Discussão
Uma das complicações de ablação de fibrilação atrial é a confecção de lesões e cicatrizes nos átrios, que são berço para circuitos de reentrada. Fibrilação atrial e flutter são arritmias que compartilham os mesmos fatores de risco, e geralmente estão ligadas de alguma forma a remodelamento elétrico e fibrose atrial, hipertensão, apneia do sono, cirurgia cardíaca, e coronariopatias, entre outras causas.
O ECG mostra uma taquicardia regular de QRS estreito, inferindo desde já o diagnóstico de taquicardia supraventricular. A frequência de 150bpm é sugestiva de flutter atrial com condução atrioventricular 2:1 (ou seja, a cada dois ciclos da arritmia no átrio é gerado um batimento ventricular). O termo "ciclo" é extremamente preciso, pois cada ativação atrial corresponde a uma volta do circuito, e ao término de um batimento nasce o seguinte. Mais frequentemente, em especial em pacientes sem histórico de cirurgia cardíaca ou ablação prévias, o circuito do flutter atrial se localiza ao redor do anel tricúspide.
Outra característica do flutter atrial é a atividade elétrica contínua no átrio, mostrando que não existe momento de repouso atrial. Isso pode ser melhor visualizado em derivações onde o QRS é menos observado (nesse ECG, em DII e aVR a atividade atrial é mais evidente). A atividade atrial exibe um contínuo, o aspecto de "dente de serrote" ou "serrilhado" do flutter atrial.
Em caso de dúvida na sala de emergência, manobras que aumentam o grau de bloqueio do nó atrioventricular, como manobras vagais ou adenosina, podem afastar os complexos QRS transitoriamente e permitir melhor visualização da atividade atrial.
Citar este artigo: Desafio ECG: homem de 52 anos com palpitações taquicárdicas, sem tonturas ou sinais de baixo débito - Medscape - 13 de setembro de 2017.
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