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Remuneração e satisfação dos médicos brasileiros – 2022

Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

O Brasil está entre os países mais duramente atingidos pela pandemia de covid-19, que teve seu fim declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em maio de 2023. Com o objetivo de entender como a emergência sanitária afetou a atividade de médicas e médicos, suas condições de trabalho e ganhos no último ano da pandemia e nos meses seguintes, profissionais de várias localidades brasileiras (sendo 64% homens e 36% mulheres) foram convidados a responder a um questionário on-line com duração de aproximadamente 10 minutos. Os resultados mostraram que a maioria dos médicos recuperou as condições salariais e de trabalho precedentes à pandemia. Porém a desigualdade de gênero se aprofundou: mesmo desempenhando as mesmas tarefas, as mulheres continuam ganhando consideravelmente menos que os homens na medicina. De modo geral, as respostas fornecidas em 2022 e as comparações com as pesquisas feitas em 2019 (ano-base 2018) e 2020 (ano-base 2019) trazem percepções valiosas sobre os desafios enfrentados por médicas e médicos durante e depois da pandemia. Conheça os resultados nos slides a seguir.

Remuneração e satisfação dos médicos brasileiros – 2022

Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

Nas respostas dadas pelos participantes em 2022, 74% dos generalistas não se consideram bem remunerados, enquanto 64% dos especialistas sentem-se da mesma forma. A insatisfação é maior entre os médicos que trabalham em hospital (72%) do que para quem atua no consultório (57%), e entre as mulheres (74%) em relação aos homens (60%). A satisfação geral com os ganhos foi maior entre os participantes nos anos anteriores.

Remuneração e satisfação dos médicos brasileiros – 2022

Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

Entre 2020 e 2022, a renda média anual dos participantes subiu 7,6% ou R$ 18 mil reais ao ano. A média da inflação acumulada no período foi de 16,43%. Entre os anos de 2018 e 2020, a diferença na média anual de ganhos foi de 7,2% ou R$ 16 mil reais a mais (média de R$ 1,3 mil mensais). A inflação média acumulada no período foi de cerca de 9,02%, de acordo com dados do IBGE. No detalhamento do estudo feito em 2022, observou-se uma grande disparidade entre os valores anuais recebidos por generalistas (média de R$ 157.884) e especialistas (R$ 269.502). Quando ao poder aquisitivo, a maioria dos médicos (56%) disse que houve perdas. Para 23%, nada mudou. Apenas 21% sentiram que houve aumento.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

No ano-base de 2018 as mulheres ganharam em média 31,77% menos do que seus pares do sexo masculino. Em 2022 essa diferença aumentou: o ganho dos médicos foi 51,64% maior que o valor médio recebido pelas médicas. Chama a atenção também que a proporção de mulheres que não receberam seus aumentos anuais (27%) supera a quantidade de homens (20%).

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

No início da pandemia de covid-19 no Brasil, em 2020, houve um aumento médio de sete horas de trabalho por semana em relação aos dados obtidos no levantamento de 2019 (ano-base 2018). As respostas dadas até abril de 2023 apontam que houve uma redução na jornada a valores próximos dos encontrados no período pré-pandêmico. No entanto, médicos generalistas trabalham cerca de quatro horas a mais do que especialistas. Os homens tiveram uma carga horária de 53 horas, quanto as mulheres trabalharam 48. Os mais jovens trabalharam, em média, cinco horas a mais por semana que o grupo acima dos 45 anos.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

Entre os anos-base de 2018 e 2020, o crescimento da demanda de atendimento levou a um aumento médio da carga horária semanal de 3,1 horas. A leve diminuição em 2022 sugere uma estabilização em relação aos anos anteriores. O tempo dedicado a burocracia e gestão foi de 5,3 horas a mais no período de 2018 a 2020 e, em seguida, teve um aumento de 0,7 horas, indicando leve estabilidade. A maioria dos participantes (29%) gasta mais de 25 horas por semana com tarefas além do atendimento ao paciente, tais como burocracia, trabalho gerencial administrativo, participação em organizações profissionais, leitura, pesquisa e ensino. Essa mesma carga de atividades é cumprida por 31% dos generalistas e por 29% dos especialistas.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

A maioria (63%) dos que relataram perdas as relaciona à inflação e à conjuntura econômica atuais. Cerca de 32% citaram eventos relacionados com a pandemia (perda de emprego, redução de horas, de volume de pacientes) como causas da redução nos ganhos.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

Do total de médicos entrevistados, 48% não recebem nenhum benefício trabalhista. Em 2020, essa proporção era de 44%. Comparando o levantamento de 2020 com os dados obtidos em 2022, pelo menos oito benefícios tiveram uma queda de 3% ou mais no número de beneficiados entre os respondentes, tais como o seguro de vida, que era concedido a 13% dos respondentes em 2020, e agora abrange apenas 8% deles. Apenas o número de participantes com plano de aposentadoria sem contribuição proporcional do empregador aumentou (de 9% em 2020 para 11% em 2022). Para 29% dos médicos, o pacote de benefícios recebidos ficou pior. Apenas 5% acham que melhorou, enquanto a percepção de 65% é de que não houve alteração.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

A realização de plantões como atividade complementar foi mais frequentes entre os médicos generalistas (46%) do que entre os especialistas (22%) participantes da pesquisa. Mais da metade dos profissionais que informaram atender em consultório (53%) não exerce atividades adicionais para aumentar sua renda, enquanto 33% dos que atuam em hospital responderam o mesmo.  

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

Nesta questão de múltipla escolha, o detalhamento das respostas mostrou que mais generalistas (20%) do que especialistas (16%) se declararam pressionados pela competição com colegas ou seguradoras que praticam telemedicina. Além disso, mais especialistas (62%) do que generalistas (53%) não se sentem atingidos pela concorrência.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

Mais especialistas (34%) do que generalistas atendem por teleconsulta (25%). A tecnologia é também mais empregada por médicos que atendem em consultório (43%) do que pelos que trabalham em hospitais (23%). No grupo que adota a teleconsulta, 41% registraram aumentos de até 20% nesse atendimento após o início da pandemia. Outros 16% apontaram crescimento entre 21% e 50%, enquanto 26% tiveram aumento da procura acima de 75%. A maioria dos que fazem atendimento remoto (75%) se declarou satisfeita com a experiência da teleconsulta, e 20% dos que ainda não usam esse recurso disseram que pensam em adotar essa forma de atendimento.

As respostas mostraram ainda que o uso de smartwatches e outros dispositivos de monitoramento remoto revelou-se um pouco mais comum entre os generalistas (18%) do que entre especialistas (11%), e é mais frequente entre mulheres (14%) do que entre homens (11%). No entanto, esses recursos são utilizados por 4 em 10 profissionais. A maioria (60%) não utiliza esses dispositivos nem recomenda seu uso.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

Habitação e educação lideram como as principais despesas dos respondentes. Para reduzir gastos importantes, 8% se mudaram, 7% venderam o carro, 1% trocou os filhos de escola, 17% renegociaram ou refinanciaram dívidas e 15% recorreram a alternativas variadas. Porém, 6 em 10 participantes não fizeram nada para reduzir suas maiores despesas.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

50% dos participantes do sexo masculino conseguem poupar ou investir mais de R$ 2 mil por mês, enquanto apenas 32% das mulheres chegam à mesma meta. Entre os especialistas, essa proporção é de 46%, mas cai para 25% entre generalistas.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

No detalhamento das respostas, vê-se que, proporcionalmente, mais especialistas (29%) fizeram investimentos não lucrativos em ações e empresas, em comparação ao grupo dos generalistas (16%). Já no ramo imobiliário, houve investimentos de 13% dos especialistas versus 6% dos generalistas. Entre as mulheres, 29% disseram nunca ter feito investimentos equivocados, enquanto 19% dos homens afirmaram o mesmo. De modo geral, a maioria dos médicos e médicas (69%) nunca teve suporte de um consultor financeiro para organizar as finanças pessoais; 11% receberam essa ajuda no passado, agora não mais, enquanto 20% são atualmente orientados por um especialista em finanças.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

No detalhamento das respostas, chama a atenção que 25% das mulheres consideram gratificante fazer do mundo um lugar melhor, mas apenas 15% dos homens pensam o mesmo. Ganhar bem e fazer o que se gosta foi o aspecto mais importante para 18% dos homens e 13% das mulheres. No campo das dificuldades, a pesquisa mostrou que 22% dos especialistas participantes têm dificuldades na negociação com as operadoras, algo que incomoda cerca de 9% dos generalistas. Esse também um dissabor para 29% dos respondentes que atuam em consultório e 18% dos que trabalham em hospitais. As longas jornadas pesam para 38% dos participantes.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

As condições de trabalho e a renda de uma grande quantidade de médicos (46%) sofreram impactos importantes na pandemia. Além de todas as alterações assinaladas nesta questão de múltipla escolha, os salários de 8% atrasaram de um a dois meses, 3% ficaram sem receber por três a quatro meses e 1% ficou sem salário por cinco meses. No pós-pandemia, metade dos entrevistados (49%) disse que a carga horária voltou ao que era antes. O salário de 16% também voltou ao valor anterior. Mas, para 45% dos respondentes, nenhum dos dois foi recuperado.

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

Nos últimos dois anos, vê-se uma queda importante na proporção de respostas positivas, ainda que a vocação fale mais alto. Essa tendência sinaliza que há questões relevantes afetando a satisfação ou as perspectivas dos profissionais de saúde. Cerca de 43% dos entrevistados recomendariam a medicina aos filhos, enquanto 41% não o fariam. 

Quanto a seguir a mesma especialidade, os resultados mais recentes não diferiram muito das respostas do relatório de 2019 (ano-base 2018): naquela época, 69% escolheriam a mesma especialidade e 31% não. Atualmente, 68% se especializariam na mesma área, 23% teriam o mesmo tipo de trabalho, mas 23% não seguiriam mais o mesmo caminho, descartando ambas as opções. 

Remuneração e satisfação dos médicos brasileiros – 2022

Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

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Mônica Tarantino | 28 de setembro de 2023 | Autores

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