízo nos desfechos mensurados. Essa conclusão se deve aos resultados do estudo de fase III ABCSG-16, apresentados no San Antonio Breast Cancer Symposium de 2017 (SABC).

O trabalho recrutou 3484 mulheres na pós-menopausa com câncer de mama RH+ localizado. Todas haviam recebido inicialmente cinco anos de terapia hormonal adjuvante, seja com tamoxifeno (51%), com inibidor de aromatase, ou com o switch entre as duas classes. Elas foram randomizadas para dois grupos: o primeiro recebeu dois anos adicionais de terapia com anastrozol na dose de 1 mg/dia (n=377) e o segundo foi tratado com cinco anos da mesma medicação (n=380). A mediana de idade foi de 64 anos. Em 72% dos casos o tumor tinha 2 cm ou menos, e apenas 31% das pacientes incluídas apresentavam comprometimento linfonodal.

Após um seguimento mediano de 106 meses, a sobrevida livre de doença das pacientes que usaram dois anos de IA foi igual à do grupo controle de cinco anos: 71,1% versus 70,3% (HR de 0,997; IC de 95%, 0,86 - 1,15; P = 0,982). Também não houve diferença em termos de sobrevida global, sendo que em 10 anos 85,3% e 84,9% das participantes estavam vivas nos grupos de dois e cinco anos, respectivamente (HR de 1,007; P = 0,947).

A utilização mais prolongada de inibidores de aromatase foi relacionada a uma maior tendência de desenvolvimento de fraturas ósseas (6,3% versus 4,7%), sem, no entanto, atingir significado estatístico (P = 0,053). Contudo, de uma forma geral, os autores observaram que as participantes que utilizaram menor tempo de anastrozol também experimentaram menores índices de artralgia e de sintomas vasomotores, favorecendo uma melhor a adesão ao tratamento.

O apresentador concluiu sua palestra sugerindo que após os tradicionais cinco anos de terapia endócrina adjuvante, dois anos adicionais de inibidor de aromatase são suficientes como terapia estendida para a maioria das pacientes com câncer de mama luminal. E ponderou que, no futuro, poderão haver biomarcadores específicos capazes de auxiliar na identificação de quais pacientes se beneficiariam de um tempo maior de exposição à classe.

Para lembrar:
O apresentador do estudo afirmou que não enxerga empecilhos em colocar esses achados na própria pratica clínica, e espera da comunidade oncológica mais estudos de redução de doses, que se tornam imprescindíveis nesse momento em particular, em que os IA estão sendo associados a inibidores de CDK 4/6, o que potencializa a toxicidade dos tratamentos.

Referência:
Gnant M, Steger G, Greil R, et al. A prospective randomized multi-center phase-III trial of additional 2 versus additional 5 years of anastrozole after initial 5 years of adjuvant endocrine therapy – results from 3,484 postmenopausal women in the ABCSG-16 trial. Presented at: 2017 San Antonio Breast Cancer Symposium; December 5-9, 2017; San Antonio, TX. Resumo GS3-01.

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