Ação coletiva na Colômbia contra vacina do papilomavírus humano

Carlos Guevara-Casas

Notificação

18 de agosto de 2017

A novela já antiga entre os detratores das vacinas contra o papilomavírus humano (HPV) na Colômbia, iniciou um novo capítulo. A Associação Reconstruindo Esperança, representada pela advogada Mónica León del Río, entrou com uma ação judicial em busca de uma indenização coletiva de 490.000 milhões de pesos colombianos, aproximadamente 30,5 milhões de dólares norte-americanos.

A associação, que agrupa 700 supostas vítimas, interpôs uma ação coletiva em 4 de agosto contra a empresa farmacêutica Merck Sharp & Dohme, produtora da Gardasil, a vacina que foi aplicada pelo governo colombiano como medida de saúde pública, e pede as indenizações por conta de danos causados pela aplicação da vacina principalmente no sistema imunológico e neurológico, além de pedir que a vacina seja declarada como não segura.[1]

Entretanto, a segurança do uso da vacina contra o papilomavírus humano parece ser mais do que adequada, com efeitos secundários de menor gravidade sendo os mais frequentemente relatados, entre eles dor excessiva no local de aplicação, cefaleia ou náusea ocasionais, em taxas de 7,5 casos por cada 100.000 doses.[2] Os controles de segurança foram amplos, cumprindo as exigências da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, dos Centers for Disease Control and Prevention(CDC), e da Organização Mundial de Saúde (OMS), sem apresentar eventos graves.[3] O estudo mais amplo sobre esse tema acompanhou mais de dois milhões de mulheres vacinadas.[4]

Desconfiança com vacinas

A desconfiança em relação a vacinas não é nova. Entretanto, a generalização dessa suspeita é relativamente recente. Isso se deve, em grande parte, ao artigo do médico britânico Andrew Wakefield, que em 1998 associou a aplicação da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) com o desenvolvimento de autismo.[5] O informe era falso, foi retratado, e o autor perdeu a licença médica.[6]

Ainda assim, os efeitos do caso tiveram impacto em distintos lugares do mundo.[7] Incluindo na Inglaterra, onde as doenças infecciosas apresentaram picos dos quais ainda não houve recuperação. Uma reportagem do jornal The Telegraph de 2009 adverte sobre as consequências do temor às vacinas. Após esses rumores, houve uma epidemia de caxumba no Reino Unido em 2005, com 43.378 casos, enquanto o sarampo aumentou para 1370 casos em 2008. Em 2012 surtos ainda continuavam sendo registrados.[8]

Na Nigéria, em 2003, foi realizada uma ampla campanha de vacinação contra poliomielite no norte do país, já que 45% dos casos ocorriam nessa região. Logo se espalhou o rumor de que as vacinas provocavam esterilidade. Samuel Jagede, da Universidade de Ibadán, na Nigéria, relatou as sequelas desse caso.[9] Em 2006, os cinco estados do norte nigeriano concentravam mais da metade dos casos de poliomielite de todo o mundo.

Na Colômbia o uso de vacinas profiláticas contra o papilomavírus humano data de 2006. Em 2012 se iniciou a aplicação da versão tetravalente em três doses. A Dra. Lina María Trujillo, coordenadora do Grupo de Ginecologia Oncológica do Instituto Nacional de Cancerologia, na Colômbia, contou ao Medscape en Español como o caso foi se ampliando, enquanto a imunização diminuía, a partir de 2014, quando um grupo de meninas vacinadas apresentou diversos sintomas, possivelmente associados a uma intoxicação. Apesar de nunca ter havido um vínculo de causalidade, o rumor se estendeu. Logo surgiu uma associação de vítimas da vacina lideradas por uma advogada local, Mónica León del Río.

Uma batalha legal

Anteriormente, a mesma advogada já havia apresentado outras ações semelhantes, em relação à mesma situação, que foram ajuizadas em nome da Associação Reconstruindo Esperança em 2015, cujo objetivo é obrigar o governo colombiano a gerar um registro de casos de efeitos adversos das vacinas, assim como a tutela por parte do estado para as menores consideradas vítimas. Agora, a nova ação se apresenta oito dias depois de uma outra ajuizada no Japão, de características semelhantes, como relatado pelo Medscape.

Os argumentos utilizados na denúncia japonesa são semelhantes aos do caso colombiano. A queixa é contra o governo e contra os produtores da vacina, Glaxo Smith Kline (produtora da Cervarix) e Merck & Co (produtora da Gardasil), por uma série de problemas de saúde hipoteticamente associados à Gardasil (incluindo cefaleias, dor e náuseas). O pedido é de uma compensação de 15 milhões de ienes por cada menor afetada, aproximadamente 140.682 dólares americanos.

Referências ao caso japonês são mencionadas nas redes sociais da Associação Reconstruindo Esperança. Apesar de se manifestar veementemente contra a aplicação das vacinas que combatem o HPV, nas mesmas redes sociais da associação se promove o uso da medicina ortomolecular, a pseudociência criada pelo químico Linus Pauling, como uma terapia válida.

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