
Remuneração e satisfação profissional dos médicos portugueses – 2022
Entre janeiro e 16 de maio de 2023, médicas e médicos atuantes em Portugal compartilharam algumas de suas informações financeiras e profissionais de forma anônima em um questionário on-line enviado pelo Medscape em português. A coleta de dados foi realizada durante as discussões que levaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar o fim da pandemia de covid-19, em 05 de maio de 2023, e as perguntas relativas ao total anual de ganhos têm 2022 como ano-base.
Em comparação com a pesquisa Remuneração e satisfação profissional dos médicos portugueses – 2020 (dados coletados entre 17 de novembro de 2020 e 16 de fevereiro de 2021), os resultados do levantamento atual mostram mudanças na distribuição de gênero dos participantes da pesquisa. Se há dois anos a presença de homens foi maior do que a de mulheres (54% vs. 46%), agora a participação feminina foi majoritária, com 55% de mulheres e 45% de homens. A maior parte dos participantes (74%) afirmou que trabalha nas cidades de Lisboa, Coimbra e Braga. Setenta por cento disseram atuar em hospitais e 21% em unidades de saúde. Quando perguntados sobre situação trabalhista 85% declararam que atuam como funcionários contratados.
Remuneração e satisfação profissional dos médicos portugueses – 2022
Satisfação financeira
Na pesquisa de 2020, o percentual de participantes insatisfeitos com a própria renda foi de 82%. Os dados de 2022 mostram que praticamente todos os médicos generalistas ou de família (98%) gostariam de ganhar mais. Destaca-se um percentual significativo de mulheres descontentes com a própria remuneração em comparação com os homens: 94% vs. 84%, respectivamente.
Remuneração e satisfação profissional dos médicos portugueses – 2022
Mais horas e mais pacientes
No levantamento de 2020 – dados anteriores à pandemia de covid-19 – a média de horas trabalhadas por semana referidas pelos médicos de Portugal foi de 47 horas. Já os dados obtidos em 2023 indicam um aumento de uma hora nessa média. A diferença entre generalistas e especialistas foi de 49 vs. 47 horas trabalhadas por semana, respectivamente.
Em relação à quantidade de pacientes atendidos por semana, a pesquisa de 2023 indica uma média de 68. No que tange a diferença entre especialistas e generalistas, o primeiro grupo indicou uma média superior (70) à do segundo grupo (56). O número de atendimentos em consultórios (83) também excedeu o de atendimentos hospitalares (54).
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Mais plantões e horas extras
Dois terços dos participantes da pesquisa disseram que estão atualmente engajados em atividades adicionais para complementar os seus ganhos. A opção de trabalhar horas extras foi referida por 22% dos especialistas e por 7% dos generalistas na pesquisa. No caso destes últimos, 44% optaram por dar mais plantões. Entre os especialistas, 28% escolheram o mesmo caminho. No grupo dos plantonistas, 41% têm menos de 45 anos e 18% têm mais.
Remuneração e satisfação profissional dos médicos portugueses – 2022
Diferenças de remuneração
Em Portugal, as mulheres continuam recebendo salários significativamente mais baixos do que os homens na medicina. Em relação aos dados da pesquisa de 2020 a subvalorização aumentou: a diferença média na renda bruta anual entre homens e mulheres era de 12 mil euros. Agora, subiu para 20 mil euros.
Além disso, os especialistas entrevistados relataram ganhar quase o dobro do que os generalistas. Da mesma forma, os médicos que atuam em consultórios ganham mais do que aqueles que trabalham em hospitais.
Remuneração e satisfação profissional dos médicos portugueses – 2022
Maioria manteve estabilidade
Embora uma parte significativa dos médicos tenha conseguido manter seus rendimentos após a pandemia de covid-19, aproximadamente 2 em cada 10 (21%) passaram a receber menos. Dentre estes, 85% mencionaram a inflação e a conjuntura econômica como os principais responsáveis; 16% atribuíram a diminuição de ganhos a pandemia de covid-19, perda de empregos e redução no número de pacientes; e 22% citaram fatores como a decisão pessoal de reduzir a jornada de trabalho e a desvalorização da medicina por parte de operadoras de saúde.
Remuneração e satisfação profissional dos médicos portugueses – 2022
O crescimento da telemedicina
A telemedicina e a concorrência de profissionais não médicos foram mencionadas por 21% dos médicos como fatores que podem ter afetado afeto a renda dos participantes, embora a maioria não tenha considerado a concorrência como uma influência significativa nos próprios ganhos.
É interessante destacar que 45% dos médicos respondentes incorporaram as teleconsultas à prática clínica. Neste grupo, 65% relataram um aumento de até 50% nos atendimentos em função do recurso e 25% mencionaram um aumento ainda maior. No que diz respeito à adoção da teleconsulta, 10% dos profissionais que afirmaram ainda não utilizar o recurso têm planos de fazê-lo.
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Discrepância de expectativas
As diferentes perspectivas e demandas financeiras entre os entrevistados podem estar associadas à ampla variação de expectativas em relação ao que seria uma remuneração apropriada. A maioria dos médicos (38%) indicou que deseja aumentar seus ganhos entre 26% e 50% e 18% informaram que pretendem ao menos dobrar a renda atual (>101%).
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Por onde o dinheiro escoa
Moradia e educação. Dentre as principais despesas mencionadas, "casa própria" foi identificada como a maior delas (59%). A educação surgiu como a segunda maior despesa: 56%. Os gastos gerais com filhos foram identificados como o terceiro maior compromisso financeiro dos participantes da pesquisa.
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O impacto diferenciado dos benefícios
A maioria dos respondentes (62%) não observou mudanças significativas em seus pacotes de benefícios trabalhistas nos últimos anos. No entanto, uma relevante parcela (36%) relatou piora, enquanto apenas 2% mencionaram melhorias. Além disso, 34% dos respondentes afirmaram não receber nenhuma das opções mencionadas.
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Gerenciamento das condições de trabalho
Com base nas respostas dos participantes, a tendência de gestão que se destaca é a busca por aumento da efetividade e produtividade da força de trabalho vigente, em vez da contratação mais funcionários. Isto é evidenciado pela alta porcentagem que indicou a necessidade de aumentar a carga horária dos funcionários atuais (35%), ampliar a meia-jornada para jornada integral (3%) ou chamar de volta funcionários de licença (2%).
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Um ano de estabilidade para a maioria
A maioria manteve a estabilidade, mas 19% sofreram medidas como redução da jornada, congelamento salarial e licença. Os atrasos salariais afetaram uma pequena parcela (4%) dos médicos, sendo que 1% enfrentou períodos prolongados sem receber. Essas tendências apontam os desafios vivenciados durante a pandemia na gestão dos recursos e a necessidade de gerenciar o impacto dessas escolhas na saúde física e mental dos profissionais.
Remuneração e satisfação profissional dos médicos portugueses – 2022
O desafio de poupar ou investir
As respostas sobre poupança e investimentos dos participantes revelam que mais da metade daqueles que conseguem poupar ou investir estão fazendo aportes abaixo de 1.000 euros, o que sugere que muitos podem estar enfrentando desafios na construção de uma reserva financeira sólida, com valores que podem ser insuficientes para atingir metas financeiras de longo prazo.
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Orientação financeira ainda é raridade
A maioria (49%) demonstrou prudência em relação aos investimentos. Um dado interessante é que apenas 7% afirmaram ter atualmente com um consultor financeiro. Essa porcentagem varia ligeiramente entre generalistas (4%) e especialistas (8%), e é uma prática mais comum acima dos 45 anos (9% vs. 5% abaixo dos 45 anos). Quando indagados se já tiveram um consultor financeiro no passado, apenas 2% dos participantes responderam que sim. A maioria dos que investem (91%) nunca teve o suporte de um consultor financeiro.
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Entusiasmo reduzido
Em comparação com as respostas à mesma pergunta feita na pesquisa de 2020, observa-se uma queda no entusiasmo: à época, 64% dos médicos afirmaram que voltariam a escolher a medicina como carreira. Agora, 53% disseram o mesmo. Além disso, foi observada uma redução no desejo de incentivar os filhos a seguirem a carreira médica. No levantamento de 2023, apenas 15% dos entrevistados disseram que recomendariam a medicina aos seus filhos; em 2020, esse número foi de 38%.
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