Indução com 39 semanas é melhor para a mulher e o bebê

Alicia Ault

Notificação

26 de maio de 2016

WASHINGTON, DC — O momento ideal para partos de mulheres com gestação de baixo risco tem sido uma fonte contínua de controvérsia, mas um debate sobre a indução eletiva do parto com 39 semanas no Encontro Clínico Anual de 2016 do American Congress of Obstetricians and Gynecologists acabou por chegar a um consenso.

Os participantes do debate concordaram que as evidências mostram que esperar mais que 39 semanas não é recomendável.

“Continuar a gestação para além de 39 semanas é mais arriscado para o feto do que acreditávamos previamente”, disse o Dr. Errol Raymond Norwitz, chefe do departamento de ginecologia e obstetrícia na Tufts University School of Medicine em Boston. Além disso, os riscos para a mãe associados com a indução de rotina “são menores que o esperado”, disse ele.

“Eu era absolutamente contra” a indução eletiva do parto com 39 semanas, disse o Dr. Charles Lockwood, reitor da Morsani College of Medicine na University of South Florida em Tampa. De fato, ele estava preparado para desmontar a ideia.

Mas depois de muita leitura, “é esmagadoramente evidente que a indução eletiva do parto é a estratégia mais lógica”, disse ele.

Membros da plateia em um salão lotado foram convencidos pelos Drs. Norwitz e Lockwood. Antes das apresentações, 20% disse que seria melhor fazer o parto da maioria das mulheres com 39 semanas, 17% não tinham certeza, e 63% eram contra a ideia.

Após a apresentação, 81% dos participantes disse que mudaram ou reconsideraram sua visão. De fato, 70% disseram que concordavam que era melhor realizar o parto da maioria das mulheres com 39 semanas, e 21% ainda não tinha certeza, mas apenas 9% eram contra a ideia.

Natimortos: perigo maior do que se imagina

Mesmo com as taxas de natimortos após 39 semanas terem aumentado desde o final dos anos 1980, a natimortalidade ainda parece ser pouco considerada, disse o Dr. Norwitz.

Ele apontou para vários estudos que mostraram que o risco de natimortos é maior com 40 semanas de gestação ou mais.

“Mortes fetais antes do parto correspondem a mais mortes perinatais do que complicações da prematuridade ou síndrome da morte súbita do lactente”, disse ele, citando um relato que estimou que ocorreram pelo menos 26.000 natimortos nos Estados Unidos em 2004 (BMC Pregnancy Childbirth2015;15[Suppl 1]:A11).

Esses achados têm “sido recapitulados em vários conjuntos de dados”, explicou.

E um estudo que ele descreveu mostrou um risco crescente de natimortos e mortalidade neonatal com o passar de cada semana de idade gestacional (Br J Obstet Gynaecol1998;105:169-173).

Não a causa do aumento de natimortos, mas ela pode estar relacionada a disfunção uteroplacentária. Também pode refletir falhas na identificação de fatores de risco como gestação múltipla, infertilidade, pressão arterial baixa, restrição do crescimento intrauterino, e parto prévio de um recém-nascido pequeno para a idade gestacional, disse o Dr. Norwitz.

Sem aumento nas taxas de cesariana

O maior risco associado a uma falha de indução com 39 semanas é o parto cesariano, mas tanto o Dr. Lockwood quanto o Dr. Norwitz disseram que não parece haver evidência de aumento, e talvez até mesmo haja redução nas taxas de cesariana, comparado com a conduta expectante.

Alguns estudos indicaram que a taxa de parto cesariano aumenta em multíparas com um exame cervical desfavorável, disse o Dr. Norwitz.

No entanto, os dados comparando as taxas de parto cesárea e outros desfechos após a indução com 39 semanas e após conduta expectante até 41 semanas são fracos ou não existentes, em parte porque seriam necessárias de duas a 12 milhões de gestações para obter boas respostas, explicou o Dr. Lockwood.

Então ele e seus colegas conduziram uma análise de efetividade comparativa. “Nós avaliamos cada desfecho concebível que poderíamos imaginar”, disse ele. O modelo envolveu probabilidades para 60 desfechos. A equipe então criou uma microssimulação Monte Carlo para mapear a efetividade pareada.

A conduta expectante esteve associada com maiores taxas de parto cesárea do que a indução com 39 semanas, e “um aumento claro na mortalidade perinatal”, ele relatou. As taxas de mortalidade materna não foram significativamente semelhantes entre os dois grupos, mas as taxas de complicações graves foram menores para o bebê e mãe no grupo da indução, disse o Dr. Lockwood.

A conclusão é que “a indução eletiva com 39 semanas é sempre uma estratégia melhor” que a conduta expectante até 41 semanas, disse ele.

Tanto o Dr. Norwitz quanto o Dr. Lockwood disseram que concordam que o sucesso da indução requer uma datação muito precisa da idade gestacional. “Se você estiver errado, pode colocar a paciente em perigo”, disse o Dr. Lockwood.

Ele também alertou que indução “tem que ser uma indução real de trabalho de parto – e não aquela que termina às cinco da tarde”.

O Dr. Norwitze e o Dr. Lockwood não declararam relações financeiras relevantes.

Encontro Clínico Anual de 2016 do American Congress of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Apresentado em 16 de maio de 2016.

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