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Perspectiva dos médicos sobre questões sociais: progressos importantes, grandes desafios

Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

O Brasil está dividido em relação a muitos temas fundamentais para o seu futuro. Buscando contribuir para o debate sobre os desafios sociais que se colocam atualmente no país, o Medscape em português realizou uma enquete on-line com o intuito de identificar as questões sociais que mais preocupam a comunidade médica brasileira.

O levantamento, realizado entre 09 de agosto e 15 de junho de 2022, contou com a participação de 652 médicos e médicas, de 41 especialidades, em atividade no Brasil. A pesquisa abordou temas que foram de violência doméstica a mudanças climáticas, direitos reprodutivos, desigualdades raciais, direitos LGBTQIA+, acesso a saúde, controle de armas e dependência química.

Os participantes foram solicitados a elencar, de acordo com a sua opinião pessoal, a ordem de importância de oito desafios sociais. De modo geral, os resultados indicam que ainda há pouca sensibilidade sobre os efeitos na saúde das mudanças climáticas ou do controle de armas, mas registram progressos no reconhecimento da gravidade social da violência doméstica, por exemplo. Confira os principais resultados nos slides a seguir.

Perspectiva dos médicos sobre questões sociais: progressos importantes, grandes desafios

Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

Faz sentido que o acesso à assistência médica ocupe o topo dessa lista e tenha sido ranqueado em primeiro lugar por 53% dos participantes da enquete. A pandemia de covid-19 sobrecarregou ainda mais os sistemas de saúde, que já sofriam fortes pressões. Agora, esses sistemas precisam dar conta de atendimentos represados e absorver milhares de pacientes com sequelas da infecção pelo SARS-CoV-2.

O destaque à violência doméstica também chama atenção. "O reconhecimento da importância desse problema gravíssimo é um progresso muito importante e que ecoa as mudanças que vêm ocorrendo na sociedade brasileira", disse ao Medscape o médico sanitarista Dr. Gonzalo Vecina, professor da Fundação Getúlio Vargas e da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

Perspectiva dos médicos sobre questões sociais: progressos importantes, grandes desafios

Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

Perspectiva dos médicos sobre questões sociais: progressos importantes, grandes desafios

Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

A prática clínica de 61% dos respondentes foi influenciada por uma ou mais questões sociais abordadas nesta enquete 39% não sentiram nenhuma influência associada às questões sociais aqui abordadas.

Os participantes da enquete com menos de 45 anos foram mais sensíveis ao tema; 73% disseram que as questões sociais abordadas tiveram influência no exercício de sua profissão. No total, 45% dos médicos e 31% das médicas respondentes afirmaram que essas questões sociais não influenciaram as suas atividades profissionais.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

A enquete do Medscape investigou o impacto das questões sociais abordadas na vida pessoal dos médicos e das médicas, bem como de seus familiares, respondentes.

Os resultados mostram que 34% dos participantes nunca se sentiram afetados por nenhum desses problemas na vida pessoal ou familiar. O restante indicou que foi ou ainda é atravessado por uma ou mais das questões sociais acima.

A dificuldade de acesso a saúde foi percebida independentemente da idade dos respondentes. As questões raciais, reprodutivas, de violência doméstica e direitos LGBTQIA+ foram mais percebidas pelos médicos e médicas com menos de 45 anos de idade.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

Nesta pergunta de múltipla escolha, 10% dos participantes indicaram que não sentem nenhuma emoção específica, 3% afirmam que são indiferentes aos problemas sociais brasileiros. No recorte por gênero, 50% das mulheres afirmaram sentir tensão/estresse ao refletir sobre o tema, e 34% disseram que sentem raiva. O otimismo foi maior entre os respondentes mais velhos (14%) do que entre os mais novos (5%).

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

Os resultados do levantamento revelaram uma alta participação dos médicos em atividades que visam mitigar, de alguma forma, o impacto das questões sociais no Brasil. No total, foram minoria (24%) os respondentes que não participaram de nenhum tipo de ação social.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

Ao menos 79% dos médicos e médicas participantes da pesquisa disseram que já conversaram sobre as questões sociais abordadas na enquete do Medscape com os seus pacientes. Pouco mais de 20% nunca o fizeram ou não se lembram de tê-lo feito.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

Entre as razões apontadas para o aumento da dificuldade no acesso a cuidados de saúde, falta de investimento público ficou em primeiro lugar, com 59%, seguido de deterioração na gestão do atendimento (25%) e escassez de médicos e profissionais da saúde em geral (4%). Sessenta e dois por cento dos entrevistados também apontaram uma queda na qualidade da assistência médica. Segundo os respondentes, tal como ocorre na questão do acesso, as principais causas também foram majoritariamente atribuídas à falta de investimento público e às falhas na gestão do atendimento.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

Entre agosto e setembro de 2022, foram realizados 75.525 registros de ocorrência por crimes de violência contra a mulher e, segundo o site G1, mais de 12 mil suspeitos foram presos na segunda edição da operação Maria da Penha, uma ação coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal no início de outubro.

As respostas à enquete do Medscape evidenciam a insatisfação dos participantes com o desempenho da comunidade médica nesse quesito, além da falta de recursos para lidar com o desafio e as consequências da violência doméstica.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

Oitenta e sete por cento dos participantes da pesquisa atendem dependentes químicos, nem que seja ocasionalmente, e 41% perceberam um aumento na quantidade de atendimentos a essa população de pacientes durante a pandemia de covid-19. Os respondentes da pesquisa destacaram a perda de produtividade para a sociedade (20%) e os custos financeiros para as agências públicas (11%) entre os principais danos.

O aumento significativo do abuso de substâncias pela população em geral deixou muitos especialistas em alerta para o risco de uma epidemia de dependência química. Parte da sociedade, os médicos não estão a salvo desse perigo. Entre os participantes da pesquisa, ao menos 64% indicaram que consideram essa questão muito problemática e digna de mais atenção, enquanto 25% afirmaram que não há motivo para tanta preocupação e 12% disseram que não se incomodam com isso.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

No dia a dia do exercício profissional, dois em cada 10 participantes da pesquisa observaram situações de desigualdade racial em seu local de trabalho no tratamento de funcionários. A proporção foi semelhante em relação ao tratamento dado aos pacientes, em que 17% identificaram manifestações de racismo. Cerca de 10% disseram não ter certeza de ter presenciado ou não alguma circunstância associada às desigualdades raciais. Entre os participantes da pesquisa, 11% se declararam pretos ou pardos, 82% brancos, 1% indígenas, 2% asiáticos, 3% outra e 2% não quiseram responder.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

O posicionamento geral dos participantes da pesquisa é um reflexo do pensamento das elites do país. O Brasil é conhecido por sua extrema desigualdade racial e social, com impacto bem documentado na morbidade e mortalidade nessas minorias sociais, considerando o campo da saúde. Em São Paulo, por exemplo, o excesso de mortalidade por causas naturais em 2020, durante a pandemia, foi mais de duas vezes maior na população negra. Reconhecer a existência das desigualdades raciais é essencial para a busca da equidade da assistência médica.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

O elevado percentual de médicos que ainda nutrem um certo ceticismo sobre o perigo das alterações climáticas preocupou o Dr. Vecina. "Os médicos fazem parte da maioria silenciosa e ignorante dos riscos para o nosso futuro, que continua destruindo o planeta. Não é preciso haver furacões, erupções ou tsunamis, basta que a temperatura caia para que as unidades de pronto atendimento fiquem lotadas de pacientes com problemas respiratórios", pontuou o sanitarista.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

No ranking de importância, a preocupação com os direitos reprodutivos apareceu em último lugar. Não é uma questão simples no Brasil: apesar de o abortamento em determinadas situações ser legalizado desde 1940, a realização do procedimento é cercada de empecilhos e dificuldades, e obriga as pacientes a penosos deslocamentos, entre outras inconveniências.

Perguntados se os profissionais que se recusam a realizar abortos nos casos previstos na lei deveriam ser impedidos de trabalhar na rede pública, 29% dos participantes do levantamento feito pelo Medscape responderam que sim, mas a maioria, 60%, se disse contrária a esta possibilidade.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

Em um país onde o acesso ao abortamento é um tema historicamente carregado de emoções, a opinião dos médicos varia muito: 64% dos participantes defenderam a legalização do abortamento, mas boa parte deseja uma legislação restritiva, como os 33% que indicaram que o abortamento deveria ser permitido somente para salvar a vida da mãe ou em casos de estupro ou incesto.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

O reconhecimento dos direitos LGBTQIA+ ficou em penúltimo lugar entre os desafios sociais indicados como mais importantes pelos participantes da enquete, à frente apenas dos direitos reprodutivos das mulheres. Entre os participantes, 39% veem desigualdades no atendimento de pacientes LGBTQIA+, 49% afirmaram que já testemunharam situações desse tipo e 12% disseram que não tinham opinião formada sobre o tema da desigualdade no atendimento a esta população.

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

Na opinião do Dr. Sidney Glina, professor de urologia do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC (SP), a maioria dos médicos não tem o preparo necessário para tratar pacientes LGBTQIA+. "A legislação brasileira evoluiu bastante nesse sentido, mas é necessário que os médicos se atualizem e estudem as especificidades da saúde dessa população. Nós não somos treinados na faculdade para trabalhar com sexualidade, e tivemos uma educação machista. Tudo isso precisa mudar e há um longo caminho pela frente", disse o Dr. Glina, um dos idealizadores da clínica Pluris de medicina reprodutiva, que é voltada ao atendimento da população LGBTQIA+.

Perspectiva dos médicos sobre questões sociais: progressos importantes, grandes desafios

Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

O controle de armas é motivo de grande tensão no país, onde 15% das mortes ocorrem por violência. Nos últimos três anos, o número de armas registradas por caçadores, colecionadores e atiradores quase triplicou, chegando a mais de um milhão.

Os médicos também estão divididos em relação ao tema: 25% dos participantes afirmaram que a população deveria poder ter armas de qualquer tipo, 22% defenderam que o acesso seja apenas a semiautomáticas e 42% afirmaram que população geral não deveria ter arma nenhuma.

Há pelo menos um ponto de consenso: 99% defenderam que os antecedentes criminais do comprador sejam verificados antes da liberação da arma; e 97% consideraram necessário realizar um teste psicológico.

Perspectiva dos médicos sobre questões sociais: progressos importantes, grandes desafios

Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores

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Equipe Medscape | 17 de novembro de 2022 | Autores